Há cerca de dois meses, Marcos Antônio Costa, 16 anos, começou a frequentar uma escola de bateria. Com o objetivo de incentivar a musicalização no jovem, que ao sentir a vibração de determinados sons fazia repetições e movimentos com as mãos, o pai, Odivaldo Costa, resolveu matricular o filho para ver quais os resultados a música traria ao menino.
E não deu outra. Marquinhos, como é carinhosamente chamado por todos, está tendo uma evolução sur-pre-en-den-te.
Para o professor Walkimar Guedes, pedagogo, músico e especialista em educação musical, é importante perceber que a música não pode ser tratada de uma forma evasiva. “A gente não pode, simplesmente, trazer a nossa perspectiva de ouvinte. Estamos quebrando padrões impostos pela sociedade, que surdo não pode ouvir música”.
Leia mais:Ele explica que quando uma pessoa tem um sentido a menos, ela costuma aguçar outro. Os surdos, por exemplo, desenvolvem a sensibilidade tátil, através da vibração e da visão.
“Estamos estudando a forma que vamos trabalhar com ele de acordo com as respostas que ele vem trazendo, como o que ele gosta e o que não gosta. Tem algumas atividades que não dão certo. Trabalhamos estímulos e repetições. O Marquinhos teve uma melhora muito grande nesses poucos meses”, afirma.
Walkimar já desenvolveu diversos trabalhos com surdos e sabe da importância que essa arte desenvolve nas pessoas, principalmente as especiais.
Trabalhando de forma inclusiva e desenvolvendo metodologias individuais para cada um, a música consegue trabalhar a socialização, o desenvolvimento psicomotor, trabalhos em grupos e comunicação.
“A musicalização é como entende-se, a grosso modo, como se fosse a alfabetização. Todas as pessoas precisam ser musicalizadas assim como são alfabetizadas”.
Com a palavra, o pai…
“Foi Deus quem colocou o Marquinhos nas nossas vidas. Temos dois filhos mais velhos, mas cremos que fomos selecionados por Deus pra cuidar dessa vida que veio nos ensinar a valorizar a vida, as pessoas e a entender um pouco mais deste mundo. Com ele a gente foi quebrando barreiras sociais e familiares”.
Para o pai, a escola de bateria foi uma mudança essencial na vida do Marcos. Ele explica que o filho sempre teve o ouvido aguçado, gostava de brincar marcando os sons, foi então que decidiu comprar uma bateria, mas o menino nunca havia ido até o instrumento.
“Desde que começaram as aulas aqui na escola, ele pega as baquetas e vai para a bateria tocar. Um dia que ele acordou antes das 7 horas da manhã e ia tocar. Falei ‘não, nossos vizinhos são bons, mas não tanto”, relembra o pai aos risos.
Odivaldo, que já sofreu na pele a falta de preparo e inclusão em algumas instituições de ensino, é só elogios à escola de bateria, onde o filho é recebido e tratado da forma correta.
“A inclusão social não é só matricular o aluno, é preparar-se para trabalhar com esse aluno. Na época de leva-lo à escola pela primeira vez, nenhuma instituição queria aceitar o Marcos por conta do down e da surdez”, relembra.
Sobre ser pai de Marcos
“É superar barreiras. É crescer como pessoa. Sou muito feliz em ser pai do Marcos Antônio. Ele é uma bênção nas nossas vidas”, finaliza. (Ana Mangas)