Correio de Carajás

Bares e restaurantes se fortalecem no Núcleo São Félix

Morando no Núcleo São Félix há mais de 40 anos – 30 deles no mesmo local – Rafael Gomes Rodrigues, 50 anos, é empresário do ramo de entretenimento desde 2010.

Ele relembra que quando abriu o bar no local, às margens da Rodovia PA-150, não existia nem estabelecimento em volta. “Era só eu aqui. Olhava a noite e não via ninguém. Depois que o pessoal ia chegando de uma forma tímida. Mas foi um pontapé né? Depois foram aparecendo outros companheiros ao redor e nosso local só tem crescido”, comenta.

Com o conhecimento de mais de uma década, Rafael é considerado por alguns um líder no que diz respeito aos bares e casas de shows do Núcleo São Félix.

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Para ele, o local só tende a crescer nos próximos anos, e torce para que mais empresários invistam ‘do outro lado da ponte’. “Os empresários estão abrindo os olhos para o São Félix e têm investido aqui. O crescimento do complexo está atraindo vários segmentos. E aí, a gente não tem mais que ficar indo para o outro lado pra resolver as coisas. Hoje, o São Félix é um local quase completo, só faltam os bancos e os Correios”, diz Rafael.

Rafael é empresário do ramo de entretenimento há 12 anos no São Félix

Acreditando no potencial, Rafael admite que está satisfeito com tudo o que conquistou, e afirma que tem feito investimentos e construções no São Félix, já de olho no futuro. Mesmo percebendo um crescimento desordenado, sem apoio do Poder Público, ele está confiante no progresso, inclusive para a criação do município de Paraguatins, do qual é favorável, admitindo que muitos moradores já sentem como se o local fosse uma cidade de verdade.

Com geração de emprego e renda pra a localidade, Rafael quer mesmo que mais empresas apareçam no núcleo. “Isso vai fortalecer nosso comércio e nossa economia. E nesses próximos anos, com a nova ponte, acredito que vamos ter mais políticos olhando por nós. Se pegar um drone é possível comparar: o lado que cresceu com o poder público e o lado que cresceu com o apoio da iniciativa privada. A mobilidade urbana é diferente. Eles têm asfalto, água. Eu moro há mais de 30 anos aqui e nunca bebi uma gota de água potável. Temos quase 100 mil habitantes no Núcleo e esse serviço não chega”, fala, indignado.

“Hoje, as pessoas vêm ‘do lado de lá’ pra comer aqui”

Sem representantes legais – e oficiais – do setor de bares e restaurantes do Núcleo São Félix, os empresários trabalham como podem. Uns se reúnem com um grupo de pessoas, outros preferem atuar sozinhos… e, assim, um dos núcleos mais populosos de Marabá vai se fortalecendo, ao seu modo, no que diz respeito ao setor alimentício e ao de entretenimento.

“Existe uma disputa. A concorrência vai ter em qualquer segmento. Mas, ainda vejo uma desunião muito grande dos empresários que seguem o mesmo ramo que eu”, avalia Railane Gomes, 32 anos, moradora e empresária do setor alimentício.

Por conta do crescimento, Railane abriu três restaurantes: todos no São Félix

Ao perceber a carência do bairro, ela decidiu investir. E o cenário atual é bem diferente do de anos atrás. “A gente saía daqui pra ir comer ‘do outro lado da ponte’ e via que as pessoas do bairro também faziam o mesmo. Foi então que entramos no ramo e estamos conseguindo expandir o negócio. Hoje, as pessoas vêm ‘do lado de lá’ para comer aqui no São Félix porque a comida é mais gostosa, porque o preço é mais em conta”.

Atualmente, com três restaurantes somente no São Félix, Railane e a sócia celebram o sucesso dos empreendimentos. Dos três, um é voltado basicamente ao atendimento de empresas, e os outros dois são direcionados para o público em geral.

“Temos uma demanda muito grande de empresas e funcionários aqui no bairro. Então, ampliamos o restaurante, inclusive com um segundo piso, para atender todo esse público”, explica Railane.

Há pouco mais de dois meses, Railane inaugurou o terceiro restaurante no bairro. Além do almoço, ele é voltado para o público da noite que busca um espetinho e uma música ao vivo. “O primeiro restaurante tem mais ou menos sete anos. Começamos em um ponto de aluguel e hoje estamos em um prédio próprio. O segundo tem três anos e também começou em um prédio alugado, e hoje está em espaço próprio. E o novo restaurante tem apenas três meses num prédio alugado”, fala Railane, esperançosa que tudo dê certo para também se tornar um prédio próprio.

Ela afirma que os clientes que já frequentavam os outros restaurantes para almoçar pediam para que abrissem na parte da noite, para que o bairro pudesse ter mais uma opção.

Visionárias, as empreendedoras estudaram o mercado e decidiram investir. “Sentimos essa necessidade de colocar uma música ao vivo e uma televisão pra uma partida de futebol, justamente por causa da população que mora aqui e não tem tantas opções, e para os funcionários das empresas – antigas e as que estão chegando – que eles vão precisar jantar. Então, estamos visando isso também”.

Empregando mais de 20 colaboradores nos três restaurantes, Railane ressalta que todos são moradores do São Félix. Apesar de achar a mão de obra, no geral, escassa, ela faz questão de empregar pessoas da localidade. “Muitos querem o emprego, mas não querem o trabalho. Os funcionários que temos, em sua grande maioria, são antigos. Então, quando encontramos funcionários que trabalham direitinho, a gente segura mesmo”, conta, sorrindo.

Com a construção da nova ponte, ou melhor, das duas novas pontes (uma rodoviária e a outra ferroviária) ao lado da já existente, que é rodoferroviária, a expectativa é que a demanda triplique.

“Já estamos atendendo na entrega de marmitas uma das principais empresas que está atuando na construção da ponte. Eles nos repassaram que irão construir uma cozinha própria no canteiro. Mas, que até ficar pronta, vamos continuar fornecendo a comida. E isso é muito bom pro comércio local do São Félix”, fala Railane.

Analisando os últimos sete anos, a empresária afirma que o Núcleo São Félix cresceu consideravelmente nesse período, e parece crescer a cada dia. Porém, a ausência de bancos e de uma agência dos Correios ainda é um dos pontos negativos. “Precisamos de caixas eletrônicos, agências bancárias. E, também precisamos de um outro supermercado porque só temos um e não dá conta da alta demanda. Ainda mais pra quem compra no atacado. Mas, eu acredito que nos próximos anos a tendência é crescer mais. E, pra gente que já está aqui é melhor ainda”, comemora, ressaltando que é totalmente a favor na criação do município de Araguatins, mesmo sabendo que ainda falta muita coisa no núcleo.

(Ana Mangas)