Correio de Carajás

‘Boxe’ na praça tinha apostas e crianças como público

Brigas clandestinas envolvendo adolescentes foram realizadas dois dias seguidos no centro do Núcleo Cidade Nova

O Comitê de Segurança de Marabá, formado por órgãos estaduais, como Polícias Civil e Militar, e pela Secretaria Municipal de Segurança Institucional, informou na tarde desta sexta-feira (18) estar intensificando a atuação na Praça São Francisco, no Núcleo Cidade Nova, e estar tomando providências para manutenção da ordem no local.

O espaço foi palco de lutas clandestinas envolvendo crianças e adolescentes dois dias seguidos nesta semana, na quarta (16) e na quinta (17). A primeira vez já havia sido noticiada pelo Portal Correio de Carajás, que expôs a problemática, quando a segunda ocorreu, juntando público ainda maior de espectadores. Nesta ocasião, houve interferência da Guarda Municipal e da Polícia Militar, que dispersaram o grupo.

No primeiro dia, a lutas foram gravadas e postadas em redes sociais. Já no segundo, houve até propaganda chamando público para o “evento”, que chegou a ser transmitido ao vivo pelo Instagram.

Leia mais:

As imagens de ambos os dias mostram duplas alternadas trocando golpes semelhantes aos praticados no boxe. Os participantes usam luvas e alguns chegam a cair com golpes recebidos no rosto. O público acompanha animado e é possível identificar que a vitória é apostada em dinheiro.

RISCOS

Nesta sexta-feira (18), o professor de artes marciais Dinho Santos, que atua há vários anos em Marabá, se posicionou publicamente condenando a prática e alertando sobre os perigos da não supervisão desses embates. “Conversei com vários professores de artes marciais da cidade – Muaythai, Karatê, Jiu-jitsu, Judô, Boxe – e todos foram unânimes: nós abominamos isso!”.

De acordo com ele, ao avaliar as imagens, é possível perceber o risco de realização da luta em local não adequado e sem supervisão profissional. “E se algum deles bate a cabeça em algum banco de concreto? E se alguém apaga com um soco e não acorda por não receber o socorro correto? Ou acorda com sequelas seríssimas? Imagina você numa ‘brincadeira’ dessa e ter sua morte transmitida por uma live. Ninguém aí nessa multidão liga pra saúde, só querem diversão”, declarou.

Ainda de acordo com ele, em eventos sérios o aparato médico é obrigatório e há regras na luta que servem também para a proteção dos envolvidos. “Se quer treinar procure uma academia, há de todos os jeitos, modalidade e valores, inclusive projetos sociais que dão aulas de graça”, recomenda.

CONSELHO

No dia seguinte à primeira luta ganhar as redes sociais, o Correio de Carajás ouviu o Conselho Tutelar do Núcleo Cidade Nova sobre o assunto. O coordenador Franklan Rodrigues de Souza, que estava de plantão na noite desta quarta, afirmou não ter recebido qualquer denúncia sobre a aglomeração de menores de 18 anos na praça ou a luta improvisada.

Segundo ele, informações como esta eram frequentes até ano passado, quando a entidade se reuniu com órgãos de Segurança Pública que passaram a monitorar a situação. No caso das praças, diz, a Guarda Municipal de Marabá costuma fazer as rondas e quando identifica criança ou adolescente em situação vulnerável o encaminha ao Conselho Tutelar.

“Geralmente a gente recebe alguma denúncia e vai averiguar, mas faz algum tempo que não recebíamos desta natureza. O pessoal da Guarda Municipal estava passando por lá desde quando pedimos ajuda neste sentido”, afirma.

Ainda conforme o coordenador, a entidade avaliaria a situação e, se necessário, realizaria visitas ao espaço. No caso de serem identificados menores de 18 anos em risco, o trabalho dos conselheiros é orientar as famílias. “Persistindo, a gente adverte e requisita a rede para fazer o acompanhamento e atender esses menores”. Nesta sexta a entidade foi novamente procurada pela Reportagem, mas não retornou.