A música teve e tem várias funções no decorrer da história. É utilizada para louvar divindades, exaltar autoridades, expressar emoções, como forma de motivação, sedução, lazer, extravasar. São tantas possibilidades que seria impossível definir todas elas. No mundo atual, a música está presente na vida de todas as pessoas. Mesmo quem não curte ouvir um som é influenciado por ela em séries, novelas, comerciais, cultos, jingles etc.
No último fim de semana Marabá pode viver todo esse poder da música de uma maneira totalmente diferente da habitual. A cidade recebeu seu primeiro festival de música instrumental e que, ao que promete, chegou para ficar. Cerca de 2500 pessoas passaram pelo teatro do Centro de Convenções Carajás ao longo dos três dias de apresentações, que ocorreram entre 6 e 8 de maio.
O festival, que contou com o patrocínio do Instituto Cultural Vale e do Banpará, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, da Secretaria Especial da Cultura e do Ministério do Turismo, mobilizou artistas locais, produtores culturais, estudantes, fãs de música instrumental e muitos curiosos que compuseram um público diversificado e, para muitos, até inesperado.
Leia mais:“Depois de muito tempo sem grandes festivais na cidade isso é ótimo para aproximar o público e dar uma chance ao norte do Brasil, que é uma região muitas vezes esquecida para esse tipo de evento. Acertaram em trazer músicas diversificadas com bandas consagradas junto a nossas bandas locais. Horários acessíveis para classe trabalhadora e gratuito. Está sendo muito bom ter esse contato e viver essa experiência. É um desafio e deixa para nós essa mensagem de não desistir”, comenta o artista local Vinicius de Sousa Silva.
Palco Itacaiúnas
A sexta-feira começou com a apresentação do DUO Siqueira Lima, o casal composto por Cecília Siqueira e Fernando Lima levantou suspiros da plateia ao tocar músicas como Aquarela do Brasil, Um a Zero e Meu Primeiro Amor compartilhando o mesmo violão. A segunda apresentação também foi composta por um dueto: Thiago Espirito Santo e Sandro Haick.
No complemento da noite, a multi-instrumentista Carol Panesi e seu grupo levaram uma apresentação vinculada à natureza para o palco Itacaiúnas. Ela tocou violino, piano e em um dos momentos mais marcantes sentou-se na frente do palco para tocar flauta. Carol também foi responsável por ministrar uma das oficinas do festival, realizada na Galeria Vitória Barros.
“Toda a energia do festival foi muito boa. Desde a oficina senti a conexão com o público. Fui bem tratada pela equipe e foi um prazer trazer minha música para o norte do país e para Marabá”, destaca.
O encerramento da noite se deu com a lendária banda de jazz brasileiro Azymuth, reconhecidos no mundo todo, o grupo já tocou com músicos como Stevie Wonder e esteve entre os mais tocados no Reino Unido. Após o show um grupo de fãs ainda “invadiu” a lateral do palco para tirar fotos com os artistas.
Palco Araguaia
A cenografia foi toda composta por elementos da cultura local, canoas davam um nome diferente aos palcos, em cada dia do evento. Sempre fazendo referência aos rios da cidade. Além de Itacaiúnas, na segunda noite o palco foi nomeado como Araguaia e teve como sua primeira apresentação o ritmo amazônico de Rafael Guerreiro Quarteto.
“É uma honra e muita emoção participar de um festival desse porte. Toda decoração, cenário e cuidado com os artistas. Fico muito feliz de ter sido convidado e fazer parte deste momento”, comenta o guitarrista e violinista Rafael Guerreiro que tocou composições autorais com ritmo amazônico.
A Pirucaba Jazz foi à primeira banda da cidade a subir no palco. Falando das lendas da região, a banda foi muito aplaudida e representou bem a cidade. A apresentação encantou a aposentada Tânia Figueiredo Maia, que acompanhou as três noites de festival, “Para mim foram os melhores. Não deixaram nada a desejar para os grandes nomes nacionais. Foi muito tocante. Minha apresentação preferida. Me apaixonei por esse festival. Marabá precisa disso, espero que tenhamos a segunda edição”, completa.
Jayr Torres e Trio Corrente completaram a segunda noite do evento. O primeiro artista, vindo de São Luís, deixou o público de pé com solos de guitarra. O internacionalmente conhecido Trio Corrente repetiu a dose, mas dessa vez o que levantou a plateia foi o solo de bateria de Edu Ribeiro.
A banda que já ganhou o Grammy Awards, considerado o “Oscar da música”, ainda aproveitou para conhecer a cidade no dia seguinte, tendo realizado visitas na Orla de Marabá e Jardim Zoobotânico. “Normalmente a gente só segue do festival para o hotel. Muito felizes em ter a oportunidade de conhecer Marabá e tocar para o público daqui. É importante descentralizar esse tipo de festival trazendo para outras regiões do país”, comenta o pianista Fabio Torres.
Palco Tocantins
O terceiro e último dia do festival foi o mais regional de todos. Além de três apresentações paraenses, a noite já começou com o Hino de Marabá sendo tocado pela banda Choro e Harmonia, grupo criado a partir de uma escola de música da cidade. Tico Tico no Fubá, Brasileirinho e outros clássicos da música nacional compuseram o repertório.
Na segunda apresentação a plateia não conseguiu resistir ao ritmo dos Mestres Aldo Sena e Curica. Poucas cadeiras permaneceram ocupadas quando a guitarrada tocou no Palco Tocantins. Os corredores foram tomados por um público que não parou de dançar e ainda pediu bis.
Já preparando para o fim do festival, Fernando Cesar e seu Regional foram os responsáveis por dar continuidade ao show. “A música tocou o público marabaense que estava presente aqui. Acho que isso prova o sucesso que foi o festival e a produção da TheRoque Produções. Tenho certeza que será dado continuidade a esse festival nos próximos anos”, comenta Fernando César.
O fim da festa veio em grande estilo. Surpreendendo o público que permaneceu até o último minuto dos shows, a Carajazz Marabá Orquestra Popular foi a responsável pelo momento mais emocionante do evento.
A Big Band, composta por 19 membros que não vivem exclusivamente da música, desceu do palco e tocou sua última música no meio do povo e dos aplausos de uma plateia que acompanhou tudo de pé. “Tentamos o máximo nos conectar com o público, fazer um diálogo musical. Interagir e nos aproximarmos de verdade. Sentir a massa, a energia e ficamos felizes que foi recíproco”, comenta o maestro Walkimar Guedes.
Além dos palcos
O festival contou ainda com total acessibilidade. Deficientes visuais, munidos de fones de ouvido, puderam acompanhar a apresentação com a audiodescrição do que acontecia no palco durante os shows com a descrição da cenografia, iluminação e posicionamento dos músicos e instrumentos. A assessoria técnica foi prestada pela Nacélio Madeiro e a audiodescritora Laysa Madeiro.
Os deficientes auditivos também tiveram a oportunidade de curtir o festival com tradução em libras. Eles foram posicionados na frente do palco, com melhor visibilidade e proximidade das caixas de som para sentirem as batidas da música. Uma rampa de acesso também foi disponibilizada para cadeiras e pessoas com dificuldade de acesso.
Após cada apresentação era realizado um intervalo de 20 minutos para troca de palco frequentar a praça de alimentação do Centro de Convenções. Durante esse período, a festa continuava ao som de um DJ posicionado na parte externa do evento.
Durante a semana (2 a 6 de maio) o festival também realizou diversas oficinas relacionadas à música, relacionamento com a imprensa e montagem de palco. Ao todo foram mais de 65 artistas envolvidos em sete dias de festival, com 46 horas de programação cultural, divididas entre as cinco oficinas e os três dias de shows. (Texto: Osvaldo Henriques)
[Fotos: Bill Waishington]