Correio de Carajás

Cabelo Seco: Memórias que o tempo não leva

Em um misto de vergonha e timidez, a aposentada Carmina Santos, 85 anos, recebeu a reportagem do CORREIO para contar um pouco da história dela, remanescente de uma época em que Marabá mal havia debutado. Na sala da casa simples onde mora, relembrou dos momentos difíceis que passou junto com sua família logo que chegou. Nascida e criada em Bacabal, no Maranhão, Carmina mudou-se para Marabá há quase 30 anos, mais precisamente para o Bairro Francisco Coelho, conhecido como Cabelo Seco, o mais antigo da cidade.

Vinda com o marido e os quatro filhos, ela descreve que a decisão de sair do estado vizinho e tentar uma vida melhor no Pará não foi fácil. “As coisas não estavam muito boas no Maranhão, o trabalho estava difícil. Eu, que sempre trabalhei de doméstica, não estava conseguindo emprego e nem meu marido. Decidimos vir com nossos filhos, mas não foi fácil deixar para trás o restante da família”, relembra.

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Com as economias que o casal trouxe na bagagem, assim que chegaram na cidade compraram um ‘pedacinho de chão’, como ela gosta de dizer. “Juntamos umas tábuas, com nossos filhos ajudando, e a levamos um a casinha”.

#ANUNCIO

Com o passar dos anos, as coisas foram melhorando para a família; os filhos já crescidos começaram a trabalhar e passaram a ajudar nas despesas da casa. “Aos poucos, as tábuas das paredes foram sendo trocadas por tijolos. Graças a Deus, meu marido antes de morrer pôde ver a casa pronta, como ele sempre quis”, diz a viúva.

Ela conta que o bairro não mudou muita coisa desde que chegou por lá, apenas as casas que antes eram de madeira, agora são de alvenaria. Morando às margens onde os rios Tocantins e Itacaiunas se encontram, Carmina afirma que sempre que chega o período de inverno, os moradores do Cabelo Seco ficam temerosos por causa das enchentes, tendo em vista que quando a água sobe, a maioria das casas são atingidas. “O rio já chegou na minha casa algumas vezes, mas sempre deu tempo de retirar tudo antes da água entrar”.

A última vez que teve de sair de casa por conta da cheia dos rios foi há 4 anos. “Já passamos muito sufoco por causa do rio, mas se você me perguntar se quero sair daqui eu respondo que não. O bairro é maravilhoso, temos essa beleza de rio na nossa porta. Eu amo este lugar”, conta, com sorriso no rosto.

Alegrias e tristezas

Assim como Carmina, outros moradores falam das alegrias e tristezas já vividas no bairro mais antigo de Marabá, como é o caso de Maria Divina, 49 anos, que nasceu e vive até hoje no local e também recebeu a equipe do Correio na intimidade do lar.

“Meu pai é filho de Marabá, nasceu e morreu no Cabelo Seco e quero que seja assim comigo também. Nasci aqui, criei meus filhos e agora ajudo com meus netos. Nosso bairro é um local muito familiar, todo mundo é parente de alguém”.

Filha de pescador, a emoção toma conta de Divina ao relembrar o período em que o pai era vivo. “Lembro da minha infância, nossa casa, como a maioria daquele tempo, era de barro, coberta de palha, porta de buriti e com um fogão de lenha. Nós vivíamos da pesca. Lembro que antigamente este rio era muito farto e meu pai fez questão de me ensinar desde cedo a pescar. Eu colocava a rede no rio, saía de canoa e passava o dia pescando. Era uma época muito boa”, recorda, saudosa.

Outro momento marcante na vida da moradora ocorreu em dezembro de 2014, quando o rio ultrapassou a marca dos 10 metros, subindo muito rápido e pegando ela e os vizinhos de surpresa. “Era uma noite de muita chuva, estávamos dormindo em casa, eu e minha família, quando de repente fomos acordados com um forte barulho e percebemos que a casa estava caindo aos poucos”.

Divina conta que, assustados, no meio da madrugada só deu tempo de pegar as crianças e sair correndo. “O rio levou a casa com tudo, a correnteza estava muito forte. Foi desesperador ver a casa que construímos com tanta luta e suor indo embora. Mas, graças a Deus, foram só perdas materiais, ninguém se feriu”, conta, emocionada, afirmando que alguns vizinhos também foram afetados da mesma forma naquele dia.

Raízes

Apesar da preocupação habitual de todos os anos com a cheia dos rios, a moradora afirma que não tem vontade de deixar o bairro. “Eu amo este lugar. Aqui é muito tranquilo, ainda dormimos de janelas abertas, nossas crianças brincam na rua sem medo e, além de sermos o bairro mais antigo, somos o mais familiar e alegre da cidade”, garante.

(Ana Mangas)

Em um misto de vergonha e timidez, a aposentada Carmina Santos, 85 anos, recebeu a reportagem do CORREIO para contar um pouco da história dela, remanescente de uma época em que Marabá mal havia debutado. Na sala da casa simples onde mora, relembrou dos momentos difíceis que passou junto com sua família logo que chegou. Nascida e criada em Bacabal, no Maranhão, Carmina mudou-se para Marabá há quase 30 anos, mais precisamente para o Bairro Francisco Coelho, conhecido como Cabelo Seco, o mais antigo da cidade.

Vinda com o marido e os quatro filhos, ela descreve que a decisão de sair do estado vizinho e tentar uma vida melhor no Pará não foi fácil. “As coisas não estavam muito boas no Maranhão, o trabalho estava difícil. Eu, que sempre trabalhei de doméstica, não estava conseguindo emprego e nem meu marido. Decidimos vir com nossos filhos, mas não foi fácil deixar para trás o restante da família”, relembra.

Com as economias que o casal trouxe na bagagem, assim que chegaram na cidade compraram um ‘pedacinho de chão’, como ela gosta de dizer. “Juntamos umas tábuas, com nossos filhos ajudando, e a levamos um a casinha”.

#ANUNCIO

Com o passar dos anos, as coisas foram melhorando para a família; os filhos já crescidos começaram a trabalhar e passaram a ajudar nas despesas da casa. “Aos poucos, as tábuas das paredes foram sendo trocadas por tijolos. Graças a Deus, meu marido antes de morrer pôde ver a casa pronta, como ele sempre quis”, diz a viúva.

Ela conta que o bairro não mudou muita coisa desde que chegou por lá, apenas as casas que antes eram de madeira, agora são de alvenaria. Morando às margens onde os rios Tocantins e Itacaiunas se encontram, Carmina afirma que sempre que chega o período de inverno, os moradores do Cabelo Seco ficam temerosos por causa das enchentes, tendo em vista que quando a água sobe, a maioria das casas são atingidas. “O rio já chegou na minha casa algumas vezes, mas sempre deu tempo de retirar tudo antes da água entrar”.

A última vez que teve de sair de casa por conta da cheia dos rios foi há 4 anos. “Já passamos muito sufoco por causa do rio, mas se você me perguntar se quero sair daqui eu respondo que não. O bairro é maravilhoso, temos essa beleza de rio na nossa porta. Eu amo este lugar”, conta, com sorriso no rosto.

Alegrias e tristezas

Assim como Carmina, outros moradores falam das alegrias e tristezas já vividas no bairro mais antigo de Marabá, como é o caso de Maria Divina, 49 anos, que nasceu e vive até hoje no local e também recebeu a equipe do Correio na intimidade do lar.

“Meu pai é filho de Marabá, nasceu e morreu no Cabelo Seco e quero que seja assim comigo também. Nasci aqui, criei meus filhos e agora ajudo com meus netos. Nosso bairro é um local muito familiar, todo mundo é parente de alguém”.

Filha de pescador, a emoção toma conta de Divina ao relembrar o período em que o pai era vivo. “Lembro da minha infância, nossa casa, como a maioria daquele tempo, era de barro, coberta de palha, porta de buriti e com um fogão de lenha. Nós vivíamos da pesca. Lembro que antigamente este rio era muito farto e meu pai fez questão de me ensinar desde cedo a pescar. Eu colocava a rede no rio, saía de canoa e passava o dia pescando. Era uma época muito boa”, recorda, saudosa.

Outro momento marcante na vida da moradora ocorreu em dezembro de 2014, quando o rio ultrapassou a marca dos 10 metros, subindo muito rápido e pegando ela e os vizinhos de surpresa. “Era uma noite de muita chuva, estávamos dormindo em casa, eu e minha família, quando de repente fomos acordados com um forte barulho e percebemos que a casa estava caindo aos poucos”.

Divina conta que, assustados, no meio da madrugada só deu tempo de pegar as crianças e sair correndo. “O rio levou a casa com tudo, a correnteza estava muito forte. Foi desesperador ver a casa que construímos com tanta luta e suor indo embora. Mas, graças a Deus, foram só perdas materiais, ninguém se feriu”, conta, emocionada, afirmando que alguns vizinhos também foram afetados da mesma forma naquele dia.

Raízes

Apesar da preocupação habitual de todos os anos com a cheia dos rios, a moradora afirma que não tem vontade de deixar o bairro. “Eu amo este lugar. Aqui é muito tranquilo, ainda dormimos de janelas abertas, nossas crianças brincam na rua sem medo e, além de sermos o bairro mais antigo, somos o mais familiar e alegre da cidade”, garante.

(Ana Mangas)