Alguns detalhes visuais do que será visto no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, em 2025, com a Grande Rio, foram conhecidos neste fim de semana. A escola de samba vai levar para a avenida o enredo “Pororocas parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós”.
A proposta é levar o público para um mergulho nas águas amazônicas e se inundar da cultura paraense. Nas imagens divulgadas pela Grande Rio, o condutor do enredo são as águas paraenses, com destaque para as letras nas embarcações.
No cartaz de divulgação do enredo, que surgiu a partir de um diálogo com a idealizadora do projeto “Letras que flutuam”, a designer Fernanda Martins, temos as letras de barco a partir dos “Abridores de Letras”, artistas que se dedicam à pintura de embarcações.
Leia mais:“O bonito desse trabalho da Grande Rio foi a inclusão do popular, ser fiel à estética, a filosofia que existe a uma escola de samba, e quando vem pesquisar eles incluem as pessoas do local. O que é mais louvável é essa ação e vir ao território, conhecer e beber dessa cultura, e incluir os defensores dessa cultura nesse projeto”, disse a artista.
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Fernanda Martins, que estuda e pesquisa há anos a história e vivência dos abridores, foi o ponto inicial para dar seguimento ao desenvolvimento do cartaz da Grande Rio. “Meu papel foi despertar sobre os saberes dos abridores de letras do Pará, a profissão que só existe ao longo do Rio Amazonas. O meu papel foi de ser mais uma incentivadora, indiquei várias pessoas para encontrarem quando eles fizeram uma pesquisa de campo. Não estive envolvida no projeto, mas na articulação e mediação”, explica Fernanda Martins.
Ela explicou ainda que o mapeamento no Pará, dos abridores iniciou nos anos 2000. Na pesquisa ela entendeu um pouco desse trabalho dos ribeirinhos, que embelezam os barcos que trafegam pelos rios amazônidas.
“Está todo mundo me marcando no cartaz. Esse trabalho de pesquisa começou em 2004, quando comecei a conhecer os abridores. Na ocasião, a gente já mapeou vários municípios paraenses, encontrando mais de 70 abridores. Depois fizemos um segundo mapeamento, em 2016, no Marajó, em 6 municípios, e foram outros 70 abridores. O livro serviu como um grande potencializado de um trabalho que já vinha ocorrendo, com dois documentários, palestras e oficinas. Quando a Grande Rio coloca no Carnaval, ela traz de volta ao popular, o livro chega para uma camada letrada, longe do ribeirinho, que é o detentor desse saber. Com o Carnaval, eles voltam a ser incluídos em algo que é deles”, analisa a artista.
Milton Cunha
O carnavalesco Milton Cunha comemora a escolha do enredo voltado para o carnaval do ano que vem. Segundo Milton, com “Pororocas Parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós”, a Grande-Rio, que ficou em 6º lugar no ano passado, tem grandes chances de levar para casa o título de campeã em 2025.
“O Pará já foi muito cantado pelo samba carioca, é recorrente, surge ou transversal, ou sendo a estrela, como com o Círio de Nazaré. Parece que o Pará é infindável nas possibilidades de carnavalização. Agora, é trazido um recorte do estado bastante original e novo. É a primeira vez que vamos olhar o curimbó, o tambor do carimbó, como o parente do tambor de mina e do carnaval carioca”, comenta.
Há quase duas décadas, os seres encantados do Tambor de Mina foram tema da Beija-Flor, no enredo de 1998, “ Pará – O Mundo Místico Dos Caruanas Nas Águas do Patu-anu”. O retorno da temática, desta vez pela Grande-Rio, é uma brilhante ideia com a possibilidade de unir vários elementos da cultura paraense para o desfile na Sapucaí.
“Eu acho que vai dar super certo. Sempre que você junta tambores, o samba, com tambores da floresta e de Mina, isso dá um resultado lírico-poético muito forte. Ter a presença da Dona Onete como a grande dama, a matriarca das florestas, é uma voz que embala a Grande-Rio e revela a possibilidade de entrar nesse espelho invertido que é o mundo dos encantados. Eu estou impressionadíssimo”, pontua o carnavalesco.
(O Liberal)