Ocupantes da área localizada entre as margens da Estrada de Ferro Carajás e o viaduto que dá acesso ao Bairro Nossa Senhora Aparecida, conhecido popularmente como Coca-Cola, em Marabá, fizeram uma manifestação na entrada do local queimando pneus nesta terça-feira (27), como é possível ver nas imagens acima. O Correio de Carajás esteve no local algum tempo depois e, ao conversar com os dois lados da história, pôde notar tensão crescente entre ambos, como já divulgado anteriormente.
A juíza Aline Cristina Breia Martins, da 2ª Vara Cível e Empresarial de Marabá, determinou na semana passada a desocupação de maneira voluntária por parte das 140 famílias que ali estavam. A reportagem, inclusive, anunciou que a determinação foi expressa, após os proprietários da área Cornélio Pereira Bitarães e Kemia Pereira apresentarem solicitação comprovando a posse do local.
Após passado o prazo estabelecido pela justiça, 48 horas, para deixar o local, os ocupantes começaram a ser retirados pela Polícia Militar, momento em que decidiram se manifestar contra a saída no sinaleiro localizado próximo ao viaduto ferroviário do bairro. A mobilização, que começou por volta de 12h e parou às 14h, só terminou depois que a polícia pediu que liberassem o trânsito para uma ambulância.
Leia mais:Os ocupantes disseram hoje ao Correio que decidiram se manifestar depois que foram ameaçados pelos seguranças da empresa contratada por Cornélio, para “vigiar” a área. Em nome de todos que ali estavam e relataram ter medo de expor seus nomes e rostos devido a uma possível retaliação do outro lado, Luiz Felipe Silva afirma que foi aterrorizado pelos seguranças que andam armados e teve sua rede queimada.
“Tacaram fogo durante o dia. Não teve como as pessoas dormirem aqui ontem (26) porque a gente não tinha mais nada, porque eles tacaram fogo, aí algumas famílias foram abrigadas por outras aqui do bairro, porque todo mundo tem criança, a gente fica com medo de trazer filho aqui e levar um tiro”, disse.
Há pouco mais de um mês, Mileni Silva, de 30 anos, se juntou ao grupo em busca de um pedaço de terra para construir um lar para sua família. Com três filhos pequenos e sem condições de trabalhar por falta de quem cuide das crianças, ela relata a precariedade da sua situação, vivendo em um barraco feito de papelão, que não oferece proteção contra as chuvas.
Ela conta que cozinha para as famílias esperando que a reivindicação por um lote de terra seja atendida. Mas, o clima no local, no entanto, é de constante tensão. “A segurança frequentemente faz rondas e a gente fica com medo de perder o pouco que já tem, de algo acontecer com meus filhos. Eu só estou aqui porque precisei sair de casa, já que não tinha como continuar pagando aluguel”, conclui.
Os manifestantes também deram um recado dizendo que, caso a situação de tensão inevitável não termine, outro protesto seria feito no mesmo local de mais cedo.
O OUTRO LADO
Enquanto a reportagem saía da área, foi abordada por três seguranças que fazem parte do grupo contratado por Cornélio e que têm ficado diariamente embaixo de uma tenda, há cerca de 50m de onde estão acampados os ocupantes, no mesmo terreno. Sem nomes fornecidos, um dos homens negou que a equipe teria ameaçado alguém e que estão ali apenas para garantir o direito de posse das terras do proprietário.
Questionados sobre as queixas feitas pelas famílias, os homens também negaram ter colocado fogo nas coisas dos ocupantes ou feito qualquer coisa para criar o clima de tensão sentido pelo outro lado. (Thays Araujo)