Correio de Carajás

Caminhões ignoram interdição e ponte do Itacaiunas pode cair

Rachaduras visíveis e cimento caindo se misturam a um cenário em que caminhões pesados continuam atravessando a ponte em “colapso”

Ponte está com estrutura comprometida e foi interditada há quase um ano. Mesmo assim, motoristas que transportam minério ignoram
Por: Ulisses Pompeu

A ponte de 180 metros de extensão que liga comunidades rurais de Marabá e Parauapebas, na região do Alto Bonito, está próxima de entrar em colapso. A estrutura, construída há mais de 20 anos, sofreu desgaste acelerado nos últimos anos com a passagem constante de caminhões carregados de minério e boiadeiros pesados, mesmo após ter sido oficialmente interditada pela Prefeitura de Parauapebas em janeiro deste ano.

Por meio de vídeos enviados por um motorista que trafega quase diariamente por aquela vicinal, é possível identificar rachaduras, partes de concreto destruídas e colunas expostas e corroídas.

Quem vive na região sabe que o problema ficou fora de controle. A interdição nunca foi respeitada e a ponte continua recebendo, diariamente, dezenas de veículos de grande porte. O motorista Luiz Carlos Dias, que transporta gado toda semana de fazendas daquela região para um frigorífico em Marabá, relata que cerca de trinta caminhões atravessam o trecho todos os dias, alguns deles com carga estimada em até 40 toneladas, muito acima do que a estrutura suporta. “Passam muitos caminhões com minério clandestino por aqui e isso pressiona muito a ponte”, diz o motorista.

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Para os moradores, o medo se mistura à rotina. Carlos Alberto, que mora na Vila São Raimundo, naquela região, relata que já perdeu a conta de quantas vezes viu caminhões enormes passando pela ponte. Ele teme que a estrutura não aguente por muito mais tempo. “A gente sabe que ela (a ponte) não segura mais esse peso todo. Todo dia passam carretas bitrem carregadas, como se nada estivesse acontecendo”, afirma.

O risco, segundo ele, vai além da preocupação com os motoristas. “Tem as crianças. O ônibus escolar passa por essa ponte todo dia durante as aulas. Meu maior medo é acontecer uma tragédia quando elas estiverem atravessando. Inclusive, um sobrinho meu é transportado num ônibus desses”, diz.

Além de sustentar o trânsito local, a ponte é uma das vias mais importantes para transporte escolar, deslocamento de moradores e escoamento de produção agrícola. Na prática, mesmo interditada, ela segue sendo o único caminho funcional para quem mora nessa área rural. A alternativa seria a travessia de balsa, mas naquela direção o rio fica muito seco a maior parte do ano, e o calado da embarcação não suportaria as pedras no leito.

Motoristas de carretas ignoram solenemente a placa de interdição e atravessam a ponte sobre o Rio Itacaiunas.

Vídeos enviados pelo motorista à reportagem do CORREIO mostram o tamanho do problema: colunas deterioradas, rachaduras abertas e ferragens já expostas. Há registros também do rompimento das barreiras que deveriam impedir o tráfego, retiradas, supostamente, por máquinas operadas por empresas de mineração clandestinas e transporte de gado.

Carlos Alberto alerta que a ponte pode ceder por completo em uma cheia mais forte do Rio Itacaiunas, que costuma subir bastante neste período do ano. A deterioração, somada ao peso constante dos caminhões, cria um cenário de colapso iminente.

SEVOP SE MANIFESTA

Procurado pela reportagem do CORREIO, o secretário de Obras de Marabá, Ítalo Ipojucan Costa, confirmou que a estrutura da referida ponte “está em colapso”, fato comprovado por uma equipe de engenharia da Sevop de Marabá.

Ele lembrou que a responsabilidade pelas estruturas daquela região do Contestado é compartilhada entre os municípios de Marabá e Parauapebas, por meio de termo de responsabilidade revalidado este ano. “Pedimos um cálculo estrutural, que comprovou o colapso e a necessidade de um decreto de interdição, que está em vigor”, disse o secretário.

Ipojucan explica que, por várias ocasiões ao longo deste ano, foram colocadas barreiras de New Jersey para evitar o tráfego de veículos, mas, em todas as ocasiões, elas foram retiradas. Moradores da região indicaram que isso teria sido feito por caminhoneiros que trafegam pela referida vicinal transportando minério ilegal, com até 60 toneladas, limite para o qual a ponte não foi projetada. “Não posso confirmar essa informação, mas foi dita por eles.”

A Sevop de Marabá, segundo ele, foi acionada pelo MPPA e repassou todas as informações da situação, inclusive da parceria com a Prefeitura de Parauapebas, que ventilou a possibilidade de disponibilizar uma balsa para o local, mas ela não seria viável pela seca no verão e pelas corredeiras fortes no inverno. “Os moradores contam que até três carretas carregadas de minério chegam a ficar sobre a ponte ao mesmo tempo, o que nos pareceu algo assombroso.”

NOVA PONTE

Segundo o secretário de Obras, depois de alguns contratempos, está sendo elaborado o edital de licitação pela Prefeitura de Marabá, que posteriormente será publicado até que seja realizado o pregão. Uma ponte dessa envergadura deve custar entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões, e esse valor precisa ser compartilhado entre as duas prefeituras”, disse ele.

Para Ítalo, a ponte precisa ser interditada novamente e de forma definitiva. Para isso, a Sevop vai pedir ajuda ao Ministério Público visando destacar serviço de segurança que evite a desinterdição ilegal. “Paralelamente à construção da nova ponte – que só deve ocorrer no próximo verão – vamos recuperar a atual para que os moradores da região não fiquem ilhados”, finalizou o secretário.

Enquanto autoridades discutem responsabilidades, a comunidade vive com a incerteza de quando a estrutura vai ceder. Para Carlos Alberto e moradores da região, o pedido é claro: que o poder público garanta segurança e impeça o trânsito pesado antes que uma tragédia se confirme.