Correio de Carajás

Cena Rap em Marabá mostra que tem muito a oferecer ao movimento artístico da cidade

De Thayde e Dj Hum à Putodiparis, o Rap e o Trap vêm ganhando mais visibilidade e espaço entre os fones de todo mundo. Músicas que misturam em suas letras as vivências, ostentações e os “corres” vividos pelos artistas nas canções. O RAP e Trap se tornam, como o Rock and Roll foi no século passado, a contracultura e voz para os novos artistas.

Esses gêneros vêm se tornando uma porta de entrada para que pessoas do mundo inteiro mostrem a arte que produzem. E, em Marabá, não seria diferente. Ainda com a cena RAP/Trap em crescimento, jovens cantores vêm mostrando que têm muita bala na agulha em seus sons e disputam um lugar de renome na cena artística da cidade.

A Reportagem do Correio de Carajás conversou com dois artistas regionais do projeto RAP & TRAP Marabaense. Crias da cidade e da cultura hip-hop que ainda está emergindo no movimento artístico do município, Thiago Lábica e João Henrique, vulgo JH do Norte, falam mais sobre os projetos, a cena e planos para o futuro.

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Questionados sobre como surgiu a ideia do projeto Rap & Trap Marabaense, que foi selecionado pelo Edital Cultura em Movimento 2020 da Lei Aldir Blanc de Marabá, Thiago explica que foi a partir das batalhas de rimas que acontece nos três núcleos de Marabá. “A batalha acaba sendo esse espaço de trocas culturais, de encontro, de mobilização da juventude das periferias da cidade”.

Ele afirma que esses eventos acabam sendo o “empurrão” que falta para que os artistas comecem a escrever e gravar as próprias músicas. “A partir das experiências no freestyle, alguns MC´s começaram a compor. Surgiram, também, os estúdios musicais independentes”.

Citando os meios e as oportunidades que vão aparecendo para produção de mais “tracks” – o termo é utilizado para se referir a músicas – e na profissionalização dos músicos, melhorando as canções.

“A partir da Lei Aldir Blanc, esses espaços entram em evidência, como é o caso da 094rec (grupo de rap regional). Então, em alguma medida a gente começa a ter condições de produzir o nosso som’’, sintetiza.

Som esse que teve a oportunidade de virar clipe. O projeto teve a produção do próprio Thiago, juntamente com os rappers Juzin VM, JH do Norte, Davi Zin, LonyMC e Kadu BC. Contando com a parceria de Evandro Medeiros, professor da Unifesspa (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará), que carrega uma vasta experiência na produção de documentários e que acabou conhecendo o movimento, as músicas e se interessou em criar os videoclipes com a ajuda da fotógrafa e documentarista Alexandra Duarte.

Nas letras desse gênero musical, um dos assuntos mais abordados é a forma que os policiais tratam pessoas negras. Falam do racismo estrutural, relatam os preconceitos diários – que ainda acontecem – por serem pessoas negras e da periferia, ou de bairros mais afastados.

João Henrique, o JH, relata que o rap ainda é retratado pela sociedade como coisa de bandido. “É um fato. Não por causa do ritmo, mas porque veio da periferia. E tudo que vem da periferia e é feito pelo povo preto é tratado como coisa de bandido, marginalizado”.

Indagados sobre a produção dos clipes e das músicas autorais, os artistas explicam que 100% das canções são composições feitas por eles, utilizando referências como Racionais MC. “Foi corre pesado. Sair de madrugada e ver o povo curioso é algo motivador. Ver que está fluindo e que está saindo de uma brincadeira na praça para algo profissional”, cita JH.

Thiago conta à Reportagem que a ideia dos clipes foi algo orgânico e que saiu de alguns encontros do grupo. “Foram muitos diálogos e disposição da galera. Após definido alguns elementos que consideramos ser importantes, foram necessários cinco dias de gravação e muitas madrugadas de edição pelo professor Evandro e Alexandra”.

PROJETOS FUTUROS

“Temos interesse em continuar produzindo música. Alguns MC’s já possuem várias letras escritas, mas o processo de produção demanda tempo e somos todos trabalhadores, estudantes, estamos na correria pra pagar as contas”, ressalva Thiago, explicando que acredita na cultura do hip-hop, registrando suas vozes e pensamentos, e que os projetos vão saindo de acordo com as oportunidades que surgem.

JH do Norte conta que entre seus projetos pretendem continuar produzindo canções em outras vertentes do rap. “Entre outubro e novembro sai uma chyper de traps (uma música com vários MC´s) intitulada como Estrela Solitária”, antecipa. (Henrique Garcia)