O porta-aviões aposentado São Paulo, que pode ser afundado pela Marinha depois de passar meses “vagando no mar” e ser impedido de atracar no Brasil e no exterior por conter amianto, tem 65 anos desde que foi construído na França. Um gigante, o navio tem 266 metros de comprimento e, em plena carga, chega a pesar 33 mil toneladas.
A embarcação, que tem quase 6 mil compartimentos, foi incorporada à Marinha em 2000. Há exatos 22 anos, no dia 1º de fevereiro de 2001, embarcou para o Brasil.
Havia um plano de modernização do navio, para que ele pudesse operar até 2039, mas ele foi retirado das Forças Armadas em 2018.
Leia mais:O navio, ao ser construído, tinha toneladas de amianto como isolante térmico entre as paredes. Na época, essa substância era amplamente utilizada, já que não era reconhecida como tóxica e cancerígena.
Somente em 2017 o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu a produção, a comercialização e o uso do amianto no Brasil.
Entretanto, no final da década de 1990, o São Paulo passou por um processo de “desamiantação” dos compartimentos, em que foram retiradas aproximadamente 55 toneladas dessa substância.
Mesmo assim, ainda há cerca de 9,6 toneladas de amianto, que não poderia ser retirada por fazer parte da estrutura do navio.
Confira, abaixo, as características do porta-aviões aposentado:
- Comprimento: 266 metros;
- Largura: 51,2 metros;
- Velocidade máxima: 32 nós, ou 59 quilômetros por hora;
- Tripulação: 1.920 marinheiros, quando foi comissionado;
- Pista de voo: 165,5 metros de comprimento;
- Hangar: 180 metros de comprimento.
Leilão
O navio desativado foi comprado por uma empresa turca, a Sök, por R$ 10 milhões, num leilão realizado pela Marinha do Brasil em 2021.
O navio aposentado saiu do Rio de Janeiro, mas, quando se aproximava do Mar Mediterrâneo, a Turquia revogou a concessão para que atracasse.
Sem poder entrar na Turquia, o porta-aviões desativado foi trazido, então, de volta para o Brasil (veja vídeo acima). A empresa queria que ele atracasse no Porto de Suape, em Pernambuco, mas o governo do estado alegou riscos para o meio ambiente e para a segurança portuária.
Em novembro do ano passado, a Justiça Federal proibiu a atracação da embarcação, que seguiu vagando próxima ao litoral pernambucano até o último dia 20 de janeiro, quando a Marinha assumiu o controle e a levou para águas internacionais.
Na época, a empresa MSK, que fazia o transporte do navio desativado entre a Europa e o Brasil, ameaçava abandoná-lo no mar.
Confira, abaixo, a história do porta-aviões aposentado até chegar ao Brasil:
Marinha Francesa
O primeiro nome do navio era Foch (R-99), em homenagem ao general Ferdinand Foch, ex-chefe do Estado-Maior do Exército francês.
Ele e o navio Clemenceau (R-98) formavam um par de porta-aviões da Marinha Francesa chamado de Classe Clemenceau, nomeado em homenagem a Georges Clemenceau, ex-primeiro ministro do país.
A Classe Clemenceau foi o primeiro projeto de porta-aviões bem-sucedido da França após a Segunda Guerra Mundial. O Foch foi construído pelo estaleiro Chantier de l’Atlantique, em St. Nazaire, na França.
O Foch e o Clemenceau serviram entre 1961 e 2000. O Foch, que se tornou São Paulo, foi vendido ao Brasil em 2001. O Clemenceau foi desmontado e reciclado em 2009.
Durante os anos em operação, o Foch participou de operações como:
- Operação experimental nuclear no Oceano Pacífico, em 1996;
- Operação Saphir II, em 1978, durante a independência da ex-colônia da Somalilândia Francesa, atual República do Djibuti;
- Entre 1993 e 1994, atuou na guerra civil que culminou na desintegração da antiga República Socialista Federativa da Iugoslávia.
Venda ao Brasil
As negociações para venda do navio da França para o Brasil duraram mais de um ano. Esse negócio foi fechado em agosto de 2000, por cerca de 12 milhões de dólares.
Em setembro, o navio passou por um processo de adaptação, incluindo a retirada do resto de isolamentos de amianto, que já vinha sendo realizada há três anos.
Em 4 de setembro a primeira tripulação brasileira embarcou. Em novembro, houve a transferência e incorporação do navio à Marinha do Brasil. Entretanto, somente em 1º de fevereiro de 2001 a embarcação partiu da França, depois que foram feitos reparos e trocas de equipamentos.
Acidentes e mortes
Em 17 de maio de 2005, houve um o rompimento de uma tubulação de vapor superaquecido no porta-aviões São Paulo, deixando diversos feridos e três mortos.
O acidente aconteceu no sistema utilizado como catapulta para o lançamento de aeronaves, quando o navio fazia exercícios militares a cerca de 20 quilômetros da Ilha Rasa, próximo à entrada da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
Somente em 2007 o porta-aviões voltou a sair, depois de um período de reparos.
Outro acidente aconteceu em 2012, quando houve um incêndio na antessala de acesso a um dos alojamentos de bordo. Havia quatro tripulantes no local. Dois deles ficaram feridos e um morreu.
Entenda o caso
- Após ser vendido para uma empresa turca, que não conseguiu levá-lo para a Turquia, o navio foi rebocado de volta ao Brasil;
- A empresa decidiu atracar a embarcação em Suape, no Grande Recife, por Pernambuco ser mais próximo da Europa, e não no Rio de Janeiro, de onde a embarcação partiu;
- Por causa de risco ambiental, o governo de Pernambuco foi contrário à atracação e acionou a Justiça Federal;
- Uma decisão judicial proibiu que o porta-aviões atracasse no estado e determinou multa diária de R$ 100 mil ao governo federal e à empresa agenciadora, em caso de descumprimento;
- Em janeiro de 2023, a empresa responsável pelo navio ameaçou abandonar o porta-aviões no mar e disse que era um “pedido de socorro” por não ter mais recursos para manter a embarcação.
(Fonte:G1)