Correio de Carajás

Canadense é a primeira pessoa assumidamente trans e não-binária a receber medalha nas Olimpíadas

Final do futebol feminino nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 aconteceu nesta sexta-feira; Canadá derrotou a Suécia nos pênaltis, por 3 a 2, e ficou com o ouro

Quinn, atleta canadense no futebol feminino, tornou-se nesta sexta-feira a primeira pessoa assumidamente trans e não-binária a receber uma medalha nos Jogos Olímpicos. Embora tenha vencido bronze na Rio 2016, Quinn, de 25 anos, não havia ainda revelado publicamente sua identidade de gênero. O anúncio foi realizado apenas em 2020, o que lhe permite fazer história entre as pessoas LGBTQIAP+ ao disputar a final com a Suécia e levar a medalha de ouro na decisão inédita também para o Canadá, que venceu as adversárias, nos pênaltis, pelo placar de 3 as 2. Com a bola rolando, a disputa terminou em 1 a 1.

Em 22 de julho, véspera do início do evento esportivo no Japão, Quinn compartilhou com seus seguidores no Instagram sentimentos diversos em razão de sua atuação nos jogos nesta edição após ter se revelado transgênero e pessoa não-binária.

“Primeira pessoa assumidamente trans a competir nas Olimpíadas. Eu não sei o que sentir. Eu sinto orgulho ao ver ‘Quinn’ na escalação e na minha credencial. Eu sinto tristeza por saber que houve atletas olímpicos anteriores a mim impossibilitados de viverem sua verdade por causa do mundo. Eu sinto otimismo por mudança. Mudança na legislação. Mudança nas regras, estruturas, e mentalidades. Principalmente, eu sinto percepção das realidades. Garotas trans sendo banidas dos esportes. Mulheres trans enfrentando discriminação e preconceito enquanto tentam seguir seus sonhos olímpicos. A luta não está perto de acabar… e eu vou celebrar quando todos nós estivermos aqui”, afirmou Quinn.

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Quinn, do Canadá, e Yuzuho Shiokoshi, do Japão, em jogo da Olimpíada Tóquio 2020 Foto: KIM HONG-JI / REUTERS
Quinn, do Canadá, e Yuzuho Shiokoshi, do Japão, em jogo da Olimpíada Tóquio 2020 Foto: KIM HONG-JI / REUTERS

Na postagem em que contou sobre sua identidade de gênero, feita em 8 de setembro de 2020, Quinn disse que não foi fácil redigir aquele texto. À imprensa canadense, Quinn explicou que parte da razão pela qual decidiu se assumir foi porque se cansou de gerar mal-entendidos perante a sociedade e a mídia, além de servir como alguém “visível” para os jovens que estejam questionando seus próprios gêneros.

“Sair do armário é DIFÍCIL (e meio besteira). Eu sei que, para mim, é algo que eu vou fazer de novo pelo resto da minha vida. Como eu vivi como uma pessoa trans assumida com as pessoas que mais amo por muitos anos, eu sempre pensei sobre quando eu iria me assumir publicamente”, disse Quinn na publicação.

No mesmo post, Quinn descreveu a rede social como um “espaço esquisito”, destacando que pensou em várias maneiras de destacar a forma como se vê, mas disse que sabe que não é esse o motivo para seus seguidores acompanharem sua conta. Assim, disse que enxergou nesse anúncio sobre quem realmente é como uma oportunidade de mostrar a importância da representatividade.

“Eu queria resumir os sentimentos que tinha pela minha identidade trans em um post, mas não é realmente por isso que as pessoas estão aqui, incluindo minha própria pessoa. Então EM VEZ DISSO, eu quero me tornar visível para a galera queer que não vê pessoas semelhantes em seu feed. Eu sei que isso salvou minha vida anos atrás”.

 

 

Quinn, de vermelho, joga pela seleção de futebol feminino cadanense na Olimpíada Foto: Instagram @thequinny5 / Reprodução
Quinn, de vermelho, joga pela seleção de futebol feminino cadanense na Olimpíada Foto: Instagram @thequinny5 / Reprodução

Quinn, que joga pelo clube americano OL Reign, também destacou a necessidade de a comunidade queer receber apoio das pessoas cis, termo referente a cisgênero, ou seja, pessoas cuja identidade de gênero coincide com seu sexo biológico. O oposto é usado para as pessoas transgênero, quando a pessoa não se identifica com o sexo de seu nascimento, podendo ser feminino ou masculino. Já a identidade de gênero é múltipla e, para algumas pessoas, como é o caso de Quinn, tal forma de ser não se define em masculino ou feminino.

“Eu quero desafiar o pessoal cis (se você não sabe o que cis significa, isso significa que provavelmente é o que você é) a ser um aliado melhor. É um processo, e eu sei que não será perfeito, mas se eu puder encorajar vocês a começarem, então já é alguma coisa”, afirmou Quinn, listando suas dicas de boas práticas para demonstrar respeito:

  1. “coloque seus pronomes na sua bio (de rede social)
  2. siga / ouça outras pessoas trans / não binárias (@janetmock , @ashleemariepreston , @alokvmenon para mencionar algumas)
  3. pratique usar pronomes neutros com amigos / de frente a um espelho
  4. vote
  5. comece a perceber quando você presume algo sobre alguém em locais públicos / banheiros / em qualquer lugar”.

 

 

A carreira profissional de Quinn deu um salto enquanto jogava pela Universidade de Duke, na Carolina do Norte, nos EUA, e seu talento foi notado pela Liga Nacional de Futebol Feminino americana. Já pela equipe olímpica do Canadá, começou a jogar em 2012, mas perdeu pelos EUA em Londres. Foi na Olimpíada do Rio que a seleção de Quinn conquistou medalha de bronze. Já a Suécia, com quem o Canadá disputa a final nesta sexta-feira, ficou com a prata em 2016. Além disso, desta vez foi a seleção canadense que tirou a chance do ouro para os EUA, derrotando-os na semi-final.Em sua descrição do Instagram, Quinn cita os pronomes em inglês “they” e “them” para explicitar a forma como deseja ser tratada pelos demais. Em tradução ao pé da letra para português, significam “eles” e “deles”. Na prática, representam uma forma de as pessoas não-binárias não precisarem se enquadrar nos quesitos socialmente vistos como feminino e masculino. Em português, não há oficialmente uma maneira de inserir tal grupo, mas nas redes sociais costuma-se adaptar a grafia dos pronomes para “elu” e “delu”, por exemplo. Com relação às palavras que identificam o gênero, é usada a letra “e” no lugar, como em “amigue”, em vez de “amigo” ou “amiga”, para se referir a alguém que não se vê nem como um nem outro ou que é gênero fluido.

(Fonte: O Globo)