Correio de Carajás

CineFront divulga agenda com datas de sessões e atividades

Nego Bispo, pensador quilombola, é um dos homenageados do festival neste ano

Abril está bem aí e já se anuncia mais uma edição do Festival Internacional de Cinema de Fronteira na Amazônia – FIA CINEFRONT, ou simplesmente CineFront, um festival de cinema não-competitivo, de cunho político-pedagógico e que visa apresentar obras fílmicas, históricas ou atuais, voltadas à denúncia dos impactos causados por empreendimentos econômicos predatórios e as situações de violação de direitos humanos e do direito à terra e territórios de povos indígenas, camponeses, ribeirinhos, extrativistas e comunidades diversas na Amazônia e outras fronteiras e periferias da sociedade capitalista global.

O cartaz desta edição, lançado no início do mês de fevereiro, por meio da fotografia de Tadeu Rocha, apresenta o registro das veias abertas e entranhas dos rios expostas pela seca na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro, registro feito durante expedição “Amazônia Ensina e Aberje”, no ano de 2023. Tadeu Rocha cedeu gentilmente os direitos do uso de imagem ao festival, uma vez que a causa é compatível com os seus processos de pesquisa e experimentações fotográficas e audiovisuais pela Amazônia.

Sediado em Marabá, mas, como sempre, planejado para acontecer também na capital Belém e em diferentes cidades e territórios do interior do estado, o 9º FIA CINEFRONT trará para suas sessões de exibição de filmes seguidas de debates um conjunto de obras cinematográficas que tematizam a chamada crise climática, seus efeitos em especial sobre as populações em situação de grave vulnerabilidade social e os processos de r-existência protagonizados por estas populações na defesa de seus territórios, do bem viver e de modos de produção pautados pela sustentabilidade ecológica na Amazônia, no Brasil e no mundo.

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A cada edição o festival homenageia cineastas, fotógrafos, artistas, ativistas, intelectuais e/ou organizações sociais com reconhecida importância na produção de obras ou realização de ações políticas, produtivas, pedagógicas e culturais que estejam associadas às questões tematizadas pelo CineFront e que ajudam a fortalecer as lutas populares, a defesa dos direitos humanos, a justiça social, a conservação dos rios e florestas e a soberania territorial dos povos e comunidades da Amazônia e demais biomas do Brasil.

Em 2024 são dois os homenageados, ambos falecidos recentemente. O primeiro é Antônio Bispo dos Santos, conhecido como Nego Bispo, filósofo, poeta, escritor, professor e ativista quilombola, referência do pensamento contracolonial e da afirmação dos conhecimentos, práticas socioculturais e relações com a natureza constituídas pelas comunidades quilombolas na produção, economia, organização e defesa de seus territórios secularmente. O segundo, trata-se de Carlos Walter Porto-Gonçalves, geógrafo, professor universitário e militante incansável na defesa dos povos da Amazônia, um dos responsáveis pela criação da primeira reserva extrativista do país, no Acre, autor do livro “Amazônia, Amazônias” (2015), que traz resultados de mais de duas décadas de pesquisa sobre as consequências da expansão capitalista na região. Durante o festival as homenagens acontecerão por meio de exibições de filmes documentários, exposições fotográficas e momentos de palestras e debates sobre o legado de ambos.

Assim como ocorre desde sua criação, a realização do festival é uma construção colaborativa que envolve universidades, movimentos sociais, organizações não-governamentais e produtores culturais.

Neste ano, participam da organização do FIA CINEFRONT o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Brigadas Populares, Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Pará (FETAGRI), Movimento pela Soberania Popular da Mineração no Brasil (MAM), Grupo de Mulheres Extrativistas (GETAE), Instituto Zé Claudio e Maria (IZM), Campus Rural do IFPA-Marabá, Faculdade de Educação do Campo da Unifesspa, Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) e TramaTeia Produções.

Com entrada gratuita e aberto ao público em geral, o 9º FIA CINEFRONT é viabilizado por meio de Edital da Lei Paulo Gustavo, promovido pela Fundação Cultural do Pará (FCP), Secretaria do Estado de Cultura do Pará (Secult), Ministério da Cultura (Minc) e Governo Federal. A coordenação geral do festival fica a cargo da TramaTeia Produções e Instituto Zé Claudio e Maria.

Mais sobre a programação

Mantida a tônica do cinema da fronteira e do front como um recurso político pedagógico, uma ferramenta de luta, como arma dos que r-existem na afirmação de um mundo onde caibam vários mundos, a agenda proposta para o 9° FIA CINEFRONT é a seguinte:

  • De 14 a 16/abril – sessões de cinema e debates no Acampamento Pedagógico da Juventude Sem Terra (Eldorado dos Carajás, Curva do S).
  • De 17 a 19/abril – sessões de cinema e debate no Cine Teatro Marrocos, escolas públicas, praças dos bairros São Félix e Cabelo Seco e Masterclass de Produção Cinematográfica (Marabá).
  • De 20 e 21/abril – sessões de cinema e debate na Terra Indígena Mãe Maria e Suruí Akewara.
  • De 22 a 26/abril – sessões de cinema e debate no Campus Rural do IFPA (CRMB) e integrados ao ciclo de palestras da Semana da Educação do Campo, das Águas e das Florestas (UNIFESSPA, Marabá).
  • De 22 a 28/abril – sessões de cinema e debates em Belém (Faculdade de Geografia e Escola de Teatro da UFPA e praça do bairro da Marambaia), Mosqueiro (EEEM Padre Eduardo e Assentamento Mártires de Abril) e comunidades do Carimbó (Nordeste Paraense).

 

Vendas online de camisetas

 

Com a perspectiva de trabalhar a economia criativa e gerar novos produtos a partir do FIA CineFront, para essa edição o público e parceiros do projeto poderão adquirir camisetas disponíveis à venda por meio da loja digital. As camisetas estão disponíveis na loja Saruê, loja online vinculada ao Projeto “Uma Penca”, ligada à Chico Rei. Entre as camisetas produzidas para coleção CineFront Amazônia, existe uma com estampa que faz referência ao cartaz da 3ª Edição do Festival, realizado em 2017, quando Jorge Bodanzky foi o cineasta homenageado.

Com imagem de dois pássaros pousados sobre uma câmera filmadora e a frase “TranseAmazônico: Seguimos no Front!”, a camiseta celebra os 50 anos da trajetória de produção cinematográfica de Bodanzky na Amazônia.

Masterclass com Jorge Bodanzky

 

Falando em Jorge Bodanzky, o conceituado cineasta que tanto retratou a Amazônia em suas produções, novamente demonstrou interesse em vir à região para participar da programação do FIA CINEFRONT. Bodanzky apresentará e dialogará com o público sobre o filme “Amazônia, a Nova Minamata?” (2022) e realizará uma Masterclass sobre Produção Cinematográfica, nos dias 17, 18 e 19 de abril. Em breve, acontecerá a abertura das inscrições e divulgação de mais detalhes sobre a devida programação.

Nascido em São Paulo e descendentes de austríacos, Jorge Bodanzky é cineasta, roteirista e um exímio fotógrafo brasileiro. Cursou Arquitetura na Unb, tendo estudado com Athos Bulcão e vivido um período no exílio durante a ditadura civil militar brasileira. Começou a sua carreira como repórter fotográfico para os jornais do sudeste como o Jornal da Tarde, O Estado de S.Paulo e revistas de circulação nacional como Manchete e Realidade. Ao longo de sua filmografia destaca-se as películas: “Iracema – Uma Transa Amazônia” (1974), “Amazônia, o Último Eldorado” (1982), Série para HBO “Transamazônica, uma estrada para o passado” (2019) e “Amazônia, a Nova Minamata?” (2022). Uma exposição de fotografias sobre sua trajetória como cineasta está sendo apresentada no Instituto Moreira Sales (IMS), Centro Cultural, em São Paulo.

 

Comunicação, ativismo político e juventude

 

Neste ano, o festival convidou o ativista e produtor cultural Jairon Gomes a integrar a equipe de comunicação, juntamente com o Caed Alves, jovem comunicador marabaense que utiliza das suas redes sociais para discutir assuntos relacionados à política, juventude e cultura. Tudo com muita criatividade e originalidade, os vídeos de Caed tem viralizados nas redes sociais no sul e sudeste paraense e atingido a um público jovem, que aos poucos tem se interessado em saber e participar mais das questões políticas da região. É por meio do trabalho dos dois influenciadores que o FIA CINEFRONT tem sido apresentado ao público, com informações sobre a concepção, objetivos e perfil do festival e de outras novidades que a nona edição traz, como a parceria para produção de uma série de camisetas com mensagens político-pedagógicas e a identidade estética do festival e as ações para garantia de acessibilidade que atendam pessoas com deficiências físicas que também poderão participar das sessões de exibição de filmes e debates.

 

Para saber mais sobre os organizadores

 

Tramateia.Pro

 

A 9ª Edição do FIA CineFront é uma organização da empresa e produtora audiovisual Tramateia.Pro. A empresa vem ao longo dos últimos anos atuando na cena do audiovisual paraense com produções independentes, além de se inscrever em alguns projetos culturais na área com o fomento via leis de incentivo à cultura. São documentários, curtas, vídeos experimentais e a realização de oito edições de um festival de cinema de fronteira na região Amazônica com destaque regional e nacional, e interfaces com a Amazônia Latino Americana.

A produtora é conduzida por Patrícia Moussalem e tem sido produtora dos documentários dirigidos por Alexandra Duarte e Evandro Medeiros, pesquisadores acadêmicos e realizadores de cinema sobre a realidade e conflitos socioambientais na Amazônia. Para saber mais sobre a produtora acesse em @tramateia.pro no Instagram e acesse aos filmes em: www.linktr.ee/tramateia.pro

Instituto Zé Claudio e Maria

Floresta Viva é o lema do Instituto Zé Claudio e Maria, instituição com doze (12) anos de atuação e resistência no estado do Pará. Uma organização para preservação ambiental com forte atuação política e cultural no cenário da comunicação – sustentabilidade e cultura no Brasil. Claudelice Santos, é ativista, ambientalista, estudante e coordenadora do instituto.

A organização é também um espaço destinado à proteção e fortalecimento de ativistas ameaçados na região. Se tornou amplamente reconhecida como defensora de direitos humanos através de sua luta por justiça após o assassinato de seu irmão José Claudio Ribeiro dos Santos e de sua cunhada, Maria do Espírito Santo, em 2011.

Você pode saber mais sobre o instituto em @institutozeclaudioemaria ou no site em www.institutozeclaudioemaria.com

(Divulgação/Jairon Gomes)