Um cemitério de pedras construído há mais de 100 anos por descendentes de escravos pode se tornar uma área protegida por lei e virar sítio arqueológico. O local, conhecido como Campo Santo, é fonte de memórias e história para o povo da Comunidade Quilombola Rio Preto, no município de Lagoa do Tocantins.
Equipes do governo do Tocantins e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) estiveram na região e estudam o enquadramento do cemitério como sítio arqueológico histórico. Após visita à comunidade, mais pesquisas serão realizadas para fortalecer a proteção da memória do povoado.
A cantora Onorata Ferreira Lopes, de 78 anos, nasceu e cresceu na região. Ela diz que o Campo Santo é um lugar estimado pelos moradores, já que os antepassados descansam debaixo das grandes pedras e dos túmulos construídos pela comunidade.
Leia mais:“É um lugar que tenho estima, porque lá estão sepultados meu pai, meu ioiô, minhas tias, meus tios. Quando é Dia de Finados vamos lá colocar velas. Os sepultados lá eram os mais velhos, os troncos velhos, todos daqui”.
As lápides eram construídas pela própria comunidade a partir da lapidação de pedras de um morro próximo, mas atualmente não são mais fabricadas.
A proteção do cemitério fica sob responsabilidade das novas gerações. Para impedir que o gado de uma fazenda vizinha entrasse no local, foi improvisada uma cerca. O intuito é preservar o local que se tornou um símbolo do quilombo.
“Aquele local é uma tradição, desde que meus bisavós foram enterrados lá, temos uma amizade por aquele lugar de tal forma que jamais deveríamos esquecer. É tanto que fizemos a cerca pra livrar de gado ficar pisando. Temos que preservar aquele lugar”, contou José Tomás Lopes da Silva, representante de mais uma geração de quilombolas.
A proteção desses locais é garantida pela lei federal n.º 3.924 de 1961, a qual estabelece que os monumentos arqueológicos ou pré-históricos de qualquer natureza existentes em território nacional e de todos os elementos que neles se encontram ficam sob a guarda e proteção do poder público. Os sítios identificados como cemitérios estão classificados como monumentos arqueológicos.
“Caso seja enquadrado como sítio arqueológico histórico, passa a ser uma área protegida por lei, que não poderá ser destruída e deverá ser preservada. As atividades [no local e em seu entorno] não poderão impactar o sítio. Há necessidade, primeiramente, de realizar uma pesquisa”, esclareceu a superintendente do Iphan no Tocantins, Cejane Pacini Leal Muniz.
(Fonte:G1)