As comportas da Usina 14 de Julho foram fechadas, nesta quinta-feira (6), para reduzir o nível das águas do Rio das Antas e ampliar a área de busca aos desaparecidos em Bento Gonçalves, na Serra do Rio Grande do Sul. A barragem da hidrelétrica rompeu parcialmente no dia 2 de maio, quando o estado era atingido pelos temporais e pelas cheias, que deixaram 172 mortos.
O boletim mais recente da Defesa Civil aponta que o estado ainda tem 41 pessoas desaparecidas, sendo quatro em Bento Gonçalves. O aposentado Nordélio Faccin, de 82 anos, é irmão, sogro e vizinho de três das desaparecidas.
“Eu estou sempre, quando boto a mão no travesseiro, pensando: ‘onde é que elas estão?'”, diz.
Leia mais:O idoso também foi arrastado por um deslizamento quando saía de casa na comunidade de Imaculada, no interior do município.
“Entrei de bico na água, no rio. Tranquei a respiração e desci lá no fundo. Lá em baixo, pensei: ‘se eu vou morrer, onde é que eles vão encontrar?'”, conta.
Já são quase 40 dias de buscas. O fechamento das comportas permite a redução do nível das águas. Com isso, máquinas e bombeiros conseguem avançar 20 metros para dentro do rio.
O capitão João Fornasier, do Corpo de Bombeiros Militar (CBM), explica que a localização de objetos na água pode indicar a existência de vítimas na região.
“A gente deve avançar o máximo possível da área vasculhando e, enfim, descartando hipóteses de existirem vestígios de resíduos biológicos e humanos. Há muitos sedimentos como, por exemplo, pedras; materiais de casas que foram destruídas; às vezes, pertences”, diz.
A barragem da Usina Hidrelétrica (UHE) 14 de Julho, localizada entre Cotiporã e Bento Gonçalves, se rompeu parcialmente na tarde de 2 de maio. A informação foi confirmada pelo governador Eduardo Leite (PSDB) nas redes sociais.
Em nota, a Companhia Energética Rio das Antas (Ceran) informou que o rompimento ocorreu “devido ao contínuo aumento da vazão do Rio das Antas e das fortes chuvas que atingem o estado”. Segundo a empresa, após a análise de técnicos, foi constatado que o rompimento parcial não representou aumento significativo nas vazões já existentes na Bacia Taquari-Antas.
Cão farejador e sonar
Um cão farejador auxilia nas buscas. General, como é conhecido o animal, já encontrou duas vítimas nos deslizamentos em Caxias do Sul. O cachorro tem certificação nacional em busca e resgate.
O bombeiro militar Éderson Gomes comenta que os cães têm de 250 a 500 milhões de células olfativas, enquanto os seres humanos têm apenas 5 milhões.
“A gente utiliza muito o cão nesse momento, em que a gente não consegue visualmente nem pelo odor, enxergar onde pode ter uma possível vítima”, comenta.
Os bombeiros também contam com o auxílio de um sonar, que é uma espécie de radar. O equipamento permite “enxergar” estruturas submersas, mesmo com condições precárias de visibilidade na água.
Em cinco semanas de operação, os bombeiros já percorreram cerca de 140 km nas duas margens dos rios das Antas e Taquari. Mais de 450 militares atuaram nas buscas.