Correio de Carajás

Bolsonaro dará indulto a policiais do massacre de Eldorado dos Carajás

Bolsonaro dará indulto a policiais do massacre de Eldorado dos Carajás

O presidente da República, Jair Bolsonaro, disse hoje, em almoço com jornalistas, que o indulto que irá conceder incluirá perdão a policiais envolvidos nos casos de Eldorado dos Carajás, no massacre de Carandiru e também no sequestro do ônibus 174, ocorrido no Rio de Janeiro, em 2000. “Os que se enquadrarem no indulto, eu vou dar. Estou pedindo a policiais de todos os Estados uma lista de nomes, com justificativas”, afirmou.

Questionado se daria indulto também aos comandantes ou apenas aos comandados de operações em que policiais militares foram condenados por sua atuação, ele disse que, se puder, perdoará também os líderes. “Se o comandante do Carandiru (coronel Ubiratan Guimarães) estivesse vivo, eu dava indulto pra ele também”, completou.

Na sexta-feira (30), Bolsonaro já havia dito que está planejando conceder a medida para policiais. Ele tinha afirmado que iria incluir “nomes surpreendentes” e que muitos policiais, civis e militares, foram condenados “por pressão da mídia”.

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Os três casos citados por ele neste sábado, 31 de agosto, tiveram ampla repercussão na imprensa. No episódio que ocorreu na capital carioca, o sequestrador, depois de capturado, foi colocado em um carro da polícia, mas chegou morto ao hospital. As investigações mostraram que ele foi asfixiado por PMs.

Acampados na rodovia PA-150 depois de uma marcha de sete dias rumo a Belém, 1.500 trabalhadores sem terra entraram em confronto com a Polícia Militar. Dezenove dos trabalhadores foram brutalmente assassinados. O episódio teve enorme repercussão internacional e ficaria conhecido como o Massacre de Eldorado dos Carajás.

Havia três meses que os agricultores ocupavam a Fazenda Macaxeira, em Curionópolis, sob a liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). No acampamento à beira da rodovia, os sem-terra esperavam obter alimentos e transporte para vencerem os 600 quilômetros restantes da jornada até Belém.

O governador Almir Gabriel (PSDB), o secretário de Segurança, Paulo Sette Câmara, e o presidente do Instituto de Terras do Pará, Ronaldo Barata, articularam uma operação militar a pretexto de “desobstruir a rodovia”.

Quase 300 policiais armados com escopetas, metralhadoras, fuzis e revólveres investiram contra os acampados, que resistiram. Após duas horas de enfrentamento, 19 sem-terra foram mortos e mais de 50 ficaram feridos. Nenhum policial morreu.

A ação policial foi filmada pela TV Liberal. Um dia após o massacre, as imagens foram divulgadas por veículos nacionais e estrangeiros. O governador responsabilizou o coronel Mario Colares Pantoja, comandante da operação, pela truculência da ação e prometeu pensão vitalícia às famílias das vítimas, além da desapropriação da Fazenda Macaxeira.

A intensa repercussão nacional e internacional abriu uma crise no governo federal. O ministro da Agricultura, Andrade Vieira, pediu demissão e foi substituído pelo senador Arlindo Porto. Uma semana depois do massacre, o presidente Fernando Henrique Cardoso recriou o Ministério da Reforma Agrária, nomeando para o cargo o militante do PPS Raul Jungmann.

Em maio de 2012, Pantoja e o major José Maria Pereira de Oliveira seriam condenados — o primeiro a 228 anos e o segundo a 158 anos de reclusão.

Já o massacre de Carandiru foi uma chacina ocorrida em um presídio em São Paulo, em 1992, e deixou mais de cem mortos. (Fontes: uol.com.br e fpabramo/ Lorenna Rodrigues e Camila Turtelli).