Correio de Carajás

Cooperativas de crédito vão na contramão dos bancos e crescem em Marabá

David Reis: “A gente não tem uma visão somente de resultado. O importante, além do lucro, é a conexão com a comunidade”/Fotos: Evangelista Rocha
Por: Luciana Araújo

Em uma cooperativa agrícola, um grupo de pessoas reúne suas produções para serem comercializadas, compartilhando tanto os custos quanto os lucros. É a partir desse espírito de colaboração que também funciona o cooperativismo de crédito, onde o resultado é construído de forma conjunta.

Indo na contramão dos grandes bancos, esse modelo de instituição financeira não tem clientes, mas associados (ou cooperados) que são como os sócios, ou donos, da cooperativa. O objetivo desse modelo é fazer os associados prosperarem, prestando a eles os melhores serviços.

Em Marabá, as cooperativas de crédito têm aberto as portas em diferentes bairros, e o Sicredi é uma delas. Atualmente com quatro agências na cidade – duas na Nova Marabá, uma na Cidade Nova e outra no São Félix – a instituição avança na direção oposta dos bancos tradicionais, que têm fechado agências no município e na região.

Leia mais:

“A gente não tem uma visão somente de resultado. O importante, além do lucro, é a conexão com a comunidade. Isso é intrínseco à cultura cooperativista. É participar dessa sociedade de forma próxima, devolvendo para ela tudo aquilo que a gente conquista enquanto instituição financeira”, garante David Reis, gerente regional do Sicredi em Marabá.

Quando um cliente abre uma conta em uma cooperativa de crédito, ele é inserido como participante do negócio, tem direito ao voto nas assembleias e recebe parte do lucro, também chamada de sobras. No caso do Sicredi, David explica que após as contas da operação serem pagas e os fundos de manutenção abastecidos, o que sobra retorna como dinheiro para o associado. Enquanto isso, nos bancos tradicionais o objetivo é o lucro dos acionistas.

Assim como instituições financeiras tradicionais, o Sicredi oferece linhas de crédito e financiamento para os clientes

E em uma sociedade contemporânea que explora cada vez mais os recursos digitais, manter uma agência aberta custa caro e, em muitos casos, se torna obsoleto. De acordo com Wellington Araújo, diretor do sindicato dos bancários em Marabá, a cidade já teve 23 agências e hoje apenas 17 se mantêm ativas. A desativação mais recente aconteceu em janeiro de 2025, quando a unidade do Itaú localizada na Folha 32 fechou as portas.

Atualmente, o mesmo endereço é ocupado por uma cooperativa de crédito. Mas, elas também estão presentes em outros endereços da cidade. E, se um dos propósitos do cooperativismo de crédito é firmar uma conexão com a comunidade, as cooperativas têm mostrado que é possível avançar no digital sem perder o calor humano do atendimento físico.

Mesmo diante de um cenário em que a digitalização dita o ritmo do setor financeiro, o avanço das cooperativas de crédito em Marabá revela que ainda há espaço para modelos que combinam tecnologia com presença olho no olho e vínculo comunitário. Ao manter portas abertas onde outros encerram atividades, essas instituições mostram que a proximidade continua sendo um valor estratégico e, sobretudo, um ponto de inflexão capaz de abrir caminho para compreender o que, de fato, as diferencia no mercado.

O segmento agro tem seus espaço e produtos específicos no Sicredi

PONTO FORTE

David explica que as quatro agências da cooperativa Sicredi em Marabá não funcionam apenas como instituições bancárias. “É uma casa de negócios, de soluções, aonde o associado vem não somente para desenvolver o negócio do Sicredi, mas para expandir o seu próprio”.

Os serviços são oferecidos tanto para pessoa física quanto jurídica, e quem é do segmento agro também tem seu espaço. Assim como os bancos, eles ofertam produtos financeiros como crédito, investimentos, financiamentos, seguros, consórcios e todo o portfólio tradicional. Para além disso, a responsabilidade social entra em cena.

Programas de educação financeira para crianças e jovens; projetos para o público feminino e para o agronegócio estão sob o guarda-chuva da cooperativa. “Também participamos ativamente das comunidades custeando projetos de instituições filantrópicas. Temos uma atuação direta em que aportamos recursos nesses lugares para fomentar obras sociais”, detalha David.

Nas entrelinhas, as cooperativas de crédito apostam no atendimento e produtos humanizados para prospectar associados, oferecendo não apenas soluções financeiras e fazendo uso de recursos digitais, mas mantendo os clientes fisicamente próximos, tendo agências físicas como referência para as suas necessidades.

Em Marabá, o Sicredi já acumula mais de 20 mil associados. A agência Transamazônica, inaugurada em 2024, já ultrapassa os 2 mil e a do São Félix, instalada em setembro de 2025, beira os 700. David comemora que naquela localidade a comunidade tem buscado pelos produtos, serviços e, principalmente, o atendimento da cooperativa.

COOPERATIVISMO

Cimentado no cooperativismo de crédito, o Sicredi divide seus lucros – ou sobras – entre os associados. Para isso, é preciso adquirir uma cota-capital. O Correio de Carajás apurou que os menores valores giram em torno de R$ 20. Nesse modelo, geralmente quanto mais se usa de serviços (empréstimos e investimentos), maior é a fatia das sobras.

“Então, quando você se movimenta com a cooperativa, tem um retorno financeiro no final do exercício. Quanto mais você se envolver com a cooperativa, mais acesso a recurso financeiro terá. E isso em formato coletivo, porque o cooperativismo é isso: várias pessoas unidas em prol de fortalecer uma instituição que vai prestar esse serviço para elas mesmas”, explica David.

Lá em meados de 2011, quando abriu sua primeira agência em Marabá, o Sicredi enfrentou o desafio de mostrar para o marabaense o que é o cooperativismo de crédito. Cerca de 14 anos depois, apesar da grande aderência, o modelo econômico ainda é estranho para muitos ouvidos. Mas o Sicredi, assim como outras cooperativas, segue fertilizando a terra de Francisco Coelho e colhendo frutos pela cidade.