O caminhoneiro Wanderson George Coelho Lopes narra que chegou a Parauapebas no dia 22 de abril para descarregar verduras e depois seguiu até Canaã dos Carajás com o objetivo de fazer uma entrega de ração ao comércio local quando passou mal no meio do caminho.
“Senti febre e falta de ar. Precisei ligar para um conhecido meu, que me buscou no caminhão e me levou para o Hospital Municipal, onde fiquei internado cerca de oito dias. Fizeram um teste rápido em mim, deu negativo, mas eu estava com todos os sintomas. Eu dividi espaço com outros pacientes positivos para o coronavírus. Ficamos no mesmo quarto e usávamos o mesmo banheiro”, declara o caminhoneiro.
Segundo Wanderson Lopes, amostras de sangue foram coletadas e enviadas ao Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), em Belém. O resultado só deve chegar no próximo sábado (2), mas mesmo assim o caminhoneiro recebeu alta médica. “Disseram-me (os profissionais do hospital) que eu havia vencido a doença e isso me assustou, porque o resultado do exame nem chegou ainda. Mandaram eu arrumar minhas coisas; eu disse que era de Goiás, que não tinha para onde ir, e eles disseram que não poderiam fazer nada. Peguei minhas coisas, então, e fui para a portaria, onde fiquei em uma pequena sala. Nesse momento, chegou um enfermeiro chamado Rafael. Eu expliquei para ele minha situação e o mesmo me disse que eu tive alta, que o problema agora era meu”, desabafa ele.
Leia mais:Indignado, o carreteiro gravou um vídeo que viralizou nas redes sociais no município. “Achei isso um descaso. Não poderia, de maneira alguma, ter saído do hospital sem minha família ter chegado aqui e sem realmente saber o resultado do meu exame, ou fazer um teste rápido novamente. Dormi com o auxílio de um balão de oxigênio e fui mandado embora ainda sentindo falta de ar”, lamenta.
Wanderson está a 1,2 mil quilômetros da casa dele. Em Canaã dos Carajás, está contando com a ajuda de um amigo para ficar em isolamento. Ele está em um quarto de hotel até a família chegar.
PREFEITURA CONTESTA
Em nota, a Prefeitura de Canaã dos Carajás informa que, em relação ao vídeo de Wanderson, “o paciente recebeu atendimento seguindo todos os protocolos, foi internado, coletado material para pesquisa de Covid e, assim que sua situação foi considerada estável pela equipe médica, recebeu alta, com a recomendação de manter distanciamento social. Ainda assim, insistiu com a equipe de saúde que queria permanecer no Hospital”.
Ainda de acordo com a prefeitura, não é recomendável a estadia no Hospital Municipal sem que o quadro do paciente exija, visto que isso poderia representar um risco tanto para o paciente, quanto para os demais, além da ocupação indevida de um leito que poderia ser utilizado por outras pessoas.
A prefeitura explica, também, que a equipe de saúde ofereceu ao paciente o contato com a assistência social do município, para que ele fosse encaminhado a um local de estadia, o que teria sido negado por ele. “Apesar da recusa do paciente, as equipes de assistência social continuam à disposição dele, e em busca ativa, para que ele possa ser abrigado em um local adequado enquanto cumpre o isolamento social e aguarda a chegada de familiares”, finaliza a nota. (Nyelsen Martins)