Correio de Carajás

BNDES aprova R$ 4,64 bilhões para aeroportos: Marabá receberá parte dos recursos

Financiamento bilionário será empregado em aeroportos sob gestão da Aena no Brasil

Aeroporto de Marabá é administrado pela Aena e deverá receber parte do investimento - Arquivo: CORREIO
Por: Da Redação
✏️ Atualizado em 02/12/2025 09h10

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou nesta segunda-feira (1º) um financiamento de R$ 4,64 bilhões para a Aena Brasil, concessionária espanhola que administra 11 aeroportos no país, incluindo o Aeroporto João Corrêa da Rocha, em Marabá. O aporte faz parte de um pacote total de R$ 5,7 bilhões em créditos que a empresa utilizará para ampliação, modernização e manutenção de seus terminais.

A maior parte dos recursos será destinada ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo, que receberá R$ 2 bilhões para a construção de um novo terminal de passageiros.

A aprovação do financiamento ocorre em um momento em que o Aeroporto de Marabá já está em pleno processo de transformação, com obras iniciadas em junho de 2025 – conforme revelado em reportagem do Correio de Carajás, e que impõem uma rotina de interdições diárias na pista de pousos e decolagens.

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O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, destacou que o apoio do banco é resultado da determinação do governo federal de ampliar o número de passageiros nos aeroportos do país, garantindo qualidade no atendimento. Em 2024, os 11 aeroportos da Aena movimentaram 27,5 milhões de passageiros, o que representa 12,8% do total nacional.

Marabá: obras em andamento

Enquanto o anúncio do BNDES traz a promessa de recursos para a continuidade dos investimentos, o Aeroporto de Marabá já vive a realidade das obras há meses. Desde o dia 2 de junho de 2025, a pista opera sob um rigoroso protocolo de interdições programadas para permitir a revitalização do pavimento e a construção de novas áreas de escape nas cabeceiras. Segundo informações apuradas pelo Correio de Carajás, o cronograma impõe restrições severas à operação do terminal.

Pista já está em obras, conforme revelou reportagem do CORREIO

Até o dia 9 de novembro, a pista esteve fechada de segunda a sábado em dois períodos: das 6h10 às 13h30 e das 15h30 às 23h45. Desde 22 de novembro, o esquema foi ajustado para uma única interdição diária, das 6h10 às 13h30, que se estenderá até 16 de janeiro de 2026, data prevista para a conclusão das obras na pista. Aos domingos, não há interdições.

Essa rotina de fechamentos diários cria um verdadeiro quebra-cabeça logístico para as companhias aéreas e passageiros. As aeronaves comerciais de grande porte, que operam voos regulares, têm janelas operacionais extremamente limitadas. Caso um voo não consiga decolar no horário previsto, a aeronave fica retida em solo marabaense até a próxima janela de abertura, gerando atrasos e transtornos para os passageiros.

Para as aeronaves de pequeno e médio porte, a situação é ainda mais complicada. Durante os horários de interdição, essas aeronaves são obrigadas a utilizar uma pista de terra na Fazenda Colombo, de propriedade do pecuarista Hélio Júnior, localizada a cerca de 10 quilômetros do aeroporto, na estrada do Rio Preto. A solução improvisada, embora funcional, evidencia as limitações impostas pelas obras e o impacto na operação aérea regional.

O impacto nos números

Os transtornos operacionais já se refletem nas estatísticas do aeroporto. Dados da própria Aena, compilados pelo Correio de Carajás, mostram que o movimento de passageiros em Marabá registrou uma queda de 2,4% no período de janeiro a julho de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior. A análise aponta que o desvio de voos para pistas particulares durante as interdições é um dos fatores que contribuíram para a retração.

Aeroporto recebe, atualmente, voos das 3 grandes companhias do país

O aeroporto iniciou o ano com 29.927 passageiros em janeiro, teve uma leve recuperação em março (30.167) e alcançou 32.986 em abril. Maio manteve a curva de alta, seguido por uma leve queda em junho. Em julho, impulsionado pelas férias escolares, o terminal atingiu o melhor resultado do semestre, com 36.271 passageiros. Apesar do avanço em relação aos meses anteriores, o volume ainda representa uma diminuição frente ao ano passado.

O setor de logística sente o impacto de forma ainda mais acentuada. A movimentação de cargas no terminal de Marabá, que chegou a 83 toneladas em fevereiro, despencou nos meses seguintes. Após sucessivas quedas entre março e junho, o aeroporto fechou julho com 100 toneladas. Embora o volume seja superior ao início do ano, está longe do potencial histórico do terminal, evidenciando um desafio para o abastecimento e a economia de uma região que depende fortemente do modal aéreo.

O projeto de ampliação

As obras em andamento fazem parte de um ambicioso projeto de ampliação e modernização do Aeroporto João Corrêa da Rocha. O contrato foi assinado em fevereiro de 2025 com o Consórcio Nova Engevix & PowerChina, que executa as intervenções nos quatro aeroportos do Pará administrados pela Aena: Marabá, Carajás (em Parauapebas), Santarém e Altamira.

Em Marabá, o terminal de passageiros passará dos atuais 1.800 m² para 5.124,92 m², um aumento de quase três vezes em sua área. A nova estrutura contará com quatro portões de embarque, uma área pública 3,6 vezes maior que a atual, 16 balcões de check-in, dois controles de segurança e duas esteiras para restituição de bagagens. O pátio de aeronaves terá capacidade para quatro aeronaves do tipo C, além da revitalização completa do pavimento da pista e do pátio.

No Aeroporto de Carajás, em Parauapebas, as obras também estão em execução. O terminal será ampliado de 800 m² para 4.700 m², com a área pública ficando 14 vezes maior que a atual. A estrutura contará com dois portões de embarque, oito balcões de check-in, uma esteira para restituição de bagagem e pátio para três aeronaves. Também estão previstas novas áreas de escape nas cabeceiras da pista, ampliação do estacionamento e novos edifícios de apoio.

A expectativa da Aena é que as obras nos quatro aeroportos do Pará gerem mais de 2.000 empregos diretos e indiretos durante a execução. Após a conclusão, a modernização dos terminais deve criar cerca de 700 novos postos de trabalho permanentes. O diretor-presidente da Aena Brasil, Santiago Yus, afirmou em comunicado que o compromisso da empresa é com a eficiência operacional, o conforto dos passageiros e a segurança em todos os terminais.

Cenário de contrastes

Os dados de movimentação dos aeroportos paraenses administrados pela Aena revelam um cenário de contrastes. Em Carajás, o movimento de passageiros cresceu de forma significativa. Após cair de 20 mil em janeiro para 17.118 em fevereiro, o aeroporto retomou o crescimento mês a mês até chegar a 23.864 embarques e desembarques em julho. A movimentação de cargas, no entanto, não acompanhou o ritmo, passando de 27 toneladas em janeiro para 32 em julho, com variações discretas e abaixo do registrado no ano anterior.

Santarém manteve a liderança regional em número de passageiros, mas também enfrentou oscilações. Foram 40.341 passageiros em janeiro, queda em fevereiro (32.911) e recuperação gradual nos meses seguintes. Entre maio e julho, o aeroporto consolidou sua posição com 42.197, 43.339 e 44.782 passageiros, respectivamente. O transporte de cargas, contudo, caiu após o pico de 199 toneladas em fevereiro. Houve redução em março (150) e abril (140), com julho encerrando em 181 toneladas, ainda expressivo, mas abaixo do registrado no ano anterior.

Altamira, o menor entre os terminais, manteve estabilidade em números reduzidos. Foram 6.465 passageiros em janeiro, queda em fevereiro (6.342) e retomada a partir de março, com variação entre 6.516 e 7.732 até julho. Apesar da alta durante as férias, foi o único aeroporto a registrar diminuição de passagens em todos os meses. Na carga, o volume foi quase simbólico: 8 toneladas em janeiro e fevereiro, queda para 6 em março, abril e maio, 5 em junho e leve reação em julho, com 9 toneladas.

História

Inaugurado em 17 de novembro de 1935, o Aeroporto João Corrêa da Rocha é mais do que uma simples estrutura aeroportuária; é um personagem central no desenvolvimento do sudeste paraense. O primeiro avião a pousar na pista foi um monomotor Waco CSO C-27 do Correio Aéreo Nacional, pilotado pelo brigadeiro Lysias Augusto Rodrigues.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o aeroporto serviu como base auxiliar da Força Aérea Brasileira. Na década de 1980, ganhou notoriedade nacional ao operar uma das mais movimentadas pontes aéreas do país, ligando Marabá ao garimpo de ouro de Serra Pelada.

Em 2010, o aeroporto foi batizado em homenagem ao jornalista João Corrêa da Rocha, fundador do periódico “Notícias de Marabá”, uma figura importante na história da imprensa local. Ele marcou época pela luta para que o aeródromo recebesse voos comerciais de grande porte, o que veio a se concretizar.

Desde novembro de 2023, o terminal é administrado pela Aena Brasil, que assumiu a gestão após a concessão do bloco de aeroportos do Pará, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Minas Gerais. (Da Redação)