Correio de Carajás

Confira cinco pensadores para citar na redação e somar pontos na prova

Folha de rascunho da Redação do Enem. — Foto: g1

O repertório sociocultural do candidato é um dos aspectos avaliados na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2022 e citar corretamente um filme, série, filósofo ou autor pode contribuir na argumentação da dissertação e garantir pontos extras no próximo domingo (13).

Apesar de defenderem que o aluno não dependa de um repertório “coringa”, professores ouvidos pelo g1acreditam que há referências que podem ir bem em alguns contextos e sugerem uma lista com cinco nomes. (Veja mais abaixo.)

Essa bagagem serve para ajudar o participante a embasar sua opinião e a reforçar sua reflexão sobre o tema proposto de redação.

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Isso é cobrado em uma das cinco competências analisadas pelos corretores, que é a de “selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista”, segundo a Cartilha da redação. Cada uma das competências vale até 200 pontos, totalizando mil pontos.

Confira abaixo sugestões de pensadores para citar na redação do Enem:

 

Descartes

 

  • Pensador da Era Moderna
  • Autor de “O Discurso do Método”
  • Disse a frase: “Penso, logo, existo”.

 

Para Ethel Beluzzi, professora de Filosofia da edtech Stoodi, um nome que o candidato pode ter em mente para citar na redação é o do filósofo René Descartes.

Conhecido por sua inquietação com a incerteza, Descartes questionou seus conhecimentos e crenças para investigar suas bases e desenvolveu o conceito de certeza.

“O resultado desse empreendimento é a famosa frase ‘Penso, logo existo’, na qual ele chega a sua primeira certeza: ainda que seja capaz de duvidar de tudo, ele pode contar com a certeza de que, ao duvidar, ele existe. A partir disso, ele, então, constrói todo o seu sistema filosófico”, explica Ethel.

 

Para a professora, a iniciativa do filósofo de indagar seus saberes pode contribuir para uma redação cujo tema proponha uma reflexão, como no Enem 2020, “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”.

Segundo Ethel, a ideia do filósofo vai de encontro às bolhas formadas na sociedade atual de quem se recusa a duvidar de suas certezas, assumindo uma postura de que está certo sobre tudo e quem discorda está, automaticamente, errado. “Essa atitude também beneficia o contato social e nos aproxima até mesmo daqueles que pensam diferente de nós”, avalia.

E completa: “Ao relembrar a dúvida hiperbólica de Descartes, podemos utilizar na redação todos esses argumentos – que são não apenas uma boa prática filosófica mas também algo muito benéfico para nossa sociedade nos dias atuais.”

Zygmunt Bauman

 

Escritor Zygmunt Bauman — Foto: Divulgação
Escritor Zygmunt Bauman — Foto: Divulgação

  • Sociólogo polonês
  • Conceituou o termo de “modernidade líquida”
  • Autor de “O mal-estar da pós-modernidade”

 

O Diretor de Ensino e Inovações Educacionais da SAS Plataforma de Educação Ademar Celedônio acredita que Zygmunt Bauman possa ser uma boa aposta de referência para a redação do Enem.

“Ele desenvolveu um conceito de modernidade líquida que traz reflexões sobre a fragilidade e maleabilidade em que se encontram as relações sociais, econômicas e de produção no mundo atual (pós-moderno)”, avalia.

 

Por conta disso, segundo Celedônio, estudar as reflexões do sociólogo na preparação do exame pode ajudar o estudante na hora de trazer referências para elaborar uma redação de sucesso com temas relacionados à sociedade, relações humanas e outras temáticas em que caiba a reflexão. Um exemplo é o tema da reaplicação do Enem de 2020: “A falta de empatia nas relações sociais no Brasil”.

“Nos dias atuais, nada mais é tão ordenado, definido ou rígido, como em uma modernidade sólida. Na modernidade líquida, ao contrário, tudo pode mudar, rapidamente, e a qualquer momento.”

Martin Luther King

 

Martin Luther King Jr.: métodos de reivindicação previam desobediência civil e marchas não violentas — Foto: AFP/BBC
Martin Luther King Jr.: métodos de reivindicação previam desobediência civil e marchas não violentas — Foto: AFP/BBC

  • Ativista do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos
  • Fez o discurso “I Have a Dream”,
  • Nobel da Paz de 1964

 

A professora do Laboratório de Redação do Objetivo Maria Aparecida Custódio diz que Martin Luther King Jr. seria uma ótima referência para uma redação cujo tema proponha discussão de cunho racial.

“Imaginemos que o Enem proponha o tema ‘A persistência do racismo na sociedade brasileira’. O candidato poderia introduzir a redação mais ou menos da seguinte forma: ‘O ativista Martin Luther King dizia sonhar com o dia em que seus filhos fossem julgados por sua personalidade e não pela cor da pele. Esse sonho é ainda hoje partilhado por milhões de pessoas que continuam sendo julgadas e sentenciadas com base na cor da pele'”.

 

Segundo a especialista, o aluno pode trazer a frase para o contexto do Brasil ao traçar um paralelo da introdução com o fato de mais da metade da população do país ter raízes em países africanos.

A referência pode ser utilizada também em outros contextos de cor e raça, caso a proposta da redação permita.

Jürgen Habermas

 

  • Pensador alemão, membro da Escola de Frankfurt
  • Estudioso da democracia
  • Autor de “Facticidade e Validade: Contribuições para uma teoria discursiva do direito e da democracia”

 

Thiago Scott, professor de história do Colégio Unificado, sugere que os alunos utilizem como referência o pensador Jürgen Habermas, que dedicou a vida a estudar democracia, espaço público e Estado de Direito.

Como os temas da redação em geral possibilitam uma discussão sobre democracia e cidadania que exijam uma proposta de intervenção, Scott acredita que o nome seria certeiro.

“Habermas sempre se preocupou em discutir as questões que envolvem as minorias, a universalização de direitos e reconhecimento da diferença, pensando a democracia como um procedimento, onde os indivíduos devem discutir publicamente, analisar as problemáticas e deliberar as soluções”, explica.

 

Segundo o professor, os pensamentos de Habermas refletem dilemas contemporâneos da democracia, o que contribuiria para uma redação sobre cidadania, inclusão social, comunicação e democracia deliberativa.

Marshall McLuhan

 

  • Canadense, teórico da comunicação
  • Famoso por defender que “o meio é a mensagem”
  • Cunhou o termo “aldeia global”

 

Em caso de propostas que foquem em comunicação e tecnologia, Rafael Pinna, professor de redação do Colégio e Curso Ao Cubo, acredita que o conceito do pensador canadense Marshall McLuhan de que “os homens criam as ferramentas, as ferramentas recriam o homem” é uma boa referência sociocultural.

“De modo objetivo, a frase significa que os seres humanos criam tecnologias e acabam profundamente modificados por essas mesmas tecnologias. A humanidade, por exemplo, criou a internet e os meios de comunicação de massa, e essas invenções transformaram completamente a comunicação humana, o comportamento das pessoas e a sua relação com o tempo e com o espaço. O mesmo vale para máquinas que o ser humano desenvolveu e que alteraram as suas maneiras de trabalhar, dispensando o uso da sua força física e permitindo, cada vez mais, o home office”, explica Pinna.

Para o professor, o conceito promove uma reflexão profunda da relação do ser humano com seu entorno, o que permite a utilização da frase em outros temas.

“Trata-se de transformação profunda na relação do homem com ele próprio, por isso um repertório extremamente versátil para ser usado em temas de todos os outros eixos, como meio ambiente, questões sociais, saúde, ciência, arte, cultura, direitos, cidadania, educação e economia”, completa.

 

Outras referências

 

Mas o candidato não precisa necessariamente citar um acadêmico ou uma personalidade famosa internacionalmente para ir bem na redação. Nomes de destaque em suas áreas de atuação também podem ser fontes para embasar a sua argumentação.

Marina Rocha, professora de redação do Colégio e Curso AZ e da Plataforma AZ de Aprendizagem, sugere, por exemplo, o jornalista brasileiro Gilberto Dimenstein.

Gilberto Dimenstein — Foto: Jornal Nacional
Gilberto Dimenstein — Foto: Jornal Nacional

“Tem uma frase em que ele fala que ‘só existe opção quando se tem informação’. E muitos dos problemas das propostas do Enem são problemas que têm como influência a desinformação sobre o assunto. Seja sobre o que causa o problema, seja sobre as suas consequências, ou até mesmo sobre a própria existência do problema”, explica.

“Acho que essa referência pode ser usada pelo aluno em diferentes temáticas. De preferência, no desenvolvimento do texto, porque está apontando para uma dinâmica de causa, que é a desinformação”, diz.

 

O aluno pode ir além, e citar uma figura popular, como o streamer Casimiro, e ainda assim garantir uma boa pontuação no critério que avalia este aspecto.

Segundo os professores, o importante é que o aluno compreenda a proposta da redação e coloque uma referência que vá colaborar com a argumentação, cumprindo uma função no texto e não apenas aparecendo aleatoriamente.

Sobre o Enem 2022

 

Tanto a versão impressa quanto a digital do Enem serão aplicadas nos mesmos dias:

13 de novembro (domingo)

  • 45 questões de linguagens (40 de língua portuguesa e 5 de inglês ou espanhol);
  • 45 questões de ciências humanas; e
  • redação.

 

20 de novembro (domingo)

  • 45 questões de matemática; e
  • 45 questões de ciências da natureza.

 

Veja os horários de aplicação (no fuso de Brasília):

  • Abertura dos portões: 12h
  • Fechamento dos portões: 13h
  • Início das provas: 13h30
  • Término das provas no 1º dia: 19h
  • Término das provas no 2º dia: 18h30

(Fonte:G1)