Correio de Carajás

Conselho da Criança remove vídeo após acusações de “ideologia de gênero”

O vídeo divulgado nas redes sociais mostra o momento de um discurso sobre repressão / Foto: divulgação

Foi divulgado, na tarde de hoje (19), um convite à manifestação “Nosso grito precisa ser ouvido!”, após a repercussão negativa do trecho de um vídeo da campanha educativa “Todos pelos Direitos e Deveres de Crianças e Adolescentes” – promovida pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescentes de Parauapebas (COMDCAP). No vídeo, um membro realiza um breve discurso sobre “não se reprimir”.

Circularam áudios do pastor Matheus Portela direcionando diversas críticas à fala do servidor que, durante o trecho, incentiva que os jovens não se reprimam diante de opressões que sentirem dentro da sociedade, da família ou da escola. Ele completa afirmando que cerca de 15 anos atrás deixou de reprimir a si mesmo e se libertou.

O vídeo gerou revolta ao pastor, que realiza diversas críticas ao interlocutor e em “defesa da família”, afirmando que “enquanto o pai e a mãe estão no trabalho lutando para construir a família, ele fala que qualquer desejo de mudança na escola ou na família deve ser manifestado pela criança”, algo considerado pelo pastor “inadmissível”.

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O religioso ainda afirma que “o rapaz” está “formando cabeça de criança e adolescente que não têm a capacidade de receber esse tipo de informação”, sem identificar qual informação seria, e convoca pais e mães para “reprimir a atitude desse rapaz e desse grupo dele”, concluindo que o governo municipal está “apoiando a destruição da família tradicional” e da “normalidade”.

Em outro áudio, o pastor pede para que as pessoas compartilhem o áudio para “deixar esse rapaz famoso aqui em Parauapebas” e compartilha algumas informações profissionais do servidor. Por fim, chega a afirmar não ter nada contra adultos que já decidiram viver de uma “outra forma”.

O manifesto público “Nosso grito precisa ser ouvido!” convoca aqueles que “se importam com o futuro de nossas crianças” para comparecer à Câmara de Vereadores às 9h dessa terça-feira (20).

Nas redes sociais, o COMDCAP fez uma postagem na qual – se deixando levar pelas críticas dos setores mais conservadores – afirma ter removido o material e realiza uma retratação, ressaltando que “à luz da publicidade viral em torno de um vídeo específico, o qual pela publicação de terceiros sugere a chamada ‘ideologia de gênero’, ressaltamos que esta não faz parte do bojo de conteúdo pedagógico desta campanha”.

A postagem no Instagram não agradou o público conservador, que seguiu atacando o servidor nos comentários / Foto: divulgação

Sem explicar exatamente o teor do vídeo, a nota também enfatiza que “toda a equipe executora zela pela proteção e participação do público alvo, não permitindo arestas para distorções negativas do nosso conteúdo pedagógico, que foi amplamente estudado e aprovado por este conselho, respeitando assim a condição das crianças e adolescentes como seres em desenvolvimento” – ainda que a postura final do Conselho tenha demonstrado receio em enfrentar questões modernas em relação ao direito da criança e do adolescentes.

Aldo Serra, presidente do COMDCAP, divulgou um vídeo onde se retrata em relação às acusações sobre a fomentação da “ideologia de gênero” na campanha / Foto: divulgação

Além disso, a nota não faz nenhuma defesa ao servidor, que sofreu diversos ataques – inclusive, nos comentários da publicação –, onde usuários das redes sociais pedem para que ele seja afastado por estar “disseminando a ideologia de gênero” e “ideologias diabólicas”.
Também foi divulgado um vídeo onde o presidente do COMDCAP, Aldo Serra, nega que a campanha tenha qualquer relação com a “ideologia de gênero”, afirmando que o trecho foi retirado de contexto e pedindo desculpa “às famílias que tenham se sentido ofendidas”, ressaltando que o objetivo da ação é divulgar o direito das crianças e adolescentes, com o enfoque em prevenção às violências. (Clein Ferreira – com colaboração de Ronaldo Modesto)