O mês de outubro é rosa. E essa cor não simboliza apenas a delicadeza, mas também permite histórias de superação, determinação, fé e um sorriso largo no rosto. E se tem uma pessoa que expressa naturalmente essas quatro qualidades em Marabá, atualmente, é Francisca da Conceição Rocha, de 37 anos.
Na tarde do último domingo, 6, em meio a uma ameaça de chuva com ventania forte, ela recebeu a Reportagem do CORREIO em sua residência, na Folha 15, onde reside com o marido e o filho de dez anos. E foi logo na sala que ela contou sua história, não para parecer uma heroína, mas para alertar outras mulheres para que se policiem permanentemente para perceber qualquer alteração no corpo que pareça com um nódulo.
Aos 32 anos, em 2014, ela detectou mais de um caroço em uma das mamas, o marido também achou estranho, mas demorou cerca de seis meses para ela ficar alerta e procurar uma ginecologista e, ao fazer sua primeira mamografia, a notícia foi confirmada de forma implacável: tinha câncer.
Leia mais:Francisca conta que quando a médica falou em nódulos, ela não tinha a noção de que se tratava de câncer e que não esperava que fosse uma doença tão cruel, pois em sua família não havia histórico desse tumor. Ela foi com seu filho e a cunhada até São Luís-MA, porque em Marabá não havia muitos recursos. Na capital maranhense realizou uma biopsia e com 30 dias chegou o resultado e constatou-se que ele era maligno.
“Nesse momento, fiquei completamente sem chão, chorei bastante, mas logo sequei as lágrimas e chamei minha cunhada para lanchar. Ela retrucou dizendo ‘como lanchar se você está com câncer?’ Eu respondi rindo que não estava morta, ainda sentia fome. Depois, voltamos para falar com a médica e ela me explicou sobre a cirurgia, já que não seria possível preservar nada. Tive que retirar toda a mama e começar sessões de quimioterapia e radioterapia”, relembra Francisca, com lágrimas nos olhos, mas logo em seguida encontra forças para continuar a entrevista e volta a sorrir.
Dois meses após a realização da cirurgia, o tratamento de quimioterapia foi iniciado, durando cerca de seis meses. Isso porque o tratamento era longo, primeiramente tomando comprimidos de oito em oito dias, depois com doses de 21 em 21 dias, totalizando 16 doses de quimio. Francisca recebeu um mês de descanso e depois iniciou tratamento de radioterapia, com 33 sessões que duraram cerca de dois meses.
“Foi o período mais intenso do tratamento, entre 2015 e 2016, e também o mais doloroso para mim. Mas após tudo isso eu passei a fazer o uso dos medicamentos em casa e fui transferida para a Unacon, em Tucuruí, onde eu fazia retornos, exames e outras consultas para acompanhar a situação, pelo SUS”, conta Francisca.
O DILEMA DA FILHA ALCANÇA A MÃE
Entre 2017 e 2018, a mãe de Francisca, Raimunda Cruz da Conceição Rocha, foi diagnosticada com câncer no colo do útero e fez o tratamento através do Sistema Único de Saúde (SUS) assim como a filha, mas em Belém. Em setembro de 2018, ela não resistiu ao tratamento e faleceu. “Foi uma luta pesada, eu e minha mãe juntas nessa guerra. Mas não nos desanimamos, ela persistiu até onde foi possível, pois quando Deus está à frente, nós conseguimos suportar e vencer as batalhas”, diz ela, confiante.
A VOLTA DA DOENÇA
Em dezembro de 2018, Francisca começou a sentir fortes dores na coluna. Então, no retorno com o médico, aqui em Marabá, ele solicitou novos exames e foi diagnosticada uma metástase em sua coluna. “Foi nas três partes da coluna: cervical, lombar e dorsal. Foi um desespero, chorei muito ao pensar que teria de começar tudo novamente, porque é diferente você tratar a primeira vez quando não tem noção de como é. Na segunda, já é mais doloroso”, relata.
Francisca, que é servidora pública municipal, ressalta que houve restrições médicas nessa nova fase, tendo sido proibida de andar de motocicleta em função da fragilidade de sua coluna, e até mesmo de realizar longas caminhadas, que poderia piorar as dores. “No momento pareceu que minha vida, meus sonhos, tudo se acabava novamente. Mas minha fé em Deus fez com que eu persistisse. Acredito que através do meu médico e das palavras de conforto ele agiu sempre me mantendo mais calma”, alegra-se.
Mais recentemente, em razão da nova medicação que ela passou a tomar, associada com a anterior, Francisca reagiu tão bem que acabou sendo liberada pelo médico para voltar a andar de moto e a realizar outras atividades que estavam limitadas.
Mas ela também aponta o marido (Elinaldo Carvalho dos Reis) e o filho (Emanuel Carvalho Rocha) como duas personalidades importantes em sua trajetória de cinco anos de luta contra o câncer. “Meu esposo, em momento algum, foi indiferente a isso, ele continuou a me amar como sempre e a me deixar tranquila em relação a essa situação. Tanto que ele diz que se eu quiser recolocar (a mama) posso ficar a vontade”, conta Francisca.
Os sonhos
Apesar de toda a tribulação causada pela enfermidade, Francisca diz que tem muitos sonhos para o futuro, como ver o filho formado em curso superior, conhecer seus netos e a possibilidade de Marabá receber estrutura para tratar o câncer.
“É muito importante que esses tratamentos sejam feitos aqui, pois é desgastante sairmos daqui para Belém, ou mesmo para Tucuruí. Sentimos enjoo, passamos muito mal, além dos custos financeiros com transporte até outra cidade, hospedagem, alimentação, banho, tudo isso é gasto. Espero que nossos governantes pensem nessa questão. Seria de grande significado para os pacientes serem tratados em sua cidade”, reflete Francisca. (Zeus Bandeira e Ulisses Pompeu)