Nesta terça-feira (7), a imigração de brasileiros em Portugal foi assunto no Brasil e na terra lusitana. Isso porque uma brasileira, que morou em Bragança Paulista (SP), foi vítima de xenofobia no aeroporto de Porto.
As ofensas foram gravadas pela vítima e ganharam repercussão após o caso ser revelado pela Gazeta Bragantina.
“Pode filmar o que você quiser, pode até pôr na internet. Sua porca. Vai para a sua terra, sua porca. Sou portuguesa de raça. Você que é brasileira. Vá para a sua terra. Estão invadindo Portugal, essa raça de filha da p***”, disse a portuguesa.
Leia mais:O número de brasileiros que vivem em Portugal vem aumentando a cada ano – é o que mostram os dados estimados do Itamaraty, solicitados a pedido do g1.
Segundo o balanço do Itamaraty, atualmente Portugal concentra a maior comunidade brasileira na Europa, com cerca de 360 mil imigrantes estimados, superando o Reino Unido, em segundo lugar, com 220 mil.
O número estimado pelo Itamaraty corresponde a 2022, dado mais recente, e representa um crescimento de 224% no número de imigrantes brasileiros em Portugal desde 2018, quando foram contabilizados 111 mil brasileiros no país.
Enfrentando proconceitos
Um desses imigrantes é o estudante João Vitor Costa, de 24 anos. Natural de São José dos Campos, no interior de São Paulo, aos 18 ele desembarcou na cidade do Porto para fazer faculdade e atualmente estuda mestrado em Cinedivulgação da Ciência.
Ao g1, ele contou que foi para Portugal por gostar da cultura, do povo e do jeito de viver dos portugueses. Além disso, segundo ele, a nova geração portuguesa tem a mente mais aberta, mas os casos de xenofobia partem do aspecto de idade e classe social dos lusitanos.
“Eu vim para Portugal porque tinha a vontade de conhecer outro lugar, gosto da cultura e o povo, do jeito de viver dos portugueses. Ainda assim vejo, aqui em Portugal, a nova geração com a mente mais aberta. Esses casos de xenofobia têm muito a ver com o aspecto de idade e classe social. Na maioria dos casos, é o pessoal mais antigo do país, resultando nesse racismo estrutural que vemos”, disse.
O próprio João conta que já presenciou outro caso de xenofobia no país, envolvendo ele, um entregador e um morador da cidade. Tudo aconteceu no estabelecimento da namorada de João.
“Minha namorada tem um bar e nós estávamos descarregando mercadoria e um carro tentou estacionar no local em que o carro do entregador estava. Aí começou uma discussão por conta da vaga, mas depois que perceberam que eu e o entregador éramos brasileiros, a discussão tomou outro rumo”, explicou.
“O senhor passou por cima do meu pé com o carro e a esposa dele falou que iria chamar a polícia. Minha namorada disse a ela para chamar porque nós estávamos certos e foi aí que a mulher disse: ‘Voltem para vossa terra’, que é a primeira coisa que eles costumam falar para brasileiros nessas situações”.
Segundo o brasileiro, na época da faculdade já haviam comentários esporádicos criticando o fato dele ser imigrante no país.
“Nesse nível foi a primeira vez que já sofri preconceito por ser brasileiro, mas antes havia alguns comentários até mesmo de professores sobre nós e isso me incomodava. Eram comentários do tipo: ‘Não vai fazer o trabalho do jeitinho brasileiro’. Nunca levei isso na brincadeira e me incomodava bastante”, finalizou.
Qualidade de vida
Quem também embarcou para Portugal em busca de uma vida melhor foi a brasileira Gabriela Santos, que chegou ao país lusitano em janeiro deste ano, juntamente com o namorado, ambos de Taubaté, também no interior de SP. Motivada pela curiosidade de ter uma experiência em morar no exterior, ela desembarcou na cidade do Porto.
Gabriela conta que não recebeu nenhum tipo de discriminação, mas que conhece pessoas que já passaram por situações semelhantes. No entanto, segundo ela, pesa na balança a qualidade de vida que o país proporciona, mesmo com o valor do aluguel alto.
“Hoje o arrendamento (aluguel) sai em média quase no salário mínimo, que aqui hoje gira em torno de 760 euros. Aqui, onde a gente mora, tem pessoas que pagam 600, 700 euros num arrendamento, isso porque estamos a mais de 40 minutos de transporte público, de trem, comboio, do centro do Porto mesmo”, explicou.
“O maior ponto positivo é a qualidade de vida. Aqui muitas pessoas vêm achando que vão fazer muito dinheiro, vão receber muito, mas aqui você recebe o suficiente se você encontrar um lugar bom para morar. O suficiente para se manter e conseguir fazer suas viagens, sair, porque a qualidade de vida aqui é muito boa, então você consegue frequentar qualquer lugar que você quiser, você não tem uma segregação de lugar que você pode ir pelo seu salário”, defendeu.
Segundo a brasileira, a segurança no país também é um fator positivo para os imigrantes que vão à Portugal.
“Tem a questão de segurança, de sair à noite. São coisas que valem a pena. É um país bom para isso, para quem quer qualidade de vida, para quem quer ficar estável, lugar tranquilo, onde não tem muita confusão”.
Segurança
Natural do Rio de Janeiro, Gabriel Valentim morou quase a vida toda na capital fluminense e passou um período em Taubaté (SP). No ano passado, ele resolveu, junto com a esposa e a filha, embarcar rumo a Portugal, na tentativa de melhorar de vida.
Segundo o brasileiro, a segurança no país é muito boa e, em pouco mais de um ano em Portugal, ele nunca presenciou nada semelhante à violência que presenciava no Rio.
“Aqui a questão de segurança é muito boa, acima da média. Já aconteceu várias vezes de eu dormir com o carro aberto lá fora e meus documentos ficam lá, nunca ninguém mexeu. A gente escuta falar de um caso ou outro, mas de ver, presenciar algumas cenas é muito raro. Eu, particularmente, nunca vi nada, cenas de perigo, de violência, nunca vi nada”, declarou.
Vivendo em Lisboa desde o ano passado, ele conta que se escuta mais sobre xenofobia com imigrantes em cidades do interior de Portugal, mas que, particularmente, nunca viu nenhum tipo de destrato com brasileiros no país.
“Eu já escutei falar de portugueses que, nas cidades mais no interior e nos estados do interior, é um pessoal bem mais reservado e ainda há um pouco de discriminação, mas eu nunca vi”, afirmou.
Na comparação com o Brasil, ele afirma que dá para viver uma vida digna trabalhando em Portugal.
“É uma vida que, para um trabalhador normal, uma pessoa assalariada, é boa. A pessoa consegue ter uma dignidade, consegue comprar suas coisas, se alimentar bem, se vestir bem, com o mínimo, com o salário mínimo”, pontuou.
(Fonte:G1)