A segunda bebida mais consumida no mundo é também aquela que hoje serve como instrumento para aproximar ainda mais as pessoas. A pergunta “vamos combinar um café qualquer dia desses?” poderia ser considerada universal quando o assunto é marcar encontro com pessoas queridas ou uma reunião qualquer.
O Brasil é considerado hoje o maior produtor de café do mundo, de acordo com a Organização Internacional do Café (OIC). Segundo pesquisas divulgadas pela Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), a bebida é consumida em 97% dos lares brasileiros, perdendo apenas para a água.
Mas sua pulverização e popularidade ao redor do planeta foram resultado de um processo de muitos anos. Hoje, o café está inserido em um universo cheio de complexidade, com cuidados que muita gente nem imagina. “Café não é só café”. A frase que deu origem a um curta metragem sobre o fruto foi lembrada pelo barista da Nestlé/A Renan Dantas ao ser perguntado sobre as particularidades da bebida – que são inúmeras.
Leia mais:Original da Etiópia, diz a lenda que o café foi descoberto por um pastor africano após observar que suas cabras ficavam muito alegres e cheias de energia depois que mastigavam esses frutos até então desconhecidos. A Europa foi responsável por disseminar o alimento. A tradição de se tomar um cafezinho como vemos hoje se popularizou a partir de 1450 e evoluiu muito até os dias de hoje, em que são encontradas centenas de variedades do fruto.
“Hoje, o café está atrelado a uma experiência. O consumo dele se engrandeceu nos últimos anos tanto quanto o da cerveja. São diversas opções que o consumidor tem. Percebemos atualmente que há uma preocupação com a qualidade do que está sendo tomado, além do interesse do público em saber mais sobre isso. O café e a forma como tomá-lo foram evoluindo com a história, assim como a sua qualidade”, ressalta Renan.
CAFÉ ESPECIAL
Mas o que é um café de qualidade?
O barista explica que são mais de 300 variedades possíveis dentro de duas espécies mais comercializadas: Arábica e Canephora – a segunda possui o dobro de cafeína da primeira, que é mais encontrada nos cafés especiais. Falar sobre o que é um café de qualidade é algo complexo quando se tem tantas opções disponíveis. Mas o fato é: o café se tornou coisa séria e estudada, desde a sua plantação, passando pela torra, até chegar à forma como consumimos.
Para qualquer leigo, cafés são todos iguais, só se percebe quando um é mais fraco ou mais forte. O que muita gente nem imagina é que há cerca de 40 anos um novo mercado surgiu e tem dominado o cenário: o dos cafés especiais.
Esse ‘novo’ universo conta com personagens interessantes, muitas vezes desconhecidos do público, que fazem a diferença para que a bebida chegue a seu formato final e agrade o paladar de diferentes pessoas. Cientistas, baristas, provadores profissionais, mestre de torras, universidade especializada no assunto e até campeonatos compõem essa atmosfera, com tantas peculiaridades e detalhes.
Um ‘café especial’, como explica Boram Um, Head de Controle de Qualidade da cafeteria Um Coffee co. em São Paulo, é chamado assim após um processo de avaliação, que conta com profissionais chamados de ‘Q Grader’ (avaliador de qualidade), gabaritados especificamente para dar notas aos frutos. Seguindo um protocolo internacional, esses avaliadores analisam diversos aspectos como fragrância, acidez, corpo, qualidade do sabor e dão uma nota. Se ela for superior a 80, o café é considerado especial.
“Não é por sorte ou apenas natureza. Existe um trabalho muito minucioso do produtor que vai conduzir todo o processo para se chegar a um café especial. Tudo influencia na qualidade da xícara. É preciso ter um método de pós-colheita muito bem feito, com uma técnica aplicada corretamente. O trabalho começa na escolha da região, passa pela seleção das sementes que serão plantadas até o processo de colheita, que é feita com todo o cuidado. E ainda há um caminho longo até chegar ao cliente da forma como é servido”, ressalta Boram.
A cafeteria Um Coffee co., assim como outras desse segmento, foi fundada em 2017 com a proposta de trabalhar apenas com esses cafés especiais. A família Um, proprietária do estabelecimento, vivencia todas essas etapas de perto, desde o plantio, na fazenda própria em São Gonçalo do Sapucaí, no Sul de Minas Gerais, até as xícaras que são servida para seus clientes.
COMO ESCOLHER UM BOM CAFÉ
Apesar das inúmeras cafeterias espalhadas pelas principais cidades do país, o costume de fazer um cafezinho em casa nunca será perdido. Mas com milhares de opções disponíveis no mercado, como escolher um café de qualidade? Justamente com o objetivo de nortear e proteger o consumidor, a ABIC desenvolveu “selos” para ajudar nesta escolha.
Monica Pinto, nutricionista e coordenadora de projetos da entidade, ressalta que é preciso tomar cuidado para não confundir pureza e qualidade na hora da compra. “O selo de pureza, criado em 1989, garante que todos aqueles produtos disponíveis na prateleira dos mercados sejam apenas café, sem nenhuma irregularidade e adulteração. Uma avaliação microscópica é feita para avaliar essa pureza. Um outro selo, criado em 2004, avalia a qualidade destes produtos”, explica.
A ABIC desenvolveu uma metodologia de análise sensorial realizada por especialistas treinados onde o café é classificado em 4 (quatro) Categorias de Qualidade: Extraforte, Tradicional, Superior e Gourmet. Numa escala de 0 a 10 pontos, quanto maior a nota melhor é a qualidade.
Atualmente são mais de 1.000 marcas certificadas sendo 47% delas produtos premium. Após ter em mente como é feita essa seleção de qualidade, é hora de procurar a marca que mais lhe agrada. Para isso, a especialista deu algumas dicas:
- 1) Verificar se o café possui algum tipo de certificação. Ela aconselha a experimentar mais de uma marca para ver qual atende melhor, uma vez que sabor e aroma são muito pessoais;
- 2) Optar por embalagens que preservem mais o café, verificando sempre a data de validade, com fabricação mais recente;
- 3) Comprar tamanho de embalagem de acordo com a quantidade que costuma consumir, para ter um café sempre fresco. Depois de aberta a embalagem só dura 30 dias – lembrando que o café não é perecível, mas ele é consumido pelo seu sabor e aroma e estes vão se perdendo pois são voláteis;
- 4) Caso haja possibilidade de moer em casa, optar pela forma em grão, pois tem o aroma e sabor mais preservado.
Giuliana Bastos, co-criadora da São Paulo Coffee Fest e criadora do Grão Coletivo, um coletivo de cafeterias e microtorrefações de todo o Brasil, exalta a qualidade das marcas dos cafés brasileiros à disposição hoje.
“Difícil falar de uma maior. Há grandes marcas tradicionais que criaram linhas para o café especial como Três Corações, Nestlé, Melitta e outras de médio porte, como Santa Mônica, Orfeu, Bravo, Octavio Café e Santo Grão. É muito arriscado elegermos uma melhor com uma diversidade tão imensa, além de ser uma questão muito pessoal, assim como vinhos. O importante é saber que há muita opção de qualidade tanto em supermercados, quanto em cafeterias, microtorrefações, espaços físicos, sites, Instagram e até pelo Whatsapp”, diz.
Com tanta variedade e sem a possibilidade de uma resposta concreta sobre ‘qual o melhor café?’, o jeito é colocar a água para aquecer e experimentar o máximo possível para ver qual irá o apetecer.
CURIOSIDADES
– Há registros que mostram que o café começou a ser consumido por volta de 575 d.C.
– Segundo a história, a primeira cafeteria do mundo foi a Kiva Han, que surgiu na Turquia por volta de 1475.
– Os cafés chamados ‘especiais’ têm um cuidado todo minucioso desde seu plantio e são selecionados manualmente por profissionais dedicados apenas a isso.
– O Brasil é o maior produtor de café de acordo com a com a Organização Internacional do Café (OIC).
– É necessário esperar de três a cinco anos para um pé de café começar a gerar frutos.
– Há mais de 300 variedades de sementes de café.
– Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), houve um aumento de 35% no consumo de café no Brasil durante o primeiro mês da pandemia.
– Há diversos campeonatos envolvendo o ‘mundo’ do café. Um deles, ‘Cup of Excellence’, feito no Brasil em 2018, elege os melhores. Um café brasileiro, campeão de uma categoria, foi leiloado por US$ 143 por libra-peso, o que corresponde a US$ 18.916 por uma saca de 60 kg. Esse foi o maior preço pago por um café cultivado no Brasil. Cotado a R$ 3,8575 na época, o lote campeão recebeu aproximadamente R$ 73 mil por saca.
MITOS
Vou tomar um café expresso para acordar.
Ao contrário do que muita gente pensa, o café expresso contém menos cafeína do que um café coado. “Quanto mais a água estiver em contato com o pó, mais cafeína é extraída dele. No caso, o expresso possui um tempo muito menor do que o coado, consequentemente, ele tem menos cafeína. As pessoas acreditam que tenha mais pelo sabor ser mais intenso”, ressalta Boram.
‘Café do Brasil não tem qualidade.’
“Geralmente existem vários mitos sobre a qualidade do café brasileiro. Sempre foi mal visto no mundo todo por ser um café produzido em alta escala. Entretanto, o país está cada vez mais liderando o mercado de qualidade, fazendo um trabalho de excelência com seus produtores.”
‘Café na geladeira’
De acordo com o Head de qualidade da Um Coffee co., esse é um mito que muita gente repete.
“Café torrado não deve ser guardado na geladeira, a não ser que esteja muito bem isolado da umidade”, enfatiza.
‘Café bom precisa ser tomado sem açúcar.’
O café convencional, pelo ponto de torra, é muito amargo, por isso as pessoas adoçam muito. O café especial deve ser consumido sem porque ele tem todas as características para ser tomado dessa forma. Mas gosto de ressaltar sempre: o café tem que ser tomado do jeito que você mais apreciar, com ou sem açúcar, finaliza.
(Fonte:CNN)