Não é difícil encontrar quem tenha assistido fielmente Supernatural por cinco ou seis temporadas e depois largado a série de mão. O próprio criador do programa, Eric Kripke, tomou essa atitude, deixando o posto de showrunner depois de concluir o quinto ano.
A saga dos Winchester foi originalmente pensada para durar três temporadas e, com o sucesso, ganhou mais duas para concluir o seu arco principal. Depois disso, Kripke foi tocar outros projetos (como as finadas Revolution e Timeless), enquanto os irmãos Sam e Dean continuaram a salvar o mundo, um apocalipse de cada vez, chegando recentemente ao seu 300º episódio e com a sua 15ª já devidamente encomendada.
Salvar pessoas, caçar coisas, é o negócio da família e a série continua fazendo isso, buscando formas de se reinventar ao mesmo tempo em que se mantém fiel ao seu espírito original. Mas como, depois de tanto tempo, Supernatural ainda tem história para contar? É o que investigamos a seguir:
Leia mais:#SPNFAMILY
Além da família ser o cerne da trama – o “negócio da família -, o elenco, a equipe e os fãs de Supernatural se tornaram uma grande família ao longo dos anos. Basta uma visita aos estúdios da série em Vancouver, no Canadá, uma passada por qualquer painel na San Diego Comic-Con, ou uma simples olhada em um vídeo de bastidores,para constatar que a integração entre a equipe é verdadeira, assim como o reconhecimento pelo carinho da sua base de fãs (os hunters). As fotos publicadas nas redes sociais vêm acompanhadas da hashtag #spnfamily, o que não é uma estratégia de marketing, mas a prova de que, nesses quase 15 anos, a série não só mantém um público fiel, mas tem uma equipe disposta a continuar trabalhando junta. É um caso raro, não só na TV, mas na cultura pop como um todo.
LEGADO + CARISMA
“Lebanon”, o episódio 300, contou com o aguardado retorno de Jeffrey Dean Morgan como John Winchester e mesmo o fã que abandonou a série há muitas temporadas deve se emocionar com o reencontro entre pais e filhos. Isso acontece não só pelos anos de história que Supernaturalcarrega nas costas e o apego emocional de quem acompanha essa jornada, mas também pela escolha de um elenco capaz de conquistar o público. Dean Morgan estabeleceu a base com Jared Padalecki (Sam) e Jensen Ackles (Dean), mas o programa soube ao longo dos anos criar outros personagens que foram, aos poucos, se tornando fundamentais. Seja o Castiel de Misha Collins, o Lucifer de Mark Pellegrino, o Bobby Singer de Jim Beaver, o Crowley de Mark Sheppard, a Jody Mills de Kim Rhodes, entre muitos outros. Suas saídas são sempre sentidas e seus retornos celebrados, bem no espírito “família” que é a alma da série.
SEM LIMITES
Supernatural já abordou praticamente tudo o que a narrativa sobrenatural tem a oferecer, se repetindo ao longo dos anos, mas também criando fundamentos para a sua própria mitologia. No desafio de encontrar justificativas para a importância dos Winchester no destino da humanidade, a série encontrou caminhos interessantes, como os Men of Letters, e, mais importante, nunca cansou de brincar com o próprio universo. O episódio 300 é um lembrete disso, com os Winchester entrando em uma loja de “antiguidades” e descobrindo novos velhos artefatos, como um Bafo de Dragão. Depois de evitar o fim do mundo muitas e muitas vezes, ir ao inferno e voltar, a verdade é que não há limites para o que Supernatural pode fazer e esse é um dos motivos que fizeram muita gente abandonar a série, mas também é um dos segredos da sua longevidade.
FÓRMULA SIMPLES, POSSIBILIDADES INFINITAS
Ao mesmo tempo em que não há limites para a sua trama, Supernatural também se mantém sobre linhas simples. “Salvar pessoas, caçar coisas, o negócio da família” é o lema dos Winchester e também a fórmula que garante equilíbrio ao seriado. A trama do episódio 300 é um bom exemplo: uma pérola mágica permite um emocionante jantar em família, mas cria uma ruptura no espaço-tempo. Tudo muito simples e também complicado, sustentado principalmente pelo carisma do elenco e a conexão emocional criada com o público.
Essa mesma simplicidade dentro de tantas possibilidades narrativas é o que permite com que a série saiba brincar consigo mesma. Não só pelos já tradicionais episódios especiais, que todo ano levam a uma nova forma de experimentação (passando por uma homenagem a Feitiço do Tempo, paródias de séries de TV, exercícios de metalinguagem e até um encontro com Scooby-Doo), mas também nos capítulos que simplesmente tratam de uma missão, longe do arco principal, que permitem, não importa a temporada, o embarque em uma aventura dos Winchester. Supernaturalé, antes de tudo, uma série procedural que sabe aproveitar o seu formato, podendo ser assistida sem tanta dependência. Uma vez que se conhece os Winchester fica fácil acompanhá-los, independente da temporada.
UMA SÉRIE SATISFEITA DE SER O QUE É
Passados 300 episódios, é possível entender quem ficou cansado. A oferta de séries nunca foi tão grande e mais de 20 episódios ao longo de 14 anos é realmente pedir demais para boa parte do público. Além disso, quando se salva o mundo mais de uma vez, o feito se banaliza, assim como as ameaças. Porém, a motivação para continuar acompanhando Supernatural é outra. Com tantos episódios, um elenco carismático e uma base de fãs fiel, a importância da série não está nos arcos muitas vezes questionáveis construídos para amarrar suas temporadas depois da saída de Eric Kripke, mas no recheio que estabelece ano após ano, completamente ciente do que é: um road movie familiar com toques de terror, fantasia e humor.
A essência de Supernatural se mantém até hoje e a sinceridade com que o programa constrói seus capítulos, brincando com diálogos e soluções narrativas, sem nunca esquecer de experimentar algo novo, torna qualquer contato de quem é ou foi fã bastante prazeroso. Se a série ainda tem história para contar é porque está disposta, o que Dean deixa claro para Sam ao final de “Lebanon”: “Estou satisfeito em ser quem eu sou, estou satisfeito com quem você é. Somos donos das nossas vidas e talvez eu esteja muito velho para querer mudar isso”.
(Omelete)