Correio de Carajás

Cenário “desafiador” pode fazer Sinobras/Aço Cearense rever projeção

Sinobras é a maior empresa do Grupo Aço Cearense e também a maior de Marabá/ Fotos: Divulgação

A Aço Cearense, um dos maiores grupos siderúrgicos do país, que controla a Sinobras, de Marabá, ainda trabalha com uma projeção de elevar seu faturamento em cerca de 20% este ano, mas a combinação de alta de juros com tarifas de importação e câmbio volátil tem tornado o objetivo “desafiador”, o que pode fazer a companhia rever a estimativa em meados deste ano.

“Faturamos R$6,6 bilhões ano passado e queremos chegar a cerca de R$8 bilhões este ano. É um desafio. Até agora estamos conseguindo, mas é muito desafiador”, afirmou o vice-presidente de operações do grupo, Ian Corrêa, em entrevista à Reuters.

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A empresa afirma ter obtido no primeiro trimestre um crescimento de 42% na receita sobre o mesmo período de 2024, para R$1,75 bilhão.

“Não tinha nada de (tarifas) de Trump, de (alta) de taxas de juros”, explicou o executivo sobre o contexto do mercado de aço neste ano ante o momento em que a projeção da empresa para 2025 foi feita, no ano passado.

A Aço Cearense, que produz aços longos por meio da Sinobras em Marabá e possui uma operação de aços planos em Caucaia (CE), vendeu mais de 1 milhão de toneladas no ano passado, volume pulverizado entre mais de 16 mil clientes espalhados pelo Brasil, grande parte formada por pequenas e médias empresas que incluem construtoras e fabricantes de máquinas e equipamentos.

Parte do otimismo sobre a previsão para 2025 ocorreu diante da conclusão de investimentos de R$1,2 bilhão em aumento de capacidade produtiva no Pará, que alcançou 850 mil toneladas anuais, algo que a empresa está em fase de operação crescente neste ano com novos produtos como fio-máquina e vergalhão em formato de rolo, chamado “spooler”, disse Corrêa.

“Mas, para consumir isso, o mercado tem que crescer, mas ele está um pouco estacionado com a questão dos juros e dólar”, afirmou o executivo, citando que a empresa escoa a produção paraense por via rodoviária, incluindo para clientes de regiões tão afastadas da Sinobras quanto Sul e Sudeste, que concentram as maiores produtoras de aço do Brasil, como Gerdau, ArcelorMittal e Usiminas. Cerca de 40% das vendas da empresa no ano passado foram para essas regiões, afirmou.

Segundo o executivo, por enquanto, as mudanças no cenário global de aço causadas pela imposição das tarifas de 25% sobre importações de produtos siderúrgicos nos Estados Unidos “ainda não afetaram” as operações da Sinobras. Mas a perspectiva é de preços pressionados no mercado interno diante da ameaça de um aumento de importações de produtos que antes eram destinados ao mercado norte-americano.

“A tendência é de preços em queda… O que estamos sentindo hoje é que estamos faturando um volume maior, mas a preços menores”, disse o executivo.

A Sinobras vive a curiosa situação de ser uma das siderúrgicas mais próximas da mina de minério de ferro da Vale em Carajás, mas produz aço com 70% de sucata metálica, sendo uma das maiores recicladoras de aço do Norte e Nordeste do país.

A produção, no entanto, não atende totalmente as necessidades de laminação da companhia, diante de um déficit de 300 mil toneladas que deve começar a ser eliminado a partir de 2028, após a construção de uma nova usina que faz parte de um acordo assinado com a Vale em 2022, disse Corrêa.

“Estamos finalizando estudos de engenharia… Nosso projeto é que ao final de 2025 vamos começar o processo de contratação de equipamentos”, afirmou o executivo. O projeto para a nova usina envolve uma nova tecnologia que produz aço com uso de biomassa e que não depende de alto-forno como acontece atualmente nas grandes siderúrgicas tradicionais.

A primeira usina a usar comercialmente a tecnologia da Tecnored, uma controlada da Vale, será a Sinobras, disse Corrêa, citando investimento da companhia da ordem de US$300 milhões. A biomassa virá de plantações de eucalipto da Sinobras em Tocantins, onde a empresa deve concluir este ano a instalação de mais 10 fornos, chegando a 48 equipamentos.

PLANOS

Enquanto isso, na divisão de aços planos do grupo, em Caucaia, Corrêa afirmou que diante do cenário do mercado de aço, com oferta elevada de material importado, a empresa está comprando 30% de suas necessidades de fornecedores no Brasil e o restante está sendo importado. A unidade está trabalhando com um nível de ociosidade de 25% de sua capacidade de 550 mil toneladas.

“Há pouco tempo comprávamos quase 100% da Usiminas”, afirmou o executivo.

O principal produto plano da Aço Cearense são tubos soldados, material que pode ser usado para produção de uma série de itens, como cadeiras para escritório e equipamentos. A empresa afirma ser a maior produtora de tubos soldados da América do Sul.

Questionado sobre o pleito do setor siderúrgico para a criação de mais medidas de defesa comercial pelo Brasil, Corrêa citou que a Aço Cearense “defende muitas vezes o aumento das tarifas (de importação), mas o governo tem que ter a preocupação de adotar políticas para estimular o consumo de aço no país”.

Na véspera, o presidente-executivo da ArcelorMittal no Brasil, Jorge Oliveira, afirmou que a empresa pode rever planos de investimento no país se o governo não prorrogar uma medida de defesa comercial que elevou tarifas de importação para alguns produtos siderúrgicos. (Fonte: Reuters)