Correio de Carajás

CineFront Amazônia participa do MINAR, em Portugal

O Festival Internacional Amazônida de Cinema de Fronteira, o CineFront, nascido na região de Carajás, leva as suas atividades de 2024 até Portugal, do outro lado do Atlântico. Os filmes ‘S11D Conflitos’ (2022), ‘Piquiá de Baixo’ (2022) e ‘Processados’ (2023), todos sob direção de Alexandra Duarte e Evandro Medeiros, estão na programação do MINAR deste ano, além do filme ‘Amazônia, A Nova Minamata’ (2024), de Jorge Bodanzky.

O MINAR – Maquinações do Mundo: Mineração, Afetos e Resistência –  é uma mostra de cinema que acontece na cidade histórica e universitária de Coimbra, em Portugal. A mostra é um evento cinematográfico dedicado a explorar os efeitos e impactos da mineração nos modos de vida de sujeitos e comunidades e do seu ambiente, em diversas localidades do planeta, informa Miguel Carranza, um dos organizadores.

Carranza aponta que essa é a primeira edição do festival e ter a colaboração do CineFront que já soma quase uma década de atuação em cinema de fronteira e na Amazônia é de fundamental importância para deixar o MINAR ainda mais robusto em sua programação.

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“Não sairemos daqui os mesmos. Esses documentários não são apenas imagens em movimento; são convites para a mudança”, ressalta Miguel. Os efeitos e os impactos da mineração devem ser a tônica das reflexões e sessões que começaram ontem, terça (23) e seguem até amanhã, quinta (25)., com sessões sempre às 19h.

Ao longo da programação, muitas perguntas e indagações serão levantadas, e o convite feito à comunidade luso acadêmica é o de somar forças para utilizar do cinema enquanto ferramenta de conscientização e transformação no campo da crise climática em que o mundo se encontra na atualidade.

Para esta primeira edição da mostra apresenta documentários que mergulham nas complexidades da mineração, desde as suas consequências ambientais até os desafios enfrentados pelas comunidades afetadas, cuja discussão é fundamental diante de um cenário de devastação da natureza, de culturas e da emergência climática em que vivemos. Cada filme será uma janela de perspectivas e realidades a serem tomadas como conhecimento e pautadas para os debates e reflexões que ocorrerão ao fim de cada sessão e nos possíveis caminhos que podem ser traçados a partir da primeira edição da mostra.

Segundo Evandro Medeiros, professor da Unifesspa e coordenador executivo do CineFront, “a parceria com o MINAR tem dupla importância, primeiro por publicizar internacionalmente os graves impactos socioambientais ocasionados pela mineração na Amazônia, decorrentes tanto das atividades de garimpo ilegal como decorrentes da atuação de grandes empresas mineradoras. Segundo a parceria entre CineFront e MINAR amplia alcance de público e fortalece os dois festivais, além de evidenciar a força educativa e política do cinema”.

Toda a programação é aberta ao público, com gratuidade, além de ocorrer no último dia um momento de convivência com todos os presentes, que é um momento de celebração da vida, arte e resistência. Há na programação a realização de um sarau de poesias para o encerramento da atividade com microfone aberto as vozes presentes.

9º Festival Internacional Amazônida de Cinema de Fronteira – Sessões Extras

A participação do CineFront na programação do MINAR em Portugal é uma extensão das atividades do festival realizado em abril, de modo itinerante, desde o Acampamento da Juventude Sem-Terra em Eldorado do Carajás e passando pelas praças públicas, escolas e universidades em Marabá, Belém, Marapanim e São Caetano de Odivelas.

Entre as últimas semanas de junho e julho, a equipe do festival esteve realizando sessões extras no Distrito de Cajazeiras, em Itupiranga; Escola Carlos Marighella e Campus Rural de Marabá do IFPA, ambos no Assentamento 26 de Março; e Acampamento Helenira Resende em Marabá. A partir desta semana, seguem para exibições em Territórios Indígenas do Povo Timbira, do Maranhão e Tocantins.

Outra parceria recente do festival foram as sessões extras realizadas no Pontal Instituto Cultural, nos dias 18 e 20 de julho, juntamente com o Cineclube Carajás Hiran Bichara e Coletivo Gam, exibindo como ‘Araguaia’ (2016), da diretora Dagmar Talga, e ‘Araguaia: Campo Sagrado’ (2011) de Evandro Medeiros, que colocam em pauta a Guerrilha do Araguaia, uma luta popular que mobilizou o maior número de tropas brasileira desde a II Guerra Mundial em um combate desigual, ocorrido entre 1966 a 1975 no Sul do Pará. Já no dia 20 de julho foi a vez da exibição do filme ‘Soldados do Araguaia’ (2017), de Belisário Franca, também na sede do Pontal Instituto Cultural.

No próximo dia 30, a sessão ocorre na chopperia Araguaia, na orla da Velha Marabá, com exposição fotográfica e exibição do filme seguida de roda de conversa em homenagem a Nelson Jean, sociólogo e skatista muito querido e reconhecido por sua atuação em Marabá e região, falecido recentemente.

O Cineclube Carajás Hiran Bichara é uma realização do Coletivo Gam e Pontal Instituto Cultural, com parceria da Tallentus Amazônia, TramaTeia Produções e Unifesspa.

O MINAR é organizado pela Oficina de Ecologia e Sociedade do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES/UC), em parceria com Teatro Académico de Gil Vicente, Casa da Esquina, Projecto ECO – “Animais e Plantas em Produções Culturais sobre a Bacia Amazónica” e os festivais de cinema ParaDocma – “Viver melhor [a cidade], é preciso!”, Liquidâmbar e FIA Cinefront.

O 9º FIA CineFront é um projeto financiado com recursos do Edital da Lei Paulo Gustavo, promovido pela Secretaria de Estado de Cultural – SECULT- PA e o Ministério da Cultura – MINC, além de ser organizado pela TramaTeia Produções e Unifesspa em parceria com os movimentos sociais e organizações não governamentais.

Filmes presentes do CineFront exibidos no MINAR

Amazônia, A Nova Minamata (Jorge Bodanzky, 76 min, 2024)

Este documentário acompanha a saga do povo Munduruku para conter o impacto destrutivo do garimpo de ouro em seu território ancestral, enquanto revela como a doença de Minamata, decorrente da contaminação por mercúrio, ameaça hoje os habitantes da Amazônia. Documentário este apresentado em primeira mão pelo cineasta Bodanzky em um masterclass realizado em Marabá no mês de abril, dentro da programação da nona edição do festival.

S11 D Conflitos (Alexandra Duarte e Evandro Medeiros, 44 min, 2022)

Documentário trata dos conflitos entre trabalhadores rurais sem-terra acampados e a mineradora ValeS/A, em Canaã dos Carajás. A cidade é sede do maior complexo de exploração mineral do mundo, o projeto S11D, que demandou a duplicação da Ferrovia Carajás, visando a ampliação da capacidade de escoamento de minério extraído da região. Por sua vez, na busca pela ampliação da área de exploração mineral, os trabalhadores rurais sem-terra denunciam que a empresa se apossou de terras da União de maneira irregular, áreas reivindicadas para fins de reforma agrária pelos camponeses.

Piquiá de Baixo (Alexandra Duarte e Evandro Medeiros, 45 min, 2022)

Documentário sobre a realidade vivida em Piquiá de Baixo, comunidade impactada pela Estrada de Ferro Carajás (EFC) da empresa mineradora Vale S/A e pelas atividades de siderúrgicas e fábrica de cimento instaladas indevidamente ao seu lado, que geram grave poluição sonora, da água e do ar e cujos resíduos tóxicos causam queimaduras em crianças e têm levado ao adoecimento e morte de pessoas da comunidade, que ao longo dos últimos quarenta anos tem se organizado coletivamente para lutar em defesa de sua dignidade e por seu direito como comunidade ribeirinha.

Processados (Alexandra Duarte e Evandro Medeiros, 51 min, 2023)

Documentário apresenta narrativas de pessoas processadas criminalmente pela Mineradora Vale S/A, após terem participado de manifestações contra situações envolvendo a empresa. Sujeitos tão diferentes entre si quanto o professor universitário Evandro Medeiros, do Pará, os moradores de um bairro cortado pela Estrada de Ferro Carajás (EFC), Waldir Gonçalves e João Reis Saraiva, também no Pará, e a trabalhadora rural aposentada Dona Nicinha, do Maranhão, são alguns dos personagens desse filme, que expõe não só o contexto que os levaram a ser processados pela empresa, mas também suas trajetórias na justiça e as consequências das ações judiciais em suas vidas cotidianas.

(Divulgação/MINAR, Pontal Instituto Cultural e 9º CineFront)