Apesar de administrar um orçamento bilionário, o prefeito de Canaã dos Carajás, Jeová Andrade, continua priorizando obras suspeitas de superfaturamento em detrimento dos importantes cuidados com a população carente que mais sofre as consequências de uma grave pandemia mundial.
Desde março o filho adolescente de Sebastiana Alves da Silva não frequenta a escola por conta da pandemia de coronavírus. Quando as aulas foram paralisadas, a mãe desempregada começou a escutar a promessa de que a Prefeitura de Canaã dos Carajás, administrada pelo prefeito Jeová Andrade, forneceria cestas básicas para as famílias que possuem alunos matriculados na cidade.
Com quase três meses de atraso, nesta semana, finalmente ela conseguiu resgatar uma unidade do pacote de alimentos anunciado, mas ficou extremamente decepcionada com o que encontrou. O pacote mal sustenta a casa por uma semana, de acordo com ela. Além disso, Sebastiana se deparou com um pacote de achocolatado com a data de validade raspada: “eu não tenho coragem de dar isso para o meu filho”, declarou.
Leia mais:Há alguns dias a Prefeitura Municipal foi procurada pela Rádio Correio 99.9 FM questionando quantas cestas básicas foram adquiridas para o período de pandemia. Como resposta, o veículo foi informado que foram adquiridas 2.185 cestas básicas ao custo total de R$ 209.700,00, ou seja, quase R$ 96 por cesta.
Sobre os itens existentes em cada unidade, o município informou que eram 10 kg de arroz, 2kg de feijão, 1kg de sal iodado, duas unidades de óleo de soja 900ml, 1 Kg de farinha de mandioca, dois pacotes de 500g de café em pó, dois pacotes de 500g de flocão de milho, dois pacotes de 200g de leite em pó, um sachê de 340g de extrato de tomate, um pacote de 500g de macarrão espaguete e um pote de 250g de margarina, duas embalagens de 83g de sardinha, um pacote de 250g de sardinha, um pacote de 44g de biscoito de sal e 4 kg de açúcar.
Na mesma ocasião, a assessoria de comunicação informou que as cestas estavam sendo fornecidas pela Assistência Social e também pela Secretaria de Educação. Na última terça-feira (9), entretanto, no site da administração municipal, foi publicada nota informando que os kits entregues às famílias dos estudantes não são cestas básicas, mas um complemento a partir do material para a merenda escolar que já havia sido adquirido.
A publicação acrescenta que as famílias em situação de vulnerabilidade estão sendo atendidas pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e informa que até o momento foram 4 mil unidades entregues, enquanto há cerca de 12 mil alunos matriculados no município. Ao final de tanta explicação, o fato é que a comida distribuída às famílias é insuficiente e não atente a contento a população.
Na casa de Sebastiana, inclusive, o aluno de 15 anos trabalha prestando serviços de roça para tentar ganhar um pouco dinheiro, uma vez que ele e a mãe vivem de aluguel e estão comendo praticamente o que recebem de outra filha da mulher, que não vive na residência. Sebastiana saiu do Maranhão para buscar emprego em Canaã dos Carajás no início do ano, mas deu de cara com as portas fechadas pela pandemia.
“Eu não tô passando por mais necessidade aqui porque minha filha tá me ajudando, porque ela tem um marido. Meu filho pra ajudar tá trabalhando com o irmão dele, roçando. Eu estou desempregada e agora com essa situação não arrumo emprego”, desabafa. De acordo com ela, havia escutado comentários sobre a cesta murcha, mas decidiu esperar para ver com os próprios olhos.
“Comentaram pra mim que a cesta vinha nessa condição e quando eu cheguei lá e recebi isso aí vi que nem um café tem. Algumas pessoas tão recebendo tudo e outras não”, reclama a moradora da região Alto Horizonte. Na cesta recebida por ela, por exemplo, há apenas 1 kg de arroz, não há café e há um único óleo.
“Única coisa aqui que dura uma semana acho que é o óleo e acho que nem o óleo vai durar uma semana porque eu como muita fritura. Se fosse toda semana ganhar uma dessas, aí dava, né? Desde quando começou a pandemia agora foi a primeira que apareceu, ou seja, três meses pra chegar desse jeito. Eu preciso, gente. Eu pago R$ 100 de aluguel e a energia tá vindo R$ 160. Desempregada e sem renda não dá pra pagar nada”, finaliza.
POSICIONAMENTO
O Correio de Carajás procurou a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Canaã dos Carajás para questionar a existência de produto com data de validade raspada no kit recebido por Sebastiana e ao qual a Reportagem teve acesso ainda fechado.
A Ascom respondeu, por meio da Secretaria Municipal de Educação, informando que “causa muita estranheza à gestão o questionamento, tendo em vista que todos os produtos distribuídos passam por um rigoroso controle de qualidade e são repostos semanalmente, seguindo cronograma de distribuição – não há nenhuma possibilidade de haver produtos vencidos nos kits distribuídos”.
A nota ressalta, novamente, que que os kits não são cestas básicas, mas um complemento às famílias com o material que seria utilizado no contrato já vigente para a merenda escolar. Por fim, afirma que famílias em situação de vulnerabilidade social continuam sendo atendidas normalmente pela Secretaria de Desenvolvimento Social. (Luciana Marschall)