Correio de Carajás

Com 7 meses de salário atrasado, Diego Hypolito deixa clube

Atual vice-campeão olímpico do solo, Diego Hypolito teme por seu futuro na ginástica artística. Mesmo depois de sua conquista na Rio 2016, o atleta se viu em um cenário que considera um descaso. Sem patrocínios, com sete meses de salários atrasados, Diego Hypolito encerrou seu vínculo com a equipe de São Bernardo do Campo e fez um desabafo.

– Parece que o atleta brasileiro não tem valor. Estou muito triste. É desculpa em cima de desculpa. Eu queria continuar na região de São Paulo, é onde eu nasci, onde voltei a me consagrar. Mas é um descaso. Não tirei férias, quero voltar ao cenário internacional e ir para os Jogos Olímpicos. Sei que tenho potencial, mas parece que no nosso país é praticamente impossível. Jogam a responsabilidade de um para o outro. Duvido que se fosse em qualquer outro país eu teria sido tão destratado. Sou valorizado apenas pela grade massa. Me tratam mega bem. Mas não existe um plano de esporte no Brasil. Nós atletas somos peças de tabuleiro. Somos usados na Olimpíada, mas depois que tem o resultado pouco importa. É difícil construir um sonho dessa maneira – disse o ginasta, em contato com o GloboEsporte.com.

Diego Hypolito foi medalha de prata nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. — Foto: Alex Livesey, Getty Images

Diego Hypolito foi medalha de prata nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. — Foto: Alex Livesey, Getty Images

Bicampeão mundial e prata na Olimpíada do Rio, Diego Hypolito afirmou que não recebeu por 7 dos 24 meses que trabalhou para a equipe de São Bernardo do Campo. Segundo o atleta, a Secretaria de Esportes e Lazer (SESP) da cidade do ABC Paulista não repassou aos atletas os recursos que vinham do patrocínio da Caixa ao clube. A SESP foi procurada pela reportagem do GloboEsporte.com, mas ainda não deu uma posição sobre a situação do vice-campeão olímpico.

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– O que mais me entristece é que a sempre a desculpa era que a Caixa atrasava. Com bom senso, mesmo sempre precisando de dinheiro, abdiquei de quatro salários. Fizeram uma proposta no meio do ano passado falando que não conseguiriam pagar, mas agora não tem dinheiro. Nunca tinha acontecido isso. É muito decepcionante, porque não foi um lugar que não valorizei. Pelo contrário. Nunca estamos amparados em lugar algum.

Diego afirmou que se manteve calado sobre a situação por muito tempo por causa do que chamou de “terror psicológico”. Ele conta que sofreu pressão para manter tudo por trás das cortinas.

– Eles queriam fechar minha boca: “O certo é ficar calado”. Cheguei no meu limite. É um bando de extintor. Querem apagar o fogo e não te dão solução. Tento me manter íntegro no meio de tanta confusão do país, mas é difícil manter a cabeça no lugar. Para entrar na Olimpíada tem que bater de frente com um batalhão de dirigentes. Tive o resultado. Tem que provar mais o quê? Desse jeito não sei se vou aguentar muito tempo. Nunca tem apoio, só críticos. A própria ginástica não se ajuda. Não vi ninguém apoiando os ginastas que foram abusados. Depois de todo o absurdo do escândalo de abuso sexual, o mínimo que deveria é temos sido abraçados. É como se o atleta fosse punido – disse Diego, lembrando que São Bernardo foi o palco dos abusos do técnico Fernando de Carvalho Lopes, denunciado por molestar pelo menos quarenta atletas.

Diego Hypolito defendeu o São Bernardo entre 2015 e 2018 — Foto: Ricardo Bufolin/CBG

Diego Hypolito defendeu o São Bernardo entre 2015 e 2018 — Foto: Ricardo Bufolin/CBG

De novo sem clube

Com o fim do vínculo com o São Bernardo do Campo, Diego Hypolito fica pela segunda vez sem clube. Em 2013, ele viu o fim do projeto de alto rendimento masculino do Flamengo. Passou boa parte do ciclo olímpico da Rio 2016 sem clube, chegou a treinar de favor no Pinheiros, de São Paulo, até acertar com o São Bernardo.

– O que mais me dá desespero é: “Agora onde que vou treinar?” Atletas são sempre jogados de um canto para o outro?

Diego Hypolito acredita que vai receber apoio do Comitê Olímpico do Brasil (COB) para treinar no Centro de Treinamento do Time Brasil, dentro do Parque Olímpico do Rio de Janeiro.

– Não é humilhante toda vez estar de favor nos lugares? Passa uma Olimpíada e fico de favor no Pinheiros, agora no CT do Time Brasil. Será que não existe uma instituição para dar apoio? Não tem valor algum o esporte? O esporte deveria ser inclusão social, deveria ser colocado em todos os lugares.

Diego Hypolito ressalta que a maior diferença entre seu período sem clube em 2013 e 2014 para a atual situação é a ausência de um patrocínio pessoal depois da Rio 2016. Hoje ele conta apenas com apoio da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) e do extinto Ministério do Esporte, mas havia deixado o programa do Bolsa Pódio por não ter competido em nível internacional em 2017 e 2018. O vice-campeão olímpico passou por uma cirurgia na coluna no início do ciclo olímpico e por isso não havia recuperado a melhor forma.

Confira o desabafo de Diego Hypolito nas redes sociais

Alguém sabe o limite de um atleta ?? Eu quase descobri!

Foram sete meses sem receber e ainda me submetendo a ficar calado, pois qualquer coisa dita podia espantar novos patrocinadores.

Cansei, meus amigos!

Acabou meu vínculo com São Bernardo do Campo, a Caixa terminou o contrato. Eu não sei como a coisa andou, se a Caixa efetuava o pagamento, mas eu não recebi sete dos 24 meses que trabalhei por lá.

Em certo momento cogitei abrir mão de 4 meses, desde que os pagamentos se tornassem pontuais. Nem assim cumpriram o que foi acordado. Sempre me diziam “Diego, não fala nada! A Caixa pode achar ruim !”. Aliás, eu sempre respeitei a Caixa, que é uma grande incentivadora do esporte Brasileiro.

Estou treinando em alto rendimento, não tirei férias e estou focado para competir no calendário 2019. Uma pena que, mais uma vez, faltou seriedade na gestão esportiva. Talvez o prefeito de São Bernardo, pelo qual eu tenho a maior admiração e estima, não saiba que me devem sete meses de salário. Talvez, do mesmo jeito que me orientavam a não falar nada, o prefeito não soubesse, mas o pessoal da secretaria de esportes deu um show de amadorismo ao receber recursos da Caixa e não repassar ao atleta. Quero apenas receber meus sete meses de salário e a vida segue!

Começo 2019 sem nenhum patrocínio e nenhuma estrutura para treinar literalmente sem salário.

Vejamos a que ponto o esporte brasileiro chegou, sou medalhista olímpico.

Vamos esperar que com o novo rumo que esse país toma possamos encontrar gestores esportivos sérios e que possam nos ajudar a seguir em frente.

Para o Diego é só mais uma adversidade e eu vou me levantar!

A partir de segunda vamos procurar novo lugar para treinar, novos patrocinadores que acreditem no nosso potencial e gestores públicos que sejam sérios em cumprir com seus compromissos.