Nascido e criado na Rua 7 de junho, na Marabá Pioneira, Djonaltan Costa Araújo, 32 anos, é hoje um dos três principais árbitros do quadro da Federação Paraense de Futebol (FPF). Com o destaque alcançado, acabou sendo projetado no cenário nacional e, no último final de semana, retornou de uma formação sobre VAR, oferecido pela Confederação Brasileira de Futebol.
Em entrevista de 40 minutos ao repórter Ulisses Pompeu, no último domingo, 27, Djonaltan fala de sua trajetória com o apito, as pessoas que lhe influenciaram na carreira e projeta o futuro para os próximos anos. Nesta terça-feira, 29, ele já está em Belém, onde vai atuar logo mais, à noite, no confronto entre Remo e Tuna, pela semifinal do Campeonato Paraense.
Leia mais:A seguir, acompanhe a íntegra da entrevista e assista ao vídeo junto com a Reportagem no Portal Correio de Carajás:
Correio de Carajás: Quando alargou as fronteiras e começou a apitar em outros municípios pela Federação Paraense?
Djonaltan Costa: Foi em 2009, quando a Federação me colocou para apitar jogos intermunicipais aqui na região. Arbitrando essas partidas, criei uma identidade, que fez com que a associação apostasse em mim e começasse, em 2010, a me colocar como árbitro reserva de jogos do Campeonato Paraense da Primeira Divisão. Recebi a função de 4º árbitro, para levantar placas, o que ocorreu também no meu primeiro RexPA, em 2011.
Em 2012, fiz minha estreia no Campeonato Paraense na Segunda Divisão, apitando como árbitro central. E em 2014, com o time Águia de Marabá na Série C, se fez necessária uma vaga em Marabá para a CBF. No mesmo ano, em julho, após passar nos testes e avaliações, eu ingressei na Comissão e comecei a rodar o Brasil sendo árbitro de jogos da Série D do Campeonato Brasileiro. Mas o primeiro foi em Macapá, na partida entre Princesa de Solimões e Santos de Macapá.
Correio de Carajás: Quais seus objetivos daqui para frente?
Djonaltan Costa: Dentro da CBF, nós temos um plano de carreira, voltado para quatro pilares: o mental, social, técnico e físico. Contando com o apoio de uma psicóloga da Confederação, fazemos um planejamento com objetivos, metas e estratégias. Em 2020, quando concentrei meus propósitos nesses fundamentos, posso dizer que já tinha tudo estabelecido para 2021, um projeto de curto, médio e longo prazo. Concretizando assim minhas metas nesse exato ano. Participei pela primeira vez de um curso na sede da CBF, estreei na Série B do Campeonato Brasileiro, fiz a abertura do primeiro jogo. Dessa forma, no ano passado, eu já havia planejado 2022, mantendo uma regularidade na Série B, fixando meu nome na mente do público e da imprensa, tendo em vista a importância de ser lembrado, e agora, almejo arbitrar a Série A.
Correio de Carajás: Assim como a carreira de jogador, a de árbitro tem data de validade. Até que idade a confederação permite um árbitro apitar?
Djonaltan Costa: Hoje, no Brasil, nós temos um exemplo a seguir, que é o árbitro Marcelo de Lima Henrique, da Federação do Rio de Janeiro e saiu da FIFA há quatro anos. Aos 50 anos, passou nos testes físicos, nas avaliações teóricas, consegue receber o jogo da comissão e entregar de maneira tranquila, porque tem credibilidade, além de atuar com regularidade. Diante disso, a FIFA, que há dois anos estabelecia uma idade limite de 50 anos, percebendo que árbitros desse nível poderiam contribuir um pouco mais para o futebol, decidiu estender algumas exceções à idade máxima de 45 a 50 anos.
Correio de Carajás: Como você lida com os erros de arbitragem?
Djonaltan Costa: Quem está do outro lado da televisão, do rádio ou até mesmo nas arquibancadas, não entende o que se passa na nossa cabeça e se não tivermos um equilíbrio mental, as críticas aos erros de arbitragem podem interferir nos próximos jogos. Tenho um exemplo recente que aconteceu no ano de 2021. Fui responsável por apitar o jogo entre Remo e Águia em Marabá que ficou empatado em 1×1 e o Azulão teve um gol anulado no final, pelo assistente.
Essa situação considero ter sido mal interpretada, devido ao ângulo das câmeras, e da falta de um VAR. Além do assistente ter sido bastante condenado pelo público e pela imprensa, eu também sofri duras críticas dos torcedores, que não sabem que em uma situação como essa, segundo a regra 11, um árbitro não pode intervir, visto que se trata de um posicionamento fidedigno ao assistente.
Meu ombro amigo nessa situação especifica, e em outras, foi e sempre será minha família, pois apesar de existir uma dedicação intensa da minha parte, nos treinamentos, todos nós estamos sujeitos a erros e condenações. Cabe a mim também filtrar o que é positivo e o que é negativo dessas situações para que não me abale e ao invés de prejudicar os próximos jogos, me fortaleça.
Correio de Carajás: Você disse que tem acesso a psicólogos, através da CBF. É disponível também o atendimento online, caso seja necessário?
Djonaltan Costa: Há uma psicóloga disponível, presente ou remotamente, a todos os árbitros. Recentemente, antes do curso que estou fazendo atualmente, eu agendei uma sessão e a fizemos de forma online. Algo que facilita tanto para os mediadores, quanto para a profissional, que também precisa atender outros como eu. Nessas sessões que podem durar 40 a 60 minutos, é utilizada a psicologia do esporte, voltada exclusivamente para a arbitragem. Aprendemos como conviver com os erros, lesões, frustrações. Um trabalho mental que, posso dizer, mudou minha vida, vez que não trata apenas da minha vida profissional, como também a pessoal. Não são todos que tem essa terapia, porque ela está apenas disponível, não é obrigatória.
Correio de Carajás: Como é o treino físico exigido pela CBF para seus árbitros?
Djonaltan Costa: Há um instrutor físico disponibilizado pela CBF, e outro pela Federação Paraense. Para mim, que resido em Marabá, não é tão fácil acompanhar os treinos toda as terças e quintas-feiras em Belém, mas como também sou professor de educação física, treinar todos os dias da semana e adaptar os treinos oferecidos na capital, além das dietas especiais. Querendo ou não, o árbitro profissional precisa enxergar a vida de treino de um jogador como um referencial. Corremos cerca de 12 km por jogo.
Correio de Carajás: Você acredita que, por apitar jogos estaduais, sem o VAR, estará em desvantagem quando precisar arbitrar um jogo que tenha esse assistente?
Djonaltan Costa: Essa ferramenta, utilizada desde 2019, é uma realidade. O fato de o Campeonato Paraense ainda não ter agregado o VAR, faz com que nós, árbitros, estejamos em desvantagem diante daqueles que já são acostumados a apitar com o assistente de vídeo. Desvalida que tenhamos treinado por semanas, simulando situações reais, homologados pela FIFA, pois sempre existirá a preferência por aqueles que já são acostumados com o árbitro assistente de vídeo.
Correio de Carajás: Como você divide seu tempo entre trabalho como professor, treinos, viagens e família?
Djonaltan Costa: É de extrema importância a compreensão dos familiares para com as obrigações do meu trabalho. Não são todas as datas importantes, como os aniversários e Dia das Mães, por exemplo, que poderei comparecer. Às vezes ocorre de eu ficar até 12 dias fora de casa e sem o entendimento dos parentes, se torna algo inviável porque não depende de mim, faz parte da minha vida profissional.