📅 Publicado em 11/12/2025 17h22
A linguagem cadenciada, tanto na escrita quanto na fala, é o traço distintivo de Samantha Andrade. Bibliotecária por profissão (e paixão) e escritora por dom, ela lança “Noite de Lendas em Marabá: Histórias da Amazônia”, seu primeiro livro solo.
Contudo, esta não é a primeira obra assinada pela autora nascida em São Paulo, criada em Belém e radicada em Marabá. Em 2024, em parceria com o poeta Adão Almeida, ela deu vida a ‘Curupira’. O ponto em comum entre as obras é a temática, pois ambas abordam lendas de Marabá e região.
Mas, desta vez, o processo de trazer o livro ao mundo teve uma dinâmica diferente. A montanha-russa da editoração foi vivida em carreira solo, e o fato de ser formada em Biblioteconomia não tornou o caminho necessariamente mais simples.
Leia mais:“É complexo, mas muito prazeroso. Eu já conhecia o processo da editoração e suas nuances técnicas. É extenso, são uns 10 ou 15 passos. Dessa vez, como fiz tudo sozinha, consegui mergulhar um pouco mais nesse percurso”, revela a autora em entrevista na sede do Correio de Carajás.
Definir a montagem da boneca (versão de teste), a gráfica, a editora, as imagens e os rascunhos exigiram muita criatividade de Samantha. Ela afirma que foi um momento longo e de muito diálogo interno para decidir cada detalhe.

A OBRA
“Noite de Lendas em Marabá: Histórias da Amazônia” mescla personagens icônicos das lendas amazônicas com temáticas atuais e urgentes discutidas na COP30, realizada em Belém em novembro de 2025. A conferência serve de pano de fundo para conscientizar o público infantojuvenil sobre a importância de preservar o meio ambiente.
“No dia a dia da biblioteca, vejo que as crianças gostam e se encantam com as lendas. Aí pensei: por que não? Ano passado focamos somente no Curupira; dessa vez quis ampliar esse universo e, além de incluir mais lendas, fazer uma conexão com a COP30”, explica.
Ao mesclar temas de sustentabilidade com o folclore, ela produziu um livro que pode ser usado em sala de aula para falar sobre educação ambiental. Para Samantha, é uma oportunidade de reafirmar a importância da preservação e dialogar com crianças e jovens sobre assuntos sérios, como florestas, desmatamento e políticas públicas.
Para levar o tema de forma leve e imersiva ao público-alvo, a linguagem do livro foi trabalhada de maneira específica. Embora existam debates atuais defendendo que a criança deve se adaptar à escrita do autor – e não o contrário -, explica que sua intenção sempre foi garantir que o conteúdo da obra fosse de fácil entendimento.
“A Inês Franco, uma grande amiga de Belém, fez a revisão e eu perguntei a opinião dela, se precisava mudar alguma palavra. Ela me deu algumas orientações, mas o objetivo era que a leitura fosse fluida, para que o leitor a achasse gostosa e aconchegante”, compartilha.

BIBLIOTECAS (DES)OCUPADAS
Como autora e bibliotecária, o local para o lançamento não poderia ser outro: a Biblioteca Municipal de Marabá. Na noite cálida de terça-feira (9), Samantha recebeu cerca de 130 pessoas.
“Foi emocionante. Imaginei que, por ser meu primeiro livro solo, não daria muita gente. Ver todo mundo ali me parabenizando e perguntando quando vem o próximo foi incrível”, conta, animada.
Ela reflete que, apesar da intenção de lançar a obra em plataformas digitais, é revigorante constatar que o ato de consumir livros físicos ainda está vivo entre os marabaenses. Contudo, uma ameaça silenciosa assombra essa tradição: o fechamento gradual de bibliotecas, inclusive nas escolas.
“As salas de leitura são importantes, mas a biblioteca é indispensável”, afirma com determinação.
A distinção feita pela autora é crucial. Enquanto as salas de leitura são espaços lúdicos, geralmente geridos por professores para incentivar o hábito de ler, a biblioteca é um organismo mais complexo. Regida por profissionais formados em Biblioteconomia, ela é um centro de pesquisa, informação e formação de leitores críticos, algo que vai muito além do simples acesso aos livros.
É por esse motivo que Samantha luta por mais investimentos no setor. Para ela, é gratificante ver o esforço para manter ou reabrir essas ‘casas dos livros’.
“Sou muito defensora desse papel, pois o bibliotecário ajuda na mediação da leitura e na formação de cidadãos. Quando me chamam para ajudar a transformar uma sala de leitura em biblioteca, meus olhos enchem de lágrimas e eu digo: vamos conseguir”, finaliza.
