Correio de Carajás

Com sentimento de segurança renovado, alunos de Marabá voltam às aulas

Na Escola Silvino Santis, a quantidade de estudantes que compareceu às aulas surpreendeu a direção/ Fotos: Evangelista Rocha

O retorno às aulas para o segundo semestre do ano letivo aconteceu nesta quarta-feira (2), em algumas escolas de Marabá. O Correio de Carajás visitou seis instituições do município, para saber como está a movimentação e também questionar qual o sentimento em relação à segurança dos estudantes, depois de um primeiro semestre de tensão.

Ainda que no calendário escolar esta tenha sido a data escolhida para a volta dos alunos às salas de aula, algumas instituições de ensino optaram por adiar esse momento. Das seis escolas visitadas, entre públicas e particulares, três delas ainda estavam com os corredores vazios.

E é justamente nesse quesito que a Escola de Ensino Fundamental Silvino Santis (Folha 33, Nova Marabá) surpreende. De acordo com Silvia Mônica de Oliveira, gestora escolar, a quantidade de estudantes que foram para a escola foi acima do esperado. “Geralmente na primeira semana de retorno às aulas vem menos alunos e por ser em uma quarta-feira, eu esperava até um pouco menos. Veio um pouco mais da metade”.

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Diretora Silvia Mônica destaca que a sensação de segurança é sentida desde junho

A escola possui 502 alunos, divididos em 18 turmas do 1º ao 5º ano, nos turnos matutinos e vespertinos. E é exatamente por abrigar crianças tão novas, que a segurança da instituição se torna uma pauta importante.

Há quase quatro meses, em abril, Marabá – e todo o Brasil – mergulhou em um clima de medo e insegurança, motivados pelos atentados realizados em escolas de alguns estados, atos que ensejaram falsas ameaças de ataques em algumas escolas marabaenses.

Neste retorno, a proteção das crianças e de todos os profissionais que atuam em escolas não foi esquecida. “A Guarda Municipal (GM), integrada com a Polícia Militar (PM), está se preparando para fazer rondas escolares”, afirma Jair Barata Guimarães, secretário Municipal de Segurança Institucional. Ele detalha que os agentes da GM farão as rondas em algumas escolas do município, enquanto a PM cuidará das estaduais. “Estamos prontos e já preparamos todo o nosso pessoal, material, viaturas, para podermos fazer esse trabalho nas escolas.

Além das rondas, ocorrerão palestras educativas nas instituições, através do projeto “Aprendendo com a Guarda” e na EMEF Cristo Rei (Travessa Carajás, Jardim União, Núcleo Cidade Nova) um programa piloto está em execução.

Na Silvino Santis, além das medidas listadas por Jair, a gestora Sílvia Mônica compartilha algumas ações que realiza a fim de garantir a proteção na escola. “Ainda tomamos cuidado, não deixamos os pais ficarem entrando, por questões de segurança mesmo”, e afirma que o clima de vulnerabilidade foi superado desde o mês de junho.

REGRESSO ANIMADO

No Colégio Claretiano, Folha 31, Nova Marabá, a equipe escolar optou por dar boas vindas de um jeitinho bem brasileiro: com uma TV, para que os estudantes assistissem ao jogo da Seleção Brasileira de Futebol Feminino (que empatou em zero a zero com a Jamaica e foi eliminada da disputa). “Nós já abrimos a escola com um telão, os meninos assistiram ao jogo porque temos de valorizar também essa questão das mulheres”, conta Patricia Barbat de Campos, coordenadora da instituição.

No Claretiano, Patricia Barbat conta que há uma rede de apoio formada entre pais e instituição

Assim como Silvia, a sensação dela é de que retomar as atividades no meio da semana, não impactou na quantidade de alunos que foram para a escola. As salas ficaram lotadas pelas crianças e jovens que chegaram às 7h30 da manhã. “Aqui nós temos aquele carisma Claretiano, com o qual recebemos nossos alunos desde a portaria”.

E quando se trata de segurança, Patrícia destaca que o colégio possui monitoramento interno de câmeras, além de serem rigorosos com as pessoas que têm permissão para ultrapassar a portaria e adentrar no prédio. “É uma escola extremamente segura, as pessoas entram até ali na recepção, são bem recebidas, mas é ali que para. Estranhos não entram na escola”, explica.

Ela ressalta as rondas realizadas pela GM e pela PM, bem como a rede de apoio formada pelos pais de alunos, que ocupam cargos em instituições de segurança do município. “Quando aconteceu as ameaças de violência, nós fomos muito abraçados pelas famílias, em relação a toda essa questão”, finaliza.

NO JUDITH GOMES

Indo na contramão das outras duas escolas, na Escola Judith Gomes Leitão, localizada na Travessa Santa Teresinha, Núcleo Marabá Pioneira, alguns estudantes optaram por estender o período de férias. “Alguns alunos acabam querendo prolongar essa folga porque está próximo do final de semana e tem também a questão do jogo do Brasil, que foi bem cedinho”, explica Ana Alice Teles, gestora.

Ana Alice diz que alguns alunos do Judith decidiram esticar as férias para abarcar o final de semana

Apesar da baixa quantidade de crianças, aquelas que foram para o primeiro dia de aula se destacaram pela animação em retornar e rever os amigos e colegas. “Eles ficam saudosos da companhia uns dos outros, os alunos gostam de estarem juntos. Essa socialização da escola é como se fosse o reencontro da tribo deles”, analisa.

Ainda que em pequeno número, os alunos do Judith fizeram um retorno animado

Ela compartilha que apesar de os órgãos de segurança não terem presença fixa na escola, a parceria é constante, fator que dá tranquilidade aos pais. “Para nós, enquanto organização, já sentimos essa segurança na própria estrutura, temos vigia, o portão fica fechado. Nós já nos sentimos confortáveis nesse cenário”, contextualiza. (Luciana Araújo)