Em 15 anos, o índice de brasileiros com diabetes aumentou em 65%, como aponta uma pesquisa do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), vinculado ao Ministério da Saúde. Em 2021, cerca de 9,1% dos adultos brasileiros já eram diabéticos, contra 5,5% em 2006. O avanço do diabetes tipo 2, responsável por cerca de 90% dos casos, tem sido cada vez mais frequente entre os mais jovens. Especialistas apontam que os dados são preocupantes.
A endocrinologista paraense Carlliane Lins explica que o cenário observado nos últimos anos acende um alerta, considerando que o crescimento de novos casos da doença é além da estimativa. “A previsão é de que, em 2045, teremos um aumento de mais de 46%, mais do que o crescimento populacional estimado. Isso indica que 1 a cada 8 adultos viverão com diabetes. A razão desse aumento expressivo está relacionada aos maus hábitos alimentares da população que, por sua vez, aumentam as taxas de sobrepeso e obesidade”, afirma.
“Portanto, há uma interseção entre obesidade, diabetes e outras doenças metabólicas e cardiovasculares. O estilo de vida, em particular aquele em que predomina uma dieta hipercalórica e com baixa ingestão de fibras, o sedentarismo, estresse, má qualidade do sono e outros que, somados e presentes desde a infância, leva à precocidade nas alterações metabólicas que podem desencadear não só o diabetes tipo 2 em jovens, como outras doenças cardiovasculares. A preocupação com o estilo de vida deve começar o quanto antes, dado o papel do meio ambiente nos períodos iniciais da vida, incluindo na fase intrauterina”, alerta a médica.
Leia mais:Fatores de risco
Entre as situações que podem agravar ainda mais o diabetes, a especialista aponta para questões como a inadequação do estilo de vida alimentar e físico. “Os principais fatores de risco são os ambientais, entre os quais os maus hábitos dietéticos e a inatividade física, que contribuem para a obesidade. Em pelo menos 80% a 90% dos casos, o diabetes tipo 2 associa-se ao excesso de peso e a outros componentes da síndrome metabólica (hipertensão e alterações no colesterol e triglicerídeos)”, alerta.
“Outros fatores de risco que se destacam são: histórico familiar da doença, idade avançada, diagnóstico prévio de pré-diabetes ou diabetes mellitus gestacional. Os indivíduos que já apresentam fatores de risco para desenvolver diabetes tipo 2 necessitam de intervenção no estilo de vida e, uma vez implementada a mudança, há uma redução de 58% na incidência da doença em um período de 3 anos, segundo os estudos”, diz Carlliane.
Prevenção e tratamento
Adotar hábitos saudáveis é imprescindível para combater a doença, como ressalta a médica. “É fundamental investir numa alimentação saudável, com um consumo adequado de fibras (frutas, verduras, legumes, grãos) e proteínas magras, além de evitar excesso de doces, frituras, massas refinadas. Importante também praticar atividade física regularmente e manter um peso ideal. Esses cuidados devem ser iniciados e incentivados desde a infância”, relata a endocrinologista.
De acordo com Carlliane, três fatores são importantes no tratamento do diabetes: medicação, dieta e treino. “Medicações com segurança e proteção cardiovascular, que promovem o controle da glicemia e também podem ajudar na perda de peso. Além do tratamento medicamentoso, é fundamental cumprir uma dieta apropriada, com restrição no consumo de açúcar, massas refinadas e gorduras ruins, assim como ter uma boa ingestão de vegetais e proteínas magras, associado à prática de regular de atividade física por, pelo menos, 150 minutos semanais”, finaliza.
Serviço de referência no Pará
São dois os hospitais da rede SUS de referência em diabetes no estado: o Hospital Jean Bitar, gerido pelo governo do estado, e o Hospital Universitário João de Barros Barreto, de competência federal. O Jean Bitar faz o acompanhamento ambulatorial dos pacientes diabéticos por meio de uma equipe multidisciplinar e disponibiliza internações e procedimentos cirúrgicos para usuários do SUS, provenientes de todos os municípios paraenses. Em caso de suspeita da doença, a população deve buscar atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), administradas pelos municípios, a fim de assegurar o diagnóstico e iniciar o tratamento gratuito. O atendimento na UBS inclui informações para aquisição, dispensação e distribuição dos medicamentos necessários de forma regular e sistemática.
A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) atua na orientação e capacitação de profissionais de saúde dos municípios sobre o fluxo de atendimento de pacientes com diabetes. A equipe da Coordenação de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (CDCNT) do órgão atua em todo o estado, com assessoria técnica para implantação de ações, apoiando as Secretarias Municipais de Saúde. Nas capacitações é esclarecido o fluxo de atendimento para os pacientes diabéticos, que começa na atenção primária, onde são oferecidas ações de detecção, controle, prevenção e tratamento medicamentoso, o que inclui insulina.
A Redação Integrada de O Liberal entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) para levantar quais os serviços de referência em Belém para quem tem diabetes ou para quem está em busca de diagnóstico, mas, até a conclusão desta matéria não obteve retorno.
Entenda o que é a diabetes tipo 2 em três pontos:
É uma doença crônica caracterizada pela hiperglicemia, ou seja, pelo aumento de glicose (açúcar) no sangue
Esse aumento é resultado de uma série de alterações metabólicas, sendo que uma das principais está relacionada à dificuldade da insulina em agir corretamente na captação da glicose pelas células do corpo
A iniciação da doença depende do somatório de fatores genéticos e ambientais: má alimentação (consumo excessivo de calorias mediante ingestão de alimentos ricos em açúcar e gorduras) e sedentarismo.
(O Liberal)