Correio de Carajás

Fraude em Medicina: PF faz busca e apreensão em 27 endereços por fraude em vestibular online

São cumpridos 27 mandados de busca para apurar esquema criminoso em Marabá-PA e em outros três estados

Agentes da PF amanheceram na casa de vários estudantes do curso de medicina da Facimpa em Marabá

A Polícia Federal pode estar fazendo uma das maiores operações em Marabá nesta quarta-feira (16). Segundo fonte da própria PF, delegados e agentes foram a 27 endereços de estudantes e outras pessoas que estariam ligadas a um esquema de fraude em vestibular online de medicina para ingresso ao curso de medicina da Faculdade de Ciências Médicas do Pará (Facimpa), localizada na Folha 32, Nova Marabá, e em outras instituições.

A 4ª fase da Operação Passe Livre, em Marabá, no Pará, mas também no Piauí, São Paulo e Tocantins. O objetivo é desarticular esquema criminoso responsável por fraudar vestibulares para ingresso em cursos de medicina de faculdades particulares. O grupo resolvia prova para candidatos pelo custo de R$ 2 mil.

A investigação é desdobramento das fases anteriores da Operação Passe Livre (deflagrada em fevereiro) que desvendou fraudes ao Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2022 e 2023. Durante a análise dos materiais apreendidos foram identificados, até agora, 63 investigados e provas fraudadas em quatro Estados da Federação.

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A fraude consistia em burlar o sistema de segurança das provas de vestibulares online de várias faculdades de medicina, permitindo, por exemplo, que terceiros tivessem acesso às questões das provas. Em outros casos, um dos investigados (André Ataide) realizava as provas no lugar dos beneficiários da fraude. Foram identificadas situações em que o grupo chegou a fraudar provas para nove candidatos simultaneamente, utilizando-se de vários associados para resolver as questões da prova.

A PF confirmou – através de comprovantes de transferências bancárias – pagamentos relativos à compra da resolução das questões das provas. Os valores pagos pela realização das fraudes eram divididos entre os responsáveis por resolver ilicitamente as questões das provas.

Até o presente momento, está evidenciada a associação de mais de 30 investigados para, criminosamente, realizar as provas no lugar de terceiros ou fornecer as respostas para inserção nos sistemas.

O caso impressiona pela expertise e facilidade encontrada pelos criminosos em burlar os sistemas de segurança das provas online de vestibulares de medicina de várias faculdades.

Diante da repercussão nacional e da necessidade de repressão uniforme, foi exarada autorização do Ministro da Justiça e Segurança Pública para que a Polícia Federal investigasse o fato criminoso.

Se confirmada a hipótese criminal, os envolvidos poderão responder pelos crimes de estelionato, associação criminosa, falsidade ideológica, uso de documento falso, além de outros que possam ser identificados ao longo da investigação.

O nome “Passe Livre” faz alusão à facilidade para a concretização da fraude.

A Reportagem do CORREIO DE CARAJÁS ouviu os advogados Magdemberg Teixeira e Diego Adriano Freires, do Escritório Teixeira & Freires, que representam dez dos investigados pela PF. Segundo ele, a polícia está convocando os investigados a irem à Delegacia ainda na manhã desta quarta-feira. “Ainda não tivemos acesso aos desdobramentos da investigação mas estamos aqui para falar com o delegado e nos apropriar dessas informações”, explica Magdemberg.

Magdemberg Teixeira e Diego Adriano estão na defesa de 10 estudantes investigados

Diego Freires observa que neste momento, ele e seu colega estão pedindo redesignação de algumas oitivas a que seus clientes foram convocados para estarem presentes. “Entendemos que eles irão se manifestar e contribuir com a justiça após saberem e terem acesso aos autos do inquérito. A partir daí, vamos dar início á oitiva dos acusados que estamos representando”

ROUBO DE PROVA

A Reportagem levantou que a própria Facimpa, em Marabá, já havia aberto uma investigação interna sobre a possível negociação de provas por alunos junto a uma colaborada que trabalhava com reprografia (xerox), por valores que passam de R$ 2.000,00 cada exame ao longo do curso.

RESPOSTA DA FACIMPA

Na manhã desta quarta-feira, respondendo a questionamento do Correio de Carajás, a instituição emitiu a seguinte nota: “A Facimpa (Faculdade de Ciências Médicas do Pará) informa que, desde o início das investigações da operação “Passe Livre”, conduzida pela Polícia Federal, tem cooperado ativamente com as autoridades. Em nota oficial, a PF esclarece que não há indícios de envolvimento das faculdades particulares nos crimes investigados.

A instituição reforça seu compromisso em continuar prestando total colaboração para garantir a integridade e transparência nos processos seletivos de seus cursos. A Afya reitera seu compromisso inabalável com a excelência acadêmica, a ética e a transparência, princípios que guiam todas as suas ações. A empresa mantém uma postura firme de intolerância a qualquer comportamento que viole seus valores fundamentais”.

Quanto a situação dos acadêmicos investigados, a faculdade respondeu que eles seguem matriculados normalmente. “Sobre os estudantes, estamos acompanhando o desdobramento das investigações, mas, até aqui, não temos subsídios para expulsá-los. Estão sob investigação. Não foram condenados”.

(Ulisses Pompeu e Thays Araujo)