Neste cenário dominado pela tecnologia e pela urgência, emerge um nicho de pessoas que opta por trilhar um percurso menos convencional, se dedicando ao mundo da arte por meio do artesanato. Em modestos ateliês e estúdios improvisados, estes artesãos contemporâneos modelam, esculpem e dão vida às suas criações com as próprias mãos, desafiando a efemeridade que caracteriza o panorama contemporâneo.
Afastados das esteiras de produção industrial, esses artistas exploram uma ampla gama de materiais, que vão desde a madeira e a cerâmica até tecidos e metais. Cada peça concebida é única, carregando consigo não apenas a habilidade técnica, mas também a história e a paixão do artífice. Ao invés de seguir tendências massificadas, eles buscam inspiração nas tradições do passado e nas suas próprias narrativas pessoais, transformando suas visões singulares em obras de arte tangíveis.
Suas criações representam uma fusão entre a sensibilidade do artista e o ambiente ao seu redor, incorporando práticas ecoconscientes e técnicas tradicionais que transcendem a fugacidade das modas momentâneas.
Leia mais:Ao dedicarem suas vidas ao artesanato, esses criadores não só buscam uma forma de expressão, mas também resistem à cultura do descartável, celebrando a singularidade e a atemporalidade das peças feitas à mão. Dentro desse universo artístico, um casal oriundo de Marabá, se destaca como uma ponte entre o passado e o presente, esculpindo um futuro onde a arte não é apenas um objeto, mas uma história de amor, superação e companheirismo.
O crochê, muitas vezes visto como uma arte tradicional associada a gerações mais antigas, ganha contemporaneidade nas mãos talentosas de Sabrina Lana, uma jovem de 27 anos, cuja jornada no mundo do artesanato também começou na infância. A marabaense revela que aprendeu os fundamentos do crochê quando criança, mas acabou abandonando devido a contratempos.
Foi durante seu emprego em uma loja de artesanato no shopping que redescobriu essa arte. Uma espada de crochê foi o gatilho para uma epifania, percebendo não apenas a capacidade do crochê de aliviar ansiedades, mas também sua viabilidade como uma fonte de renda extra.
Ao se afastar de um trabalho anterior, prejudicada pelo estresse, Sabrina encontrou no crochê um afago terapêutico. A oportunidade de se expressar e criar acabou se tornando uma âncora durante os períodos de dificuldade em sua vida, incluindo os desafios acadêmicos.
“O crochê é uma alegria enorme, desde o planejamento da peça até vê-la concluída no final”, expressa Sabrina. Ela destaca a satisfação de utilizar seu tempo para criar peças belas e funcionais, além de discutir a importância de valorizar o trabalho dos artesãos, enfrentando desafios como a precificação adequada.
A jovialidade de Sabrina contradiz a percepção comum de que o crochê é reservado para uma geração mais velha. Ela destaca a versatilidade da técnica, que vai além dos tradicionais padrões de avós, explorando geometrias e combinações de cores mais modernas. “O crochê é uma peça atemporal, sempre se renovando. Ultimamente, temos visto muitos jovens se interessando por essa arte”, comenta.
QUEBRANDO TABU
Mas, a jovem não está sozinha nessa e surpreende ao relatar que possui um “sócio”, Pedro Vinícius, seu companheiro de 24 anos. Juntos, eles não apenas compartilham uma vida, mas também uma paixão pelo artesanato. Ele, que é estudante de terapia ocupacional, enfatiza a terapia intrínseca no crochê, que vai além da criação de peças, influenciando positivamente a perspectiva de vida.
Além do crochê, o jovem explora as String Arts, uma forma de arte em que fios ou linhas são utilizados para criar padrões decorativos ou figuras em uma base, geralmente composta de madeira ou papelão, as quais Pedro consegue dominar. A técnica envolve fixar pregos ou tachinhas na base de maneira específica e, em seguida, entrelaçar fios entre esses pontos para formar padrões geométricos ou desenhos mais complexos.
“A String Art oferece uma ampla gama de possibilidades criativas, permitindo a criação de designs simples ou intrincados. Além de padrões geométricos, os artistas podem explorar formas abstratas, retratos ou qualquer outra ideia que desejem expressar usando fios e pregos”, explica.
Apesar desta forma de arte ter ganhado popularidade como uma maneira única e personalizada de decorar espaços, sendo apreciada tanto por amadores quanto por artistas mais experientes, não há outro artista em Marabá que desenvolva tal material, tornando seu processo mais único ainda.
“A escolha das cores, as texturas e o processo de criação manual me dão um espaço para encontrar atenção plena, uma oportunidade de desacelerar em meio à agitação diária”, conta.
COMPANHEIRISMO
Ao abordar a colaboração com sua companheira e colega artesã, Pedro destaca a importância de incentivar mutualmente. Sua entrada no mundo do crochê foi impulsionada pelo desejo de aprender e criar, uma iniciativa inspirada pela paixão de Sabrina. Juntos, eles formam uma equipe dinâmica, compartilhando não apenas uma vida, mas também uma dedicação ao artesanato.
O fato de Pedro ser um homem no mundo predominantemente associado às mulheres no artesanato não é apenas uma característica distintiva, mas também desafia estereótipos de gênero: “Eu acho que o crochê é uma forma de expressão que transcende rótulos e gêneros, evidenciando como essa arte pode ser apreciada e praticada por qualquer pessoa, independentemente do sexo”.
Sobre todo o processo artesanal dos materiais que criam, Pedro enfatiza a importância de criar ambientes terapêuticos e instigar a atenção plena através do artesanato. Com sua visão cientifica da coisa, garante que o crochê não é apenas uma proposta de negócio: “É uma maneira de fazer as pessoas enxergarem o mundo de forma diferente, incentivando a autoexpressão e a valorização do trabalho manual”, levanta.
O apoio mútuo entre Sabrina e Pedro é tocante e mostra como a colaboração os impulsiona a explorar novas fronteiras no mundo do artesanato. Juntos, eles veem o crochê não apenas como um negócio, mas como uma expressão de amor e uma forma de terapia compartilhada.
(Thays Araujo)