Correio de Carajás

“Cheguei ao abrigo e foi amor à primeira vista”, diz Simone

Professora lançou seu sentimento mais nobre sobre a menina que havia sido recusada na fila da adoção por cinco vezes seguidas

Simone coloca o amor em primeiro lugar e supera todas as dificuldades com a filha em seu colo//Fotos: Evangelista Rocha

Com a proximidade dos 45 anos, a professora Simone de Souza Oliveira ganhou de presente a tão sonhada maternidade. Após algumas tentativas frustradas de uma gestação natural, ela e o esposo, o também professor Everton Correia, 38 anos, ficaram por três anos na fila de adoção até encontrarem Vitória em meados de agosto de 2022, com apenas dez meses de vida, no Espaço de Acolhimento Provisório de Marabá.

“Foi amor à primeira vista. Eu senti uma emoção muito grande quando vi a minha filha. Às vezes as pessoas acham ‘ah, é filho adotivo’. Mas, é um amor inexplicável”, garante a mãe, entre lágrimas ao lembrar que a menina havia sido recusada na fila de adoção por cinco vezes.

Após os três (longos) anos na fila da adoção, o cadastro venceu e Everton decidiu renovar, sozinho, por mais três anos a tentativa de adoção.

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“Viajei para o Piauí, minha família é de lá, e quando estou voltando, na estrada, ele me liga dizendo que o pessoal do Fórum ligou e tinha uma criança. Pedi que ele me esperasse e quando cheguei conversamos muito sobre o assunto. Fomos ao Fórum e lá falaram que a criança tinha um problema de saúde e que poderia ser solucionado com cirurgia e tratamento”, relembra Simone.

 

O casal, que está junto há oito anos, voltou para casa pensativo. Simone conta que ficaram se questionando se conseguiriam cuidar de uma criança com problema de saúde, já que a responsabilidade se tornava maior ainda.

Foi então que decidiram ir até o abrigo para conhecer a menina e se inteirar se eles tinham possibilidade de cuidar dela ou não. Com o coração palpitando mais forte ao encontrarem aquela pequena, gordinha e com um olhar doce, mas retraído, os pais decidiram tentar. E foi a partir daí, que o casal começou a fazer ajustes nos horários de trabalho, tendo a preocupação de trabalhar em horários distintos para dar atenção à criança.

Sem parentes em Marabá – a família de Simone é da Parnaíba (PI) e de Everton de Belém (PA) – o casal cuida, desde então, sozinho de Maria Vitória.

“Já na segunda visita o juiz determinou a ida dela pra casa. Vitória é uma criança muito tranquila, e acho que a adaptação dela com a gente foi melhor do que a da gente com ela. Tivemos que mudar toda a nossa rotina de vida. Foi de zero a trezentos e sessenta. Uma mudança muito brusca, porque tínhamos uma outra rotina, era só nós dois, a gente saia a hora que queria, chegava a qualquer hora. Foi uma mudança muito grande, mas muito boa”.

Indo para a casa dos pais em agosto de 2021, Maria Vitória passou por uma cirurgia três meses depois, em novembro, ficando vinte dias, entre entradas e saídas da UTI, no Hospital Santa Casa, em Belém.

Vitória foi recusada cinco vezes no abrigo antes de ir pra casa com os pais

Simone e Everton já possuem a guarda definitiva da filha e contam que a menina ainda tem um longo processo pela frente para o tratamento de saúde. Contudo, para eles, o “problema” da filha nunca foi de fato um problema.

“Vimos que era algo que conseguiríamos resolver, que tinha solução. Bastava ter paciência e ir respeitando as etapas. Por isso, decidimos encarar. Minha filha é muito boazinha, só é um chiclete na mãe”, sorri Simone, orgulhosa.

Após a primeira cirurgia, a mãe percebeu que o desenvolvimento da filha melhorou bastante, aliados com o amor da convivência familiar, já que os pais estimulam a afetividade, que muitas das vezes falta no abrigo.

Mais carinhosa, já dando seus primeiros passos, chamando papai e mamãe, e imitando os bichinhos, a pequena gigante Maria Vitória mudou completamente a vida dos pais, e a casa dos professores antes organizada, agora está cheia de brinquedos e de muito mais amor.

“Ser mãe é uma batalha e um aprendizado diário. A gente pensa que sabe alguma coisa. A gente lê alguns livros, não é uma tarefa fácil. É difícil, mas é gratificante. Quando você adota uma criança que já tem todo um percurso, e reconhecer você como mãe é uma emoção muito grande. Não desistam. Adoção pode demorar. A espera normal de um filho é de nove meses, mas eu esperei por três anos. Não desistam”, incentiva a mãe que está aproveitando a licença maternidade com a filha.

 

“Ela é puro amor”, diz marido

“Se eu puder definir a minha mulher como mãe é amor. Ela é puro amor. Incondicional. Quando olho pra elas sinto que consegui conquistar o sonho de uma família. Me sinto realizado. A Vitória trouxe, na verdade, uma transformação radical na nossa vida. Não foi só o fato de a gente adotar uma criança e de a gente realizar o sonho da construção de uma família. Mas, também foi por encarar a realidade da condição de saúde dela. Costumamos dizer que da mesma forma que ela precisava da gente e precisava ter um lar e uma família, a gente precisava construir essa família. Acho que a nossa vida acabou se construindo como um quebra cabeça, onde as peças foram se encaixando e se transformando em realidade, vivência e felicidade. É muito difícil você olhar pra traz e ver quantos casais ainda estão em uma luta, quantas pessoas sonham, e o quanto é difícil e burocrático formar uma família por adoção. Então, não desistam. Nós caminhamos durante longos três anos, entre altos e baixos, e hoje eu não consigo me ver sem a minha filha, mesmo com a condição de saúde que ela tem. Sou extremamente realizado”, diz Everton Sousa, sobre a mulher Simone.

(Ana Mangas)