Correio de Carajás

Conheça o ranking dos municípios “vilões” do HMM

Não é de hoje que os profissionais de saúde do HMM (Hospital Municipal de Marabá) alertam que boa parte de pacientes que chegam àquela casa de saúde é oriunda de municípios da região. E isso acontece, principalmente, porque a maioria das prefeituras não estrutura seus hospitais e acaba investindo apenas em ambulâncias para trazer pacientes para Marabá. E como o Hospital Regional só recebe quem vem devidamente regulado, advinha para onde eles são levados? Isso mesmo, para o já lotado HMM.

E esse crescimento faz com que o município gaste cada vez mais com serviços de saúde. A cada mês, a Prefeitura aplica cerca de R$ 4 milhões para custear as despesas do HMM. Esse valor daria para construir quatro escolas de médio porte no mesmo período.

Ambulância de São Geraldo do Araguaia trouxe paciente na tarde desta sexta-feira, mas o nome do município só está na placa

A pedido da Reportagem do CORREIO, um levantamento feito pelo Departamento de Controle, Avaliação e Auditoria da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) confirma que o Hospital Municipal de Marabá é a principal referência em atendimento hospitalar no sudeste do Pará. 

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Até novembro de 2019, a casa de saúde de urgência e emergência realizou só em procedimentos ambulatoriais, 301.790 atendimentos. Por outro lado, o Hospital Regional, que também atende demanda enorme de 22 municípios da região e oferece diversos serviços, realizou 226 mil atendimentos, mas contando todo os 12 meses do ano passado.

No HMM, a radiografia apresentou o maior índice registrado, com 98.788 exames realizados, a maioria de tórax (12.318) e de perna (6.583). Destaque também para as radiografias de pé e dedo, joelho e crânio, com mais de seis mil casos, cada.

Outros procedimentos que entram na lista dos mais realizados pelo HMM estão os exames de biópsia, mamografia e ultrassonografia.  No caso das urgências em atenção especializada foram mais de 63 mil atendimentos. E as consultas médicas somaram 12.605.

O levantamento revelou ainda que até setembro de 2019, o hospital registrou 3.806 internações e, destas, 1.181, foram de pacientes oriundos de outros municípios, o que representa 31,03% da demanda geral do hospital.

O gestor clínico do HMM, Ednaldo Pereira Araújo, observa que existem pacientes que chegam à casa de saúde sem a regulação, e isso reflete na demanda e Marabá acaba não recebendo o valor que deveria ser pago pelo município de origem do cidadão.

“Isso acarreta um aumento na despesa do município com saúde porque se tem um número a mais de pacientes para serem regulados, eles acabam aumentando a quantidade de cirurgias e internações. Mas o hospital vem lidando com isso da melhor forma possível”, destaca o médico.

Osvaldo Pereira dos Santos, 60 anos, está internado no HMM com quadro de pneumonia. O lavrador do município de São Domingos do Araguaia veio para Marabá, trazido pela irmã, por acreditar que teria boa assistência. “Até agora eu não tenho do que reclamar. Tô sendo bem atendido”, comentou.

A irmã de seu Osvaldo, Ana Maria Tavares, avalia que o HMM já é uma referência para a família, até pela proximidade de casa.

“É onde a gente encontrou uma solução. Ele estava muito mal, pneumonia muito forte, o pulmão todo tomado de líquido, não estava comendo. Aqui nunca faltou a medicação, tomou soro, foi feito raio-x, exames de sangue, dreno, e de lá pra cá ele só melhora”, agradece a costureira.

PRECISA MELHORAR

Por outro lado, a dançarina Rebeca Torres acompanhava, na emergência do HMM, uma prima vítima de acidente na Nova Marabá. À Reportagem do CORREIO DE CARAJÁS, ela disse que ficou assustada quando chegou na manhã desta quinta-feira, 16, ao ver tanta gente chegando ferida ou passando mal, vinda da zona rural de Marabá e também de outras cidades da região. “Tem horas que isso aqui vira um caos total. Sei que precisam logo construir outro espaço para a emergência. Tá muito diferente de sete anos atrás, quando estive aqui”, comparou.

Saúde precarizada nos pequenos incha o HMM

Os municípios pequenos da região sudeste do Pará firmam uma pactuação para trazer pacientes para os hospitais de Marabá (HMM e HMI). Só que nem todos vêm por meio dessa pactuação, que está defasada há dez anos. Isso ocorre por meio da CIR (Comissão Intergestora Regional). Dela, participam secretários de saúde que se reúnem uma vez por mês para discutirem as demandas, tanto da atenção básica, consultas e exames, quanto da alta e média complexidade, que é responsável pela regulação de vagas em leitos dos hospitais.

Marabá reclama que recebe sempre menos do que o oferecido, enquanto os outros municípios alegam que não são atendidos em todas as demandas que enviam.

Em Itupiranga, que lidera a lista da origem dos pacientes que são atendidos no HMM, a saúde deveria ser melhor do que está. O Hospital, considerado de médio porte, só faz atendimentos básicos e quando a situação está um pouco complexa, os médicos usam a chamada “ambulancioterapia”, enviando os pacientes para Marabá.

Por mais de um ano, o Hospital Municipal de Curionópolis esteve fechado e os pacientes corriam para outros municípios e encontravam no HMM, em Marabá, o local com mais recursos para cuidados de urgência, emergência e até mesmo para consultas ambulatoriais.

Nova Ipixuna e São João do Araguaia, cidades menores e que têm hospitais, também mantêm suas ambulâncias sempre funcionando para enviarem pacientes para o Hospital Municipal de Marabá.

Atualmente, a população de São Geraldo do Araguaia está desassistida de hospital, pois o existente na cidade tem mais de um ano que está em obras. Com isso, a demanda de lá se divide entre Marabá e Araguaína, no Tocantins.

Outras cidades de estados vizinhos também aparecem na lista de pacientes. É o caso de Imperatriz e São Pedro da Água Branca, ambas do Maranhão, Araguaína, Araguatins e Augustinópolis, todas do Tocantins.

E como o HMM é um hospital de portas abertas, que atende pelo SUS (Sistema Único de Saúde), não pode negar atendimento a nenhum cidadão. Seja ele de Marabá ou de qualquer outra parte do País e do mundo.

Mas, a estratégia de alguns gestores regionais, mais recentemente, tem sido retirar o nome do município da ambulância que traz os pacientes para o HMM, achando que, assim, poderão ter entrada mais rápida no hospital, se passando por marabaense.