Correio de Carajás

Caçadores podem ter sido enterrados vivos

Embora o inquérito da Polícia Federal (PF) ainda esteja em andamento, é fato que os três rapazes assassinados na Terra Indígena Parakanã, em Novo Repartimento, não foram mortos nem com arma de fogo e nem com arma branca. E há indícios de que eles podem ter sido enterrados ainda vivos. A informação foi repassada pelo advogado Cândido Júnior, que foi constituído pelas famílias das vítimas para acompanhar o caso.

“Existe a possibilidade de eles terem sido enterrados vivos sim; essa (hipótese) não é descartada, até porque não há ferimentos nem de bala nem de faca; tiro e ferimento de arma branca estão descartados nesse momento, então existe a possibilidade de eles terem sido enterrados vivos”, reafirma.

Por outro lado, o advogado observa que essa é uma possibilidade, que ainda não foi confirmada oficialmente. “Se eu afirmar isso, vou estar sendo leviano com a população e com os acusados que merecem um processo limpo e que respondam judicialmente pelo ato de cada um”, afirma.

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O crime

Os amigos Cosmo Ribeiro de Sousa, José Luís da Silva Teixeira e Willian Santos Câmara entraram na Reserva Indígena Parakanã em 24 de abril, para caçar, e desapareceram, sendo encontrados mortos somente no dia 30, depois de uma intensa varredura feita pela Polícia Federal, Rodoviária Federal e Força Nacional.

É proibida a caça e pesca dentro das áreas indígenas e são comuns as histórias de pessoas que, flagradas pelos indígenas, levam uma advertência ou mesmo uma surra e depois são liberadas. Mas é a primeira vez que se tem notícia, em muitos anos, de um assassinato, com requintes de crueldade, como este.

William, José Luís e Cosmo foram assassinados dentro da TI Parakanã/Foto: Reprodução

Em Brasília

Na tarde desta quarta-feira (18), o advogado e três representantes das famílias das vítimas estiveram em Brasília (DF), participando de audiência com o ministro da Justiça, Anderson Torres, e também com representantes da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), para pedir celeridade nas investigações.

Cândido Júnior disse ter perfeita consciência de que o governo brasileiro tem interesse de ver esse caso resolvido. “A gente não está brigando por uma coisa ilícita. Pelo contrário, a gente está brigando pela coisa mais justa possível, que é levar as pessoas que cometeram esse crime bárbaro ao julgo da Justiça e que eles sejam condenados, presos e cumpram suas penas”, alinhavou.

“Justiça”

A reportagem deste CORREIO conversou também com os familiares das vítimas para saber o que eles esperam conseguir daqui pra frente, após a audiência com o ministro, e o desejo deles se resume em uma só palavra: “Justiça.”

Além disso, Sebastião Câmara, pai de William Câmara, disse que as famílias também querem paz e não desejam guerra com ninguém. Mas só conseguirão ter paz quando verem os culpados devidamente responsabilizados. Ele afirma que esse caso não pode entrar para “o livro dos esquecidos”.

Por sua vez, Elisvânia Coimbra, viúva de Cosmo Ribeiro, destacou que toda a comunidade de Novo Repartimento quer ver o desfecho desse caso. A população está indignada e não aceita que o triplo assassinato termine impune.

Maria Gorete Teixeira, mãe de José Luís, não consegue se conformar com o que aconteceu, principalmente porque é professora e trabalhou muitos anos com os indígenas, inclusive muitos deles viviam dentro de sua casa. “Meu filho era tudo para mim”, desabafa.

(Chagas Filho)