Correio de Carajás

Biblioteca esquecida: acervo com milhares de livros trancado há 8 anos

Um acervo bibliográfico que mataria de inveja muitos outros municípios do Pará e do Brasil, com mais de 10 mil livros, entre títulos raros da literatura regional e nacional, enciclopédias, edições históricas entre outros está esquecido e abandonado em Marabá a nada menos que oito anos. Trata-se da Biblioteca Pública Estudantil Frederico Carlos Fontenelle Morbach. O espaço está intacto, em um pavilhão dentro da Escola Municipal de Ensino Fundamental Rio Tocantins, o Caic, na Folha 13, porém isolado do seu principal papel, o de celeiro para o conhecimento.

A reportagem do CORREIO, após ser informada do fato, esteve visitando o local. As portas externas estão trancadas por correntes e cadeados. A principal delas, lateral ao prédio, já nem existe, tendo sido substituída por uma parede. Regularmente funcionários da escola deixam as janelas (estilo persiana) entreabertas por um período do dia, o que claramente tem contribuído positivamente para o espaço, onde o mofo não era evidente, nem qualquer mal cheiro, embora poeira sobre os livros e teias de aranha existam por lá.

Com o conhecimento da diretoria da escola, entramos pelos corredores internos da Rio Tocantins, até o interior da biblioteca. Em um armário de aço, um barulho. Ao abrirmos encontramos na segunda gaveta um animal, uma mucura (Didelphidae) que ali se enfiou sozinha. No fundo da sala, uma casa de marimbondos instalada no beiral de uma das estantes.

Leia mais:

O CORREIO levantou que a referida biblioteca foi criada em uma fase de descentralização do acervo da Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM), em 1997, tanto que a implantação foi realizada pelos funcionários da instituição. Os livros contam com carimbo onde consta o nome da fundação e o nome da biblioteca.

#ANUNCIO

Os livros, pelas fichas constantes nas contracapas, estão devidamente catalogados e distribuídos por seções, de forma organizada, como se a biblioteca tivesse parado no tempo. A presença das mesas e cadeiras em plena condição de uso, banheiros, sala reservada dão certeza de que a biblioteca poderia ser reaberta em dois dias, bastando alguns retoques e alinhamentos.

Até a limpeza do local está em dia, graças aos funcionários da escola, que mesmo cuidando do espaço fora das suas atribuições, sempre destacam que não pertence à Rio Tocantins e não pode ser usado pelos alunos, que contam com outra biblioteca bem mais modesta no que diz respeito a acervo.

DURO GOLPE

Escritor e ativista cultural, poeta multipremiado, Airton Souza acompanhou a reportagem do CORREIO até a biblioteca e diz que há mais de ano vem lutando nos bastidores para que o equipamento volte a funcionar, aberto à comunidade, mas tem sido voz solitária.

“Este é, sem dúvidas, um dos maiores acervos literários do sul e sudeste do Pará. Está até em bom estado de conservação devido a mutirão de limpeza recente. Mas o que incomoda é saber que está no cadeado há quase oito anos, dentro de uma comunidade que precisa desse acesso. Temos aqui livros que não se encontra em qualquer outro lugar, com escritores da Amazônia como Dalcídio Judandir e Max Martins”, destaca o escritor, em tom de lamentação.

A direção da escola, apesar da receptividade com o Jornal e reposta a várias perguntas, preferiu não gravar entrevista, mas revelou que a biblioteca, caso venha a ser integrada ao patrimônio da Rio Tocantins, será um grande avanço, uma providência bem-vinda.

No acervo, em uma passagem pelas prateleiras, encontramos títulos como: “Afonso Contínuo, Santo de Altar”, romance de Lindanor Celina; “À Sombra das Cerejeiras”, de Adalcinda; “Caminho de Marahu”, de Max Martins; “A Guerra dos Seringueiros”, de Jesuíno Ramos; “Lendo o Pará – Obras Completas” – Edição Especial, de Bruno de Menezes e “Ponte do Galo” – Dalcídio Jurandir.

A reportagem saiu do local com a certeza de que o isolamento deste tesouro literário é um retrocesso grave, um duro golpe na formação de uma nova geração de leitores, em um momento em que a sociedade já vem se afastando dos livros, do contato com a história, a filosofia e os fatos que nos tornaram a comunidade que somos hoje.

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Semed promete reforma da escola e da biblioteca

Procurado pela Reportagem do CORREIO, o secretário municipal de Educação, Luciano Lopes Dias, disse que está ciente do dilema da Biblioteca Frederico Morbach e que, inclusive, já visitou o espaço e lamentou a falta de funcionalidade atual.

Por outro lado, Luciano disse que a Escola Rio Tocantins (Caic) será transformada em Escola Militar, um projeto piloto da atual gestão municipal em parceria com a Polícia Militar. Para tanto, toda a escola deverá passar por reforma, inclusive o espaço que abriga a biblioteca em questão, que voltará a funcionar sob a gestão da direção da própria escola.

“Reconheço que há obras importantes guardadas na Biblioteca Frederico Morbach e que precisam ser levadas ao conhecimento da comunidade. Estamos agora em fase final de elaboração do projeto de reforma, que deverá começar nas próximas semanas. A Escola Militar será implementada ainda no ano letivo de 2018”, garante o secretário.

Vanda Américo, hoje presidente da Fundação Casa da Cultura, também procurada pelo CORREIO, lamentou o fato da biblioteca estar parada, mas disse confiar que a Semed, atual detentora dos direitos do acervo, tomará as providências para reativação.

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Frede Morbach foi jornalista do CORREIO

A personalidade que tem o seu nome vinculado à biblioteca esquecida no Caic é lembrada com muito carinho em Marabá como poeta e jornalista. Frederico Carlos Fontenelle Morbach tinha 55 anos quando faleceu em 17 de janeiro de 1992, vitimado de um fulminante ataque cardíaco. Ele acabara de regressar de São Paulo (SP) onde se submetera a uma bateria de exames em que ficou diagnosticado problema delicado em seu miocárdio.

Frede, como tratado na intimidade, nasceu em Itaguatins, estado de Goiás, hoje Tocantins, em 1937 e com apenas um mês de vida mudou-se para Marabá. Exerceu, aqui, várias atividades, porém notabilizou-se mesmo foi como jornalista e poeta.

Contudo, ele publicou isoladamente em jornais poesias e crônicas que jamais reuniu em livro. Foi redator e colaborador dos jornais Correio do Tocantins, O Marabá, Vanguarda, Aratocan, de Marabá, e também do Diário do Pará e de A Província, da capital. Também prestou assessoria para vários governos municipais. Entre seus admiradores estavam políticos notáveis como Jarbas Passarinho, Oziel Carneiro e Aloysio Chaves.

Conhecia, como poucos, a trajetória política e econômica de Marabá. “Era uma biblioteca ambulante”, rememora Mascarenhas Carvalho, Editor do Correio do Tocantins durante 30 anos. Naquele grande Jornal (de 1983 a 1991) Frederico Morbach encontrou sua principal tribuna para as suas crônicas, poesias e comentários políticos. Afinal, Frederico Morbach foi referência nas letras regionais.

Foi casado com dona Maria Iris Rocha Morbach – filha de João Rocha – com quem teve os filhos Wilson, Marise, Maria Helena, Tatiana, Mirtes, Augusto e Átila, este último já falecido, assim como dona Iris. (Patrick Roberto)

Um acervo bibliográfico que mataria de inveja muitos outros municípios do Pará e do Brasil, com mais de 10 mil livros, entre títulos raros da literatura regional e nacional, enciclopédias, edições históricas entre outros está esquecido e abandonado em Marabá a nada menos que oito anos. Trata-se da Biblioteca Pública Estudantil Frederico Carlos Fontenelle Morbach. O espaço está intacto, em um pavilhão dentro da Escola Municipal de Ensino Fundamental Rio Tocantins, o Caic, na Folha 13, porém isolado do seu principal papel, o de celeiro para o conhecimento.

A reportagem do CORREIO, após ser informada do fato, esteve visitando o local. As portas externas estão trancadas por correntes e cadeados. A principal delas, lateral ao prédio, já nem existe, tendo sido substituída por uma parede. Regularmente funcionários da escola deixam as janelas (estilo persiana) entreabertas por um período do dia, o que claramente tem contribuído positivamente para o espaço, onde o mofo não era evidente, nem qualquer mal cheiro, embora poeira sobre os livros e teias de aranha existam por lá.

Com o conhecimento da diretoria da escola, entramos pelos corredores internos da Rio Tocantins, até o interior da biblioteca. Em um armário de aço, um barulho. Ao abrirmos encontramos na segunda gaveta um animal, uma mucura (Didelphidae) que ali se enfiou sozinha. No fundo da sala, uma casa de marimbondos instalada no beiral de uma das estantes.

O CORREIO levantou que a referida biblioteca foi criada em uma fase de descentralização do acervo da Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM), em 1997, tanto que a implantação foi realizada pelos funcionários da instituição. Os livros contam com carimbo onde consta o nome da fundação e o nome da biblioteca.

#ANUNCIO

Os livros, pelas fichas constantes nas contracapas, estão devidamente catalogados e distribuídos por seções, de forma organizada, como se a biblioteca tivesse parado no tempo. A presença das mesas e cadeiras em plena condição de uso, banheiros, sala reservada dão certeza de que a biblioteca poderia ser reaberta em dois dias, bastando alguns retoques e alinhamentos.

Até a limpeza do local está em dia, graças aos funcionários da escola, que mesmo cuidando do espaço fora das suas atribuições, sempre destacam que não pertence à Rio Tocantins e não pode ser usado pelos alunos, que contam com outra biblioteca bem mais modesta no que diz respeito a acervo.

DURO GOLPE

Escritor e ativista cultural, poeta multipremiado, Airton Souza acompanhou a reportagem do CORREIO até a biblioteca e diz que há mais de ano vem lutando nos bastidores para que o equipamento volte a funcionar, aberto à comunidade, mas tem sido voz solitária.

“Este é, sem dúvidas, um dos maiores acervos literários do sul e sudeste do Pará. Está até em bom estado de conservação devido a mutirão de limpeza recente. Mas o que incomoda é saber que está no cadeado há quase oito anos, dentro de uma comunidade que precisa desse acesso. Temos aqui livros que não se encontra em qualquer outro lugar, com escritores da Amazônia como Dalcídio Judandir e Max Martins”, destaca o escritor, em tom de lamentação.

A direção da escola, apesar da receptividade com o Jornal e reposta a várias perguntas, preferiu não gravar entrevista, mas revelou que a biblioteca, caso venha a ser integrada ao patrimônio da Rio Tocantins, será um grande avanço, uma providência bem-vinda.

No acervo, em uma passagem pelas prateleiras, encontramos títulos como: “Afonso Contínuo, Santo de Altar”, romance de Lindanor Celina; “À Sombra das Cerejeiras”, de Adalcinda; “Caminho de Marahu”, de Max Martins; “A Guerra dos Seringueiros”, de Jesuíno Ramos; “Lendo o Pará – Obras Completas” – Edição Especial, de Bruno de Menezes e “Ponte do Galo” – Dalcídio Jurandir.

A reportagem saiu do local com a certeza de que o isolamento deste tesouro literário é um retrocesso grave, um duro golpe na formação de uma nova geração de leitores, em um momento em que a sociedade já vem se afastando dos livros, do contato com a história, a filosofia e os fatos que nos tornaram a comunidade que somos hoje.

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Semed promete reforma da escola e da biblioteca

Procurado pela Reportagem do CORREIO, o secretário municipal de Educação, Luciano Lopes Dias, disse que está ciente do dilema da Biblioteca Frederico Morbach e que, inclusive, já visitou o espaço e lamentou a falta de funcionalidade atual.

Por outro lado, Luciano disse que a Escola Rio Tocantins (Caic) será transformada em Escola Militar, um projeto piloto da atual gestão municipal em parceria com a Polícia Militar. Para tanto, toda a escola deverá passar por reforma, inclusive o espaço que abriga a biblioteca em questão, que voltará a funcionar sob a gestão da direção da própria escola.

“Reconheço que há obras importantes guardadas na Biblioteca Frederico Morbach e que precisam ser levadas ao conhecimento da comunidade. Estamos agora em fase final de elaboração do projeto de reforma, que deverá começar nas próximas semanas. A Escola Militar será implementada ainda no ano letivo de 2018”, garante o secretário.

Vanda Américo, hoje presidente da Fundação Casa da Cultura, também procurada pelo CORREIO, lamentou o fato da biblioteca estar parada, mas disse confiar que a Semed, atual detentora dos direitos do acervo, tomará as providências para reativação.

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Frede Morbach foi jornalista do CORREIO

A personalidade que tem o seu nome vinculado à biblioteca esquecida no Caic é lembrada com muito carinho em Marabá como poeta e jornalista. Frederico Carlos Fontenelle Morbach tinha 55 anos quando faleceu em 17 de janeiro de 1992, vitimado de um fulminante ataque cardíaco. Ele acabara de regressar de São Paulo (SP) onde se submetera a uma bateria de exames em que ficou diagnosticado problema delicado em seu miocárdio.

Frede, como tratado na intimidade, nasceu em Itaguatins, estado de Goiás, hoje Tocantins, em 1937 e com apenas um mês de vida mudou-se para Marabá. Exerceu, aqui, várias atividades, porém notabilizou-se mesmo foi como jornalista e poeta.

Contudo, ele publicou isoladamente em jornais poesias e crônicas que jamais reuniu em livro. Foi redator e colaborador dos jornais Correio do Tocantins, O Marabá, Vanguarda, Aratocan, de Marabá, e também do Diário do Pará e de A Província, da capital. Também prestou assessoria para vários governos municipais. Entre seus admiradores estavam políticos notáveis como Jarbas Passarinho, Oziel Carneiro e Aloysio Chaves.

Conhecia, como poucos, a trajetória política e econômica de Marabá. “Era uma biblioteca ambulante”, rememora Mascarenhas Carvalho, Editor do Correio do Tocantins durante 30 anos. Naquele grande Jornal (de 1983 a 1991) Frederico Morbach encontrou sua principal tribuna para as suas crônicas, poesias e comentários políticos. Afinal, Frederico Morbach foi referência nas letras regionais.

Foi casado com dona Maria Iris Rocha Morbach – filha de João Rocha – com quem teve os filhos Wilson, Marise, Maria Helena, Tatiana, Mirtes, Augusto e Átila, este último já falecido, assim como dona Iris. (Patrick Roberto)