Única produtora de aços longos da região Norte do país, a Siderúrgica Norte Brasil (Sinobras) tem como meta conquistar neste ano novas fatias de mercado, mesmo em um ambiente de maior competição do aço brasileiro com material estrangeiro. O volume importado nesse segmento de várias origens cresceu 49% no ano passado, e a previsão para 2024 é de continuidade.
A Sinobras acaba de colocar em operação uma nova unidade industrial – Laminador 2 -, que vai fornecer novos tipos de aço aos mercados da construção civil, imobiliário e industrial. O investimento total nesse projeto, no site da usina localizada em Marabá (PA), somou em torno de R$ 1 bilhão, aplicado ao longo de vários anos. A empresa vem de uma recuperação judicial pedida em 2017, que foi toda concluída em meados de 2022 e liberada pela Justiça após o processo de reequilíbrio financeiro.
Ian Correa, vice-presidente de operações do Aço Cearense, grupo do empresário cearense Vilmar Ferreira que controla a Sinobras, disse ao IM Business que a nova instalação foi montada com recursos próprios, envolvendo a empresa e o grupo controlador. Ele destaca que o equipamento permitirá levar ao mercado produtos que ainda não fabrica: vergalhão em rolo e em carretel (spooler) e fio-máquina, um tipo de aço com diversas aplicações na indústria metalmecânica.
Leia mais:A siderúrgica, até agora, só produzia vergalhões em barra, treliças, telas, malhas e arames. Com o novo laminador, a Sinobras amplia a competição no mercado de aços longos, onde os principais fabricantes são ArcelorMittal e Gerdau, líderes de vendas, além da mexicana Simec, Aço Verde do Brasil (AVB) e CSN, esta última com uma oferta inferior a 300 mil toneladas por ano.
O novo laminador da Sinobras, com tecnologia de processamento moderna, está apto a fazer 500 mil toneladas anuais de aço. Com isso, a empresa mais que dobra sua capacidade de oferta de produtos. A Sinobras entrou em operação em 2008 com um equipamento de 380 mil toneladas. O aço da siderúrgica é obtido de sucata de ferro e aço (cerca de 80%), à qual se mistura no forno elétrico a ferro-gusa de alto-forno próprio. O gusa é obtido na fusão de minério de ferro com carvão vegetal de florestas próprias.
Segundo o executivo, a siderúrgica é focada no nicho de pequenos e médios consumidores (distribuidores) espalhados pelo Brasil. “Atendemos do Norte ao Sul do país”. Em grande parte, informa, o comprador do material da Sinobras é quem vai fazer reforma na residência ( (puxadinhos) e autoconstrutores. Por isso, diz, o reaquecimento da economia, emprego e renda são importantes para alavancar o consumo via varejo da construção, caso do aço, entre outros materiais, como cimento, brita e areia.
“Acreditamos que o país terá um PIB na casa de 2% ou mais este ano. Em 2023, a previsão era de 1% e terminou em torno de 3%”, diz o executivo da Aço Cearense. Ele ressalta que o aquecimento da economia seria bom para o país como um todo, não apenas para o mercado de aço. Corrêa lembra que as importações de produtos siderúrgicos é uma questão que incomoda o fabricante local. “Se a demanda está baixa no país, qualquer quantidade de material importado que entra afeta o mercado”.
A produção de aços longos laminados no Brasil em 2023 atingiu 9,1 milhões de toneladas, retração de 7% na comparação com o ano anterior, de acordo com o Instituto Aço Brasil. As vendas no mercado interno somaram 7,93 milhões de toneladas – menos 6,6%. O consumo aparente, que soma vendas internas mais importação, foi de 9,55 milhões de toneladas (-2,1%). O material importado – com destaque para produtos trefilados, perfis e tubos sem costura, fio-máquina, barras e vergalhões – representou fatia de 15,5% do consumo de aço longo no ano, conforme a entidade.
Corrêa informa que a Sinobras atinge, por meio da logística do grupo, uma rede de 16 mil clientes espalhados no país. São atendidos por um sistema de transporte que envolve transportadoras terceirizadas, autônomos e frota própria (da Aço Cearense Logística). “Agilidade na entrega é um diferencial que temos. Outro é nosso sistema de crédito à rede de clientes”, afirma o executivo, informando que o maior cliente não responde por 3% do faturamento da siderúrgica.
Segundo ele, o novo laminador ganhará velocidade de produção principalmente no segundo semestre, com toda a linha de produtos. “Nossa previsão é chegar a novembro na plena capacidade do equipamento, apto a fazer 42 mil toneladas por mês,”, afirma. Em 2024, a previsão é que a empresa alcance produção total (dos dois laminadores) de 500 mil toneladas – aumento de 31% em relação às 380 mil toneladas do ano passado.
Em 2022, último dado oficial financeiro disponível, a Sinobras teve receita líquida de R$ 2,6 bilhões, o correspondente a 47% da receita total do grupo Aço Cearense, de R$ 5,57 bilhões (consolidando as vendas de cerca de 1 milhão de toneladas). O volume produzido pela siderúrgica, entre laminado e semiacabado (tarugos para venda), foi de 366 mil toneladas. A empresa fechou aquele ano com lucro líquido de R$ 630 milhões, conforme balanço publicado em seu site.
Com a expansão, a companhia contratou mais de 300 pessoas para atuar na operação da nova unidade fabril, após treinamentos em instituições locais e na empresa. O quadro de funcionários subiu para 1,8 mil, incluindo as atividades na área florestal e de produção de carvão vegetal.
Correa informou que até o final deste trimestre a empresa espera concluir o estudo de viabilidade financeira do projeto de construção de uma nova aciaria de tarugos, em Marabá (a 3km). A previsão é ficar pronta em meados de 2027 e passaria a alimentar o novo laminador. Até lá, a Sinobras vai importar tarugos de vários fornecedores do exterior (China, Turquia, EUA e países da América Central). A nova aciaria, também de 500 mil toneladas anuais, teria investimento de R$ 1,5 bilhão a R$ 2 bilhões (a valor de hoje) e começaria a ser construída no início de 2026.
É um projeto integrado com a Vale, que vai garantir aval à Sinobras para financiamento da nova unidade. A mineradora está montando no mesmo site uma planta industrial de gusa (matéria-prima com menor geração de CO2 para fornos elétricos), utilizando minérios finos reciclados e até lamas de rejeitos e biomassa, com a tecnologia denominada Tecnored. Essa matéria-prima será vendida à siderúrgica. (Reprodução: Revista Infomoney)