Correio de Carajás

Conheça a floresta encantada de Maria dentro de Marabá

O nome dela é Maria dos Santos Araújo, mas pode chamá-la de Maria das Árvores. Tem 65 anos, pressão alta e um derrame cerebral para apascentar. Em geral, uma mulher com problemas de saúde quer o sossego, viver entre médicos e laboratórios. Mas não esta Maria.  Ela parece ter sido feita para plantar, regar e podar (e outros verbos verdes). No Dia Mundial do Meio Ambiente, que transcorre hoje, 5 de junho, o CORREIO DE CARAJÁS enaltece a história desta guardiã de um canteiro público com cerca de 200 metros entre as quadras 2 e 5 da Folha 21, Nova Marabá.

Ali, há cerca de dez anos, ela plantou dezenas de árvores (hoje são 95 ao todo). Junto com um filho adolescente, regava todas elas, pela manhã e à tarde. Maria conta que alguns vizinhos, quando perceberam sua iniciativa, resolveram colaborar e doaram algumas mudas.

No longo canteiro convivem mangueiras (várias espécies), mas ela plantou também mudas de goiaba, jambo, tamarindo, ipê, limão, entre outros. Praticamente tudo vingou e Maria ficou encantada com sua floresta (quase) particular.

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Hoje, o sofrimento dela é mantê-las e evitar que sejam destruídas por alguns vizinhos ranzinzas que jogam lixo e ainda têm a audácia de colocar fogo embaixo de algumas árvores.

Perto da mini-floresta há duas igrejas (uma Adventista e outra Quadrangular) e alguns dos membros, aqui e acolá, invadem o meio-fio e estacionam embaixo das árvores. A guardiã da floresta fica triste, mas tenta fazer abordagem de forma serena, para não causar confrontação com os responsáveis. “Falo para eles que os carros são pesados e destroem as raízes das árvores. Alguns entendem, retiram numa boa, mas há outros que ficam zangados e me dizem que não sou dona da rua. De fato, não sou, mas todos nós deveríamos ser responsáveis”, avalia.

De tanto estacionarem embaixo das árvores, alguns veículos destruíram o meio-fio e facilitam o acesso para outros carros em pelo menos dois pontos. Com toda sua paciência, Maria dos Santos arranja tijolos, faz uma fileira e tenta formar uma nova parede.

Alguns poucos vizinhos da redondeza também não são muito sociáveis com dona Maria e a mandam procurar o que fazer ou “lavar roupa” quando ela reclama por alguma maldade contra as árvores. “Aos finais de semana, elas servem para vários deles, que fazem churrasco e servem almoço para todas suas famílias ali embaixo”, diz.

Ela diz estar cansada de ir à Prefeitura e pedir para o SSAM (Serviço de Saneamento Ambiental de Marabá) e à Secretaria de Obras refazer o meio-fio quebrado, podar as árvores a grama. “Já peguei muito chá de cadeira. Numa época, fui seis vezes para conseguir falar com o senhor Múcio Andalécio. Ele prometeu que mandaria uma equipe aqui, mas isso nunca aconteceu”, lamenta.

O exemplo de dona Maria deveria ser gravado pela Prefeitura, editado e levado para escolas e lideranças comunitárias, podendo ser replicado em outros bairros. Claro, talvez a escolha dela em relação às espécies a serem plantadas, no passado, não tenha sido a ideal para aquela área. Mas dentro de sua limitação, do pouco estudo, já fez muito pelo meio ambiente.

O presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente, Jorge Bichara Neto, reconhece a atitude de Maria dos Santos como exemplar. Disse que já tinha ouvido falar sobre o comprometimento dela com o meio ambiente e chegou até mesmo a passar entre as quadras 2 e 5 da Folha 21 num dia bem cedinho, onde a encontrou regando as árvores. “Num tempo em que a gente vê as pessoas destruindo a natureza, temos de exaltar pessoas que, como ela, plantam e protegem, como se fosse uma extensão de seu quintal”, reconhece Bichara.

Que todo bairro de Marabá tenha pelo menos uma Maria e que elas se multipliquem e tornem esta uma cidade verde e menos quente para seus moradores. (Ulisses Pompeu)