Em 1998, Jefte Rodrigues, com cinco anos de idade, se lembra dos sons das tesouras ágeis nas mãos de seu pai, Raimundo Ramalho – 26 anos na época – concentrado no trabalho como cabeleireiro em seu salão, localizado na Marabá Pioneira. Coincidentemente, hoje, com a mesma idade que seu pai tinha na época, o rapaz possui o seu próprio estabelecimento de estética masculina. Porém, com um visual diferente dos padrões que se conhecia no fim dos anos 90 e início dos anos 2000.
Paredes pintadas com paleta de cores selecionadas, um freezer para bebidas, móveis rústicos com uma pegada retrô e ao mesmo tempo contemporânea, músicas atuais e algumas até com opções de lazer como sinuca, videogames, dardos, etc. Esse é o novo visual das barbearias – como eram conhecidas – que foram reinventadas para se adaptar aos dias atuais. E, nelas, os homens não cuidam apenas dos seus cabelos, mas de vários outros procedimentos estéticos que antes não realizavam.
Em Marabá, Jefte – ou Jeferson, como prefere – viu a necessidade de entrar nesse formato que os salões masculinos passaram a ter. “Principalmente no serviço. Antes, o cliente queria apenas o corte social básico, hoje ele já exige algo diferente, um degradê no corte ou na barba, selagem para o cabelo, hidratação, são serviços que antes não eram muito procurados e agora estão sendo exigidos. Aqui na Marabá Pioneira ainda há poucas barbearias, então vi uma ótima oportunidade de trazer essa proposta para o meu bairro”, conta.
Leia mais:Para chegar até ter sua própria barbearia, Jeferson percorreu um longo caminho, já que no inicio nem imaginava que seguiria os passos de seu pai. Com um olhar nostálgico, ele conta que aos 12 anos de idade o patriarca passou a levá-lo ao salão para que se ocupasse durante o tempo livre. “No começo, eu o ajudava varrendo e mantendo o salão limpo, até que um dia o funcionário dele me disse para começar a prestar atenção em como eles cortavam, para eu aprender. Meu pai achava que eu estava muito novo para isso ainda, mas na hora do almoço, quando ele saía, os funcionários dele me colocavam para praticar. Assim, eu peguei as ‘manhas’ e passei a ajudar também nos cortes”, relembra Jeferson.
Os anos foram passando e os funcionários de Raimundo foram saindo do seu salão, até que ficaram apenas pai e filho cuidando do estabelecimento. Até que em 2016, Jeferson viu a necessidade de ter o seu próprio espaço e se mudou para uma kitnet com sua esposa e filho e usou a sala para montar uma estrutura simples para continuar atendendo. “Me mudei para a Travessa Augusto Dias e montei uma estrutura bem simples, coloquei uma poltrona, um espelho e instalei uma central de ar-condicionado no que seria o meu quarto. No começo atendia os amigos, alguns familiares, mas a clientela do meu pai passou a ser compartilhada e logo a demanda aumentou”, recorda Jeferson.
Com isso, o jovem barbeiro se mudou para uma casa na Rua 5 de Abril e transformou a garagem na Barbearia Rodrigues, com ajuda de economias que fez durante o período que esteve atendendo na kitnet. “Já tinha a ideia de mudar para um espaço maior, então com as economias investi em uma pintura nova para a garagem, comprei mais poltronas para atender, instalei o ar-condicionado, comprei mais móveis e tudo pensando em estrutura de barbearia. Pesquisei sobre decorações e os próprios clientes foram me dando algumas dicas do que comprar. Eles ajudaram bastante”, explica Jeferson.
Mas ainda há detalhes que Jeferson quer incrementar em sua barbearia, como um freezer para os clientes consumirem bebidas ou uma televisão maior para acompanhar uma partida de futebol, conforme relatou durante a entrevista. Embora ainda esteja em crescimento, sua barbearia já triplicou o número de clientes – se comparado à época que atendia na kitnet – de 30 pessoas por semana para 30 por dia, alcançando uma média de 180 clientes semanalmente, segundo ele.
Um desses clientes é o professor de educação física, Lucas Almeilim, que frequenta a barbearia de Jeferson há um ano e meio e preza muito por serviço de qualidade quando o assunto é o seu visual. “Sempre passava pela frente (da barbearia) ao ir trabalhar e um dia fiquei sabendo que o meu barbeiro de confiança estava trabalhando aqui. Então, passei a frequentar. Geralmente, não entrego o meu cabelo a qualquer pessoa, até que surgiu uma situação em que não pude ser atendido por ele e para não me atrasar para um compromisso acabei confiando nas mãos do Jeferson e não me decepcionei”, comenta Lucas.
Para o CORREIO, o cabeleireiro revelou ter investido R$ 8.000,00 no local que está hoje, contando com mais dois profissionais para auxiliá-lo. Além disso, já está planejando mudar a barbearia para um ponto mais espaçoso.
Olhar empreendedor foca no conceito de espaço estético masculino
Apesar das mudanças na aparência, as barbearias ainda são empresas do ramo de estética e beleza. Sendo assim, o tradicionalismo não é obrigatoriamente uma chave para conquistar o público. Pensar como empresário é essencial para ter sucesso na construção de uma marca que desperte nos homens a curiosidade de apostar em um estabelecimento.
Foi com esse olhar empreendedor que o mineiro Gabriel Batista, de 30 anos, mudou-se para Marabá e inaugurou a Le Barbu em julho de 2018. Com visual mais contemporâneo e descolado, ela fica localizada na Folha 28 e oferece – além do tradicional corte de cabelo – a barboterapia, selagem, hidratação, uso de vaporizador de ozônio e até design de sobrancelha.
Mas quem pensa que a mudança de Gabriel foi aos trancos e barrancos está enganado. Para vir a Marabá, ele estudou cuidadosamente o mercado e também a região onde instalaria sua barbearia – o Núcleo Nova Marabá. Nada muito difícil para ele, que empreende desde os 16 anos de idade.
“Acho que para qualquer segmento no Brasil não é fácil empreender. Para eu vir a Marabá com a minha proposta foi tranquilo, pois com 16 anos tinha o meu próprio negócio, apesar de não ser no ramo de estética. Mas há dois anos trabalho como barbeiro e desde o começo sempre fui observando as necessidades dos homens. Com isso, veio a ideia de montar a minha barbearia para atender essas necessidades”, conta Gabriel.
E quais são elas?
Segundo Gabriel, elas vão desde o bom atendimento até o ambiente da barbearia. “Eu usei muito da minha visão de consumidor para aplicar na minha barbearia. Os homens querem um espaço voltado para eles, que passe um papo de homem para homem e tenha algo a mais como uma bebida, um futebol passando na TV e mais diversidade de serviços estéticos”, explica.
Quem confirma a afirmação de Gabriel é o seu cliente Pedro Vinicius Lima, empresário de 23 anos, que preza pela aparência por bons motivos: “Hoje em dia a aparência é tudo, né? Desde uma entrevista de emprego até você ir a um barzinho ou balada, é sempre bom estar com visual bacana. Eu gosto do ambiente das barbearias porque a estrutura é bem moderna, confortável e acabo fazendo amizade com os barbeiros, pois sempre rola uma boa conversa”, justifica Pedro Vinicius.
Conquistar clientes através da atenção no atendimento e da inovação dos serviços foi fundamental para o jovem empreendedor obter sucesso com a sua barbearia. Até porque, muito do que é oferecido hoje na Le Barbu, anos atrás era considerado como “serviços femininos”, como a selagem, hidratação ou design de sobrancelha.
O número de interessados nesses serviços pode ser refletido nos clientes de Gabriel, que de uma média de 50 por semana, no inicio, aumentou para 120, atualmente.
Já falando em dados, um estudo realizado pelo Instituto Qualibest para a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), aponta que 43% dos homens se consideram supervaidosos e 54% frequentam regularmente salões e barbearias.
Barbearias investem até em fidelização
Para dar conta dessa demanda, seis barbeiros, contando com ele mesmo, atendem de segunda a sábado os mais diversos perfis de homens. E ainda, disponibiliza um cartão fidelidade que permite, após reunir 10 serviços, ganhar um gratuitamente.
Para tornar realidade seu empreendimento, Gabriel diz que investiu R$ 60.000,00 para trazer uma estrutura confortável e moderna para Marabá, revelando ainda que pretende deixar o espaço ainda melhor no futuro. “O ambiente diz muito sobre o seu espaço, e deixá-lo mais atraente e confortável para os clientes é uma missão que nós temos para o futuro”, finaliza Gabriel. (Zeus Bandeira)