📅 Publicado em 17/07/2025 14h16
As rosas do deserto encantam à primeira vista. Com cores vibrantes, formas elegantes e uma presença que transforma qualquer quintal, apesar do nome, essa planta não sobrevive só de sol. Em Marabá, onde o verão costuma ser rigoroso e intenso, cuidar da espécie pode ser um verdadeiro desafio, principalmente para as donas de casa e cultivadores iniciantes.
É nesse contexto que o Correio de Carajás foi até o Viveiro Flores do Vale, no Núcleo Cidade Nova, para conversar com Genivaldo Marreiros e tirar algumas dúvidas sobre como se atentar à espécie no forte calor. “É comum a pessoa achar que, porque a planta vem do deserto, ela aguenta sol demais. Mas não é bem assim”, diz o entusiasta.
Segundo ele, algumas variedades são mais sensíveis e podem até sofrer queimaduras se expostas por muito tempo ao sol.
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A espécie tem se tornado cada vez mais popular nas casas brasileiras devido à sua beleza exótica, resistência e facilidade de cultivo. Originária de regiões áridas, a planta se adapta bem a climas quentes e ensolarados, exigindo poucos cuidados e pouca rega – quando comparada à outras espécies, o que a torna ideal para ambientes urbanos e para quem está começando no cultivo de plantas.
Apaixonado pelas rosas do deserto, Genivaldo cuida atualmente de cerca de 4 mil unidades em seu espaço próprio, localizado no Vale do Itacaiunas. Mas antes de se dedicar de corpo e alma às flores, ele percorreu um caminho doloroso — e cheio de transformações.

DAS LENTES ÀS RAÍZES: COMO A DOR VIROU VOCAÇÃO
Para o CORREIO, Genivaldo conta que o amor pelas plantas nasceu de um momento de profundo luto. “Tudo mudou quando perdi tragicamente um filho. Entrei em depressão. Foi um período muito difícil”, diz o ex-fotógrafo e atual biólogo.
Em busca de consolo, foi no próprio quintal que o apaixonado por plantas começou a renascer. “Meu sogro já gostava de cultivar plantas. Um dia, ele me disse: ‘por que você não começa a cuidar de umas plantinhas pra ocupar a cabeça?’ Eu resolvi ouvir o conselho dele”, relembra.
Foi assim, quase sem querer, que as primeiras mudas de rosa do deserto chegaram às mãos dele. Aos poucos, a tristeza deu espaço a uma nova paixão. “Eu comecei a me identificar muito com as plantas. Mas achava pouco ainda, voltei para a escola, estudei e fiz o ensino médio pela Educação de Jovens e Adultos (EJA)”, compartilha.
Durante o curso, um professor o incentivou a tentar o Enem. O estudo era uma forma de passar o tempo, como ele mesmo diz, no entanto, a nota foi boa e em 2018 ele ingressou na faculdade de Ciências Biológicas. “Aí a paixão pelas plantas só aumentou”.
Na faculdade, a escolha do tema para o TCC veio de forma natural. “Enquanto o pessoal da turma ainda decidia o que fazer, o meu já estava pronto. Fiz o trabalho sobre produção de mudas de rosa do deserto na minha própria casa”, conta.
E foi durante a pandemia que o empurrão definitivo veio. Ele conta que ninguém podia fotografar evento nenhum, então ele decidiu pendurar a câmera e se dedicar 100% às rosas do deserto.

DICAS PARA CUIDAR DA ROSA-DO-DESERTO NO CALORÃO
Com a experiência de quem cultiva a espécie desde 2017, Genivaldo é considerado uma referência no assunto. Ele compartilha os ensinamentos preciosos (especialmente para quem está começando) no seu canal do Youtube” Flores do Vale rd. Aos leitores, ele também deixa dicas importantes em relação ao sol, à regagem e ao fortalecimento da planta.
Sol em excesso queima, sim: “Tem planta que, quando exposta demais, começa a apresentar manchas marrons ou amareladas, principalmente no caldex, que é a base grossa da planta. Isso é queimadura. É excesso de sol. A rosa do deserto precisa de sol, sim, mas tem que saber dosar.” Ele revela que um erro muito comum é deixar a planta encostada no muro. “O sol já é escaldante e o calor do muro triplica a temperatura. Isso provoca queimaduras graves”, pontua.
Água e o mito da seca: “Dizem que a rosa do deserto não precisa de água. Isso é falácia. Ela precisa, sim”. Para ele, o que deixa o caldex bonito e bem nutrido, é justamente a água armazenada e os nutrientes. Segundo ele, quando falta água, o caldex murcha, e isso indica a desidratação. “Sempre que o substrato estiver seco, regue com abundância”.
- Substrato: o maior segredo. Ele também compartilha as melhores maneiras de usar o substrato na planta. “A rosa-do-deserto precisa de substrato com boa drenagem. Se ficar encharcado, apodrece a raiz. Isso é o motivo número um da perda de plantas”. Para o biólogo, quem não pode preparar seu próprio substrato deve comprar de quem tem conhecimento, pois é ele quem alimenta a planta.
- Folhas caindo? Nem sempre é doença. “Muita gente me pergunta: ‘Por que minha rosa tá perdendo as folhas?’ Às vezes é um processo natural. A planta baixa o metabolismo e, para economizar energia, ela dispensa as folhas. É como se estivesse descansando”, explica. “Agora, se o caldex estiver mole, aí sim é sinal de problema. Pode ser fungo, podridão ou até ataque de pragas”, complementa.
- Ácaros, fungos e cochonilhas: os vilões invisíveis. O pior inimigo da rosa do deserto é o ácaro, que não é inseto, é da família das aranhas. Por isso, inseticida comum não funciona. Marreiros ensina uma fórmula caseira usada para combater o inseto: calda bordalesa ou detergente neutro com água, mas é preciso borrifar na parte debaixo das plantas com frequência, senão eles voltam.
- Cada planta tem seu ritmo. Genivaldo reflete que não existe uma regra de rega fixa, e que depende muito do tipo de vaso, drenagem, substrato e principalmente do local onde ela está. Assim, se estiver no sol, vai precisar de água com mais frequência.
UM VIVEIRO QUE NASCEU DA DOR, MAS FLORESCE COM AMOR
Para Genival Marreiros, cultivar rosas do deserto vai muito além de vender mudas. É uma forma de viver. “Isso aqui continua sendo minha terapia. Às vezes estou com a cabeça cheia, venho para o viveiro arrancar uns matinhos, mexer nas raízes, fazer uma nova enxertia… É um momento meu”, divide.
“Manipular a planta é como pintar um quadro. Cada rosa é diferente da outra, faço clonagem com enxertia, mas ainda assim, cada uma se desenvolve de um jeito. Igual gente. É por isso que eu faço a analogia entre a rosa do deserto e o ser humano. Nenhuma é igual à outra”.
ONDE ENCONTRAR?
Genivaldo é o responsável pelo Viveiro Flores do Vale, no Núcleo Cidade Nova, região do Vale do Itacaiunas. No ambiente, ele cultiva cerca de 180 variedades de plantas, sendo 4 mil rosas-do-deserto, muitas delas únicas, com múltiplos enxertos, flores raras e valor ornamental elevado.
As mudas variam de valor, e podem custar em média R$ 40, mas outras podem alcançar um valor de R$ 400 pelo nível de enxertos e combinações que existem nela.
Aos domingos, ele também está presente na Feira Coberta da Laranjeiras, onde oferece mudas e tira dúvidas dos apaixonados por essa planta fascinante.
Mais do que um especialista em botânica, Genivaldo Marreiros é um exemplo de como, mesmo nos momentos mais difíceis, a vida pode florescer. E que, sim, é possível transformar dor em cor, amor e terapia.