Nilvan Oliveira é conhecido em alguns municípios paraenses como comunicador. Atualmente, integra a equipe da Rádio Correio FM de Canaã dos Carajás, mas já trabalhou em outras emissoras de rádio e TV em Tucuruí, Curionópolis, Parauapebas e Castanhal. Além dessa atividade, também é professor efetivo de Língua Portuguesa na rede estadual de ensino.
A intimidade com as Letras e com as reflexões filosóficas vem de parte da infância e da adolescência vividas no Ceará. É natural de Sobral, cidade em que nasceu o inesquecível Belchior. Relata que as experiências angustiantes como morador de favelas na capital cearense foram cruciais para desenvolver o senso crítico sobre as relações do homem com o espírito do seu tempo – daí os temas de canções como “Metrópole Noturna” e “Invisível”. Dividido entre sua terra natal e o Pará, estava frequentemente em trânsito até se fixar em Tucuruí no ano de 1999.
Antes disso, sua história com a música tem início quando, entre 15 e 16 anos de idade, ganhou uma fita K-7 de um advogado chamado Luciano, no Bar do Carioca. Ali reuniam-se, às sextas-feiras, alguns funcionários do INSS de Fortaleza. Nilvan, à época, era Menor Auxiliar de Serviços de Apoio do Banco do Brasil. Ao ouvir o conteúdo das gravações, foi tomado de forma arrebatadora pelos versos e pela musicalidade excêntrica de nomes como Alceu Valença, o próprio Belchior e aquele que foi decisivo para que comprasse o primeiro violão: o místico poeta paraibano Zé Ramalho.
Leia mais:Desde então, sabia que precisava expressar suas impressões existenciais por meio da palavra e dos acordes. Começou a compor no mesmo período. Anos mais tarde, já no Pará, aventura-se como todo aspirante a artista, tocando em bares. Muda-se para a região metropolitana do Rio de Janeiro, tentando replicar a trajetória de muitos nordestinos e nortistas, mas volta ao Pará.
Tendo deixado a música e a poesia na gaveta por um bom tempo, priorizou a busca pela formação acadêmica (Letras-UFPA) e os filhos Raphael e Jeremias. Foi em 2019 que decidiu resgatar composições autorais, desempoeirando o sonho. Esse desejo foi gerado quando entrou em estúdio para gravar “Vento do Norte”, música com a qual participou do Festival “Canta Servidor”, em Belém, em 2020.
Das 10 faixas que compõem o trabalho, 9 foram gravadas e produzidas em Jundiaí-SP e uma delas, “Um tiro fatal”, é produção tucuruiense, com Nilvan executando seus próprios arranjos de cordas. A alquimia final e a inclusão dos demais elementos sonoros ficou por conta do produtor Jefferson Costa.
A sonoridade predominante do disco tem influências do bom e velho “pop rock” (o que pode ser conferido na apocalíptica “Marcha do Armagedom”), gênero do qual o músico é fã, e de nomes consagrados da MPB do Nordeste, como Lenine, Zeca Baleiro e outros. Tem do “rock ballad” ao “reggae”.
Os destaques ficam por conta das faixas “Homens de Negócios”, “Filme Barato”, “Invisível”, “Metrópole Noturna” e a música que dá nome ao trabalho, “Contatos Imediatos”. Os arranjos foram primorosamente elaborados, com presença marcante de guitarras, trompete com surdina, violino e violoncelo.
No que diz respeito à temática das letras, as questões profundas da existência roubam a cena: vão desde a solidão cósmica de quem mora nos grandes centros urbanos, passando pela angústia vital, o amor na modernidade líquida, a paixão, as saudades mais ocultas, a invisibilidade social, desaguando em temas escatológicos, na nova corrida espacial, na necessidade de aprovação no ambiente das redes sociais, nas neuroses e em outros tantos. Tudo entrecortado por um olhar crítico e uma poesia com rimas precisas.
A capa do álbum também chama atenção: tem ideias do mundo das HQ’s, como a realidade espelhada, o passado, o presente e o futuro, com uma montagem do designer Luis Ricardo Retouch, que deu vida às propostas do compositor. Ao centro, a emblemática estátua do controverso frade e filósofo italiano Giordano Bruno, erigida no Campo das Flores, em Roma – mesmo local em que foi queimado vivo pelo Tribunal da Santa Inquisição, por discordar das afirmações da Igreja sobre o Universo e outras doutrinas pregadas à época.
É difícil classificar Contatos Imediatos como resultado de um hobby ou produto de uma válvula de escape do poeta como reação às pressões cotidianas. É arte. Arte em sua expressão honesta e com entrega de alma. É vivência amalgamada, vibração criativa materializada em versos e canções. É parte de sua missão de comunicar “a dor que chega, senta, deita, dorme, acorda e fica…”, nesse loop em que vivemos, de busca incessante por prazer, por ter, por compreender os porquês.
Para tirar suas próprias conclusões, vale ouvir cada uma das músicas, que já estão disponíveis em todas as plataformas de streaming.
https://www.youtube.com/watch?v=dVkZmhT-_dk&ab_channel=NilvanOliveira