Pai. Há os experientes no assunto e os de primeira viagem. Aquele que não compartilha o sangue, mas compartilha a alma. Existe pai que é avô, tio, padrinho, amigo. Há pai sério, brincalhão, ciumento, baladeiro, brigão. Tem pai de todo tipo. Existe pai que simplesmente ama.
Para homenagear todos os tipos de pai, o Correio de Carajás conversou com Bruno Feliz Fonseca Sepeda da Silva, um advogado de 33 anos que ficou viúvo há quatro meses, e cuida da pequena Luísa, 4 anos, e Ana Laura, 13 anos.
A perda da esposa ainda é recente. Aida Terezinha dos Santos de Souza Sepeda faleceu aos 35 anos de idade, após lutar por duas semanas em um leito de UTI no Hospital Regional Público do Sudeste do Pará. Grávida de oito meses, ela foi infectada pelo coronavírus e ficou em estado clínico grave. A equipe médica precisou realizar uma cesariana para nascer o bebê que esperava, Gustavo Sepeda.
Leia mais:Prematuro, ele não resistiu e veio a falecer dias depois. Aida possuía um quadro de saturação instável e sua morte foi confirmada na manhã do dia 4 de abril de 2021.
Quatro meses depois, Bruno recebeu a Reportagem do CORREIO em sua casa e, na entrevista, confessou que precisa se reinventar todos os dias, se adaptando com as filhas à nova realidade.
“É preciso conhecer suas limitações e estar sempre disposto a ouvir e aprender. É assim que estou indo e, aos poucos, vou caminhando”, sintetiza.
IMPOTÊNCIA
Bruno Sepeda é maior nome da natação em Marabá, atualmente. Como atleta, já ganhou muitas medalhas em todas as etapas da vida, boa parte de ouro. Também destaca-se no crossfit como uma das principais referências em sua categoria. Mas mesmo com esse perfil de atleta e homem forte, precisou buscar força espiritual e dos amigos para não sucumbir diante do tsunami que lhe sobreveio.
Para Bruno, ser pai sem sua parceira ao lado tem sido o maior desafio da vida. Mesmo em meio às turbulências, dificuldades e tropeços, ele é grato por ter a companhia das s duas filhas e o apoio de sua mãe, Odete Feliz, que não soltou de suas mãos e está com ele nessa missão de cuidar das meninas.
“A gente conversa muito desde o início sobre tudo o que aconteceu. Estamos passando por isso unidos e tentando superar essa fase difícil da nossa vida. Sou muito grato por ter tido uma mulher sensacional como a Aida e ter sido abençoado com as minhas duas filhas, que são a base para eu seguir em frente e ter ânimo de acordar todo dia de manhã e ir trabalhar”, diz, emocionado.
Ser pai
O sonho de ser pai sempre esteve na cabeça de Bruno. A vontade de ter uma família sólida e amorosa era algo que almejou desde cedo e aconteceu quando conheceu Aida. Descobrir que seria pai, foi sua realização e maior desafio. “Continua sendo complexo. É um desafio todos os dias. Mas ouvir pai pela primeira vez foi sensacional. É uma palavra que resume muita coisa, muito sentimento. Tem um peso que, às vezes, a gente não percebe o quão importante é”, resume.
Em um mundo cor de rosa, criar duas meninas não é tarefa fácil. Contudo, o carinho e a forma doce de cada uma fazem com que as coisas se tornem menos complicadas.
Com uma diferença de idade de nove anos entre elas, Ana Laura e Luísa têm personalidades completamente diferentes. E engana-se quem imagina que não ocorrem discussões. “Brigam muito. Mas também brincam e se divertem juntas”, entrega o pai.
Aos 13 anos, Ana Laura está no auge de sua adolescência e tem sido uma fase de grande aprendizado para Bruno, que lembra muito da época em que o adolescente era ele. Com paciência, ouvidos atentos, tato e muito jogo de cintura, ele sabe que essa é uma fase de descobertas. E afirma que tem se saído muito bem no papel de pai de adolescente.
Fortalecimento
Bruno relembra que a esposa era a “capitã do barco” e organizava com maestria as tarefas de casa, as atividades das filhas, as atenções e os cuidados. Com a perda de Aida, ele amadureceu, se fortaleceu em Deus e aprendeu a ressignificar.
“Muitas vezes, esse fortalecimento vem de uma forma que a gente não quer. Estávamos nos preparando para ter mais um filho. Ela se foi quando estava grávida de oito meses e isso causou um impacto muito grande na nossa família. Eu aprendi a rever meus valores e prioridades”, pondera.
Mais maduro e consciente, Bruno finaliza afirmando que sabe que tem muito a melhorar e aprender com as filhas. O próximo Dia dos Pais será diferente. Mais forte, ele contará com a presença de Ana Laura e Luísa, seus dois amores. Além de Filé e Maminha, os cães fofos da família Feliz.
Com a palavra: as filhas Ana Laura e Luísa
Com o sonho de ser atriz, a adolescente Ana Laura de Souza Sepeda, de 13 anos, adora se vestir de preto (bem dark), como ela mesmo diz.
Em um período conhecido por conflitos e diferenças de pensamentos com os pais, Ana afirma que geralmente não briga com o pai, mas tem desentendimentos normais do dia a dia. “A gente briga porque o papai tem a opinião dele muito forte e há muitas coisas que não concordo. Aí acontece que nossas opiniões não se batem. Mas está tudo normal, não fiz besteira ainda”, fala rindo, diante das câmeras e longe do pai.
A adolescente afirma que era muito próxima da mãe, e a perda dela é algo que ainda é sentida por todos. Para ela, o pai está se esforçando e tentando suprir o carinho que as duas tinham uma pela outra.
O pai, aliás, faz as vontades dela, e ela sabe disso. “Ele faz as coisas que eu gosto de fazer mesmo ele não querendo. É a coisa que mais gosto nele. Assistimos filmes, sai comigo quando quero e, quando peço, compra as roupas pretas que amo e ele não suporta”.
Questionada sobre algo que nunca falou para o pai, Ana Laura é certeira na declaração de amor. “Eu o amo muito. E agradeço muito por ele ter ficado do meu lado desde pequenininha. Agradeço por ele ter me escolhido, por ele ter cuidado de mim, de ter me falado que ia ser meu pai e que não ia desgrudar de mim. Principalmente nesse tempo, que está sendo muito difícil”, finaliza.
Luísa Sepeda, 4 anos, ficou super tímida, somente diante das câmeras. Mas ela contou que ama brincar com o papai Bruno, que ele é um bom cozinheiro e que ela adora quando ele cozinha pra ela.
Ao final da nossa pequena conversa, ela soltou um sorrisão daqueles ao dizer um “eu te amo papai”.