Três narrativas singulares ganham vida em Marabá por meio da Lei Paulo Gustavo de incentivo a arte e cultura. Markus Vinicyus Sousa lidera o projeto Conexão Afro, lutando contra o racismo com arte; ngela Maria Araújo dos Santos busca realizar seu sonho com “Até o Deus do Impossível”, expressando fé e esperança em suas composições; enquanto Yukari Moreira, mergulha na rica mitologia da Amazônia em seu projeto audiovisual, promovendo reflexões sobre preservação ambiental e inclusão social.
O trio reside no Bairro Independência, à beira do Rio Itacaiunas. Estigmatizado como área violenta da cidade, o local abriga duas escolas de boi bumbá e uma das maiores concentrações de terreiros de religiões de matriz afro-brasileira.
Se destacando mais uma vez por suas iniciativas criativas, Marabá parece estar comprometida com a promoção da igualdade e da valorização da cultura afro-brasileira.
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Desta vez, o protagonismo vem do projeto Conexão Afro, uma iniciativa que pretende combater o racismo enfrentado por adolescentes dentro e fora das salas de aula, promovendo conscientização e empoderamento por meio da arte e da educação.
O idealizador e coordenador do projeto, Markus Vinicyus Sousa, marabaense e arte educador em formação, conta sobre a essência e os objetivos do Conexão Afro. “O projeto surgiu da necessidade de abordar a questão racial de forma mais direta e eficaz dentro do contexto escolar. Percebemos que muitos jovens sofrem com o racismo e têm dificuldades em aceitar sua identidade afrodescendente”.
Segundo o jovem, a necessidade era de criar um espaço onde pudessem se expressar livremente, se empoderar e reconhecer a beleza de sua cultura e de sua ancestralidade.
Desenvolvido na Escola Irmã Theodora, o projeto engloba uma série de atividades que vão desde danças e percussão afro-brasileiras até teatro, literatura e pintura. Além disso, promove ensaios fotográficos e busca resgatar e valorizar a cultura afro-brasileira, outrora oprimida e marginalizada.
A inspiração para o projeto veio da professora de Geografia e Estudos Amazônicos da Escola Irmã Theodora, Doeldes Ferreira, que de forma independente deu vida à iniciativa e hoje trabalha em parceria com Markus na coordenação das atividades. “Juntos, pensamos em cada detalhe do projeto, desde as atividades até os eventos e exposições que realizamos ao longo do ano”, diz.
A respeito do processo de concorrer à Lei, ele pontua que o projeto foi muito bem pensado e estruturado, e que ficou extremamente feliz por ser selecionado. Ele entende que o recurso será fundamental para dar continuidade ao trabalho e impactar ainda mais vidas.
Questionado sobre como os projetos beneficiarão Marabá, Markus destaca o impacto direto na vida dos adolescentes da Escola Irmã Theodora. “Além de participarem das atividades do projeto, muitos jovens descobrem talentos e habilidades que nem imaginavam possuir. É uma forma de educar para a vida, de oferecer oportunidades reais de crescimento e desenvolvimento pessoal”, afirma.
Esta não é a primeira vez que Markus é contemplado por um edital. Anteriormente, ele foi beneficiado pelo edital Transamazônica 50+50. No entanto, ele espera que esta não seja a última vez que o projeto recebe apoio financeiro.
O jovem entende que as atividades culturais dependem desses recursos para acontecer. Diante disso, espera que essa seja apenas uma de muitas conquistas pela frente.
CLIPE
Também selecionada pela Lei, ngela Maria Araújo dos Santos, de 22 anos, carrega consigo o desejo de transformar sua fé e sua arte em um poderoso testemunho de superação e esperança. Ainda estudante e sem curso superior, traz consigo um projeto que é mais do que uma simples manifestação artística – é uma declaração de fé e uma expressão de seus mais profundos anseios.
“Até o Deus do Impossível” é o nome do projeto gospel que ngela idealizou, visando gravar um clipe de sua própria composição. Ela almeja traduzir em música e imagem a essência de sua devoção e o poder de sua crença.
O projeto, meticulosamente elaborado pela jovem, visa ir além da simples gravação de um clipe. “Eu sempre quis gravar um clipe com uma música que compus, mas o sonho parecia distante demais”, compartilha, acrescentando que foi incentivada por um amigo a participar do edital e decidiu arriscar. O nome ‘Até o Deus do Impossível’ surgiu porque, para ela, esse era um sonho inalcançável até então.
A jornada de Ângela rumo à realização desse sonho não foi fácil. O processo de concorrer à Lei exigiu dedicação, coragem e, acima de tudo, fé. Ela conta que não imaginava que seria contemplada e que o processo foi desafiador, mas acredita que Deus abriu as portas necessárias para que pudesse alcançar o objetivo.
Além da gravação do clipe, o projeto da marabaense traz consigo uma nobre missão social: “Estou planejando realizar uma oficina de canto para jovens da comunidade, para inspirá-los a acreditarem em seus talentos e dons”, destaca. Essa iniciativa visa não apenas fortalecer a cena artística local, mas também promover o desenvolvimento pessoal e a autoconfiança dos participantes.
Para Ângela, ser contemplada por este edital é mais do que uma conquista pessoal – é uma oportunidade de inspirar e impactar positivamente sua comunidade. Essa é a primeira vez contemplada por um edital como esse e espera-se que seja apenas o começo de uma jornada repleta de realizações e bênçãos.
CURTA METRAGEM
Produtor audiovisual, Yukari Moreira é o terceiro contemplado pela Lei Paulo Gustavo. O jovem traz consigo a rica tapeçaria de histórias, mitos e reflexões que envolvem Marabá e suas entranhas culturais. Nascido em Araguaína, no Tocantins, ele foi criado em Rondon do Pará e radicado em Marabá desde 2017.
Aos 27 anos, traz consigo uma bagagem de experiências e influências que moldaram sua visão artística e seu compromisso com a preservação cultural e ambiental. Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e professor de sociologia no ensino médio, Yukari agora trilha novos caminhos como estudante de produção audiovisual.
Seu projeto, um curta-metragem intitulado “A Selva de Marabá: O Eco dos Espíritos”, mergulha nas profundezas da história e da mitologia amazônica, trazendo à luz as lendas locais e figuras mitológicas que povoam o imaginário da região. Num cenário pré-colônia, ele nos conduz a uma Marabá anterior a Francisco Coelho, onde indígenas e africanos escravizados resistem e, ao serem mortos, são transformados em entidades protetoras da floresta. “Meu projeto busca dialogar com a história, a natureza e as questões sociais que permeiam Marabá.
Explorando mitos como o Curupira, o Uirapuru, a Iara e o Nego D’água, pretendo abordar temas como a preservação do meio ambiente, o combate ao racismo e a LGBTfobia, conectando os desafios do passado com os reflexos no presente”, explica.
A ideia para o projeto, segundo ele, nasceu de diversas influências e narrativas que permeiam a cultura local. Yukari destaca o papel fundamental de figuras como Lara Borges da Boiúna, Porca de Bobes, o muralismo de Bino Sousa e o escritor paraense Juraci Siqueira, além de produções nacionais como “Cidade Invisível”, que inspiraram e moldaram sua visão artística.
O processo de concorrer à Lei Paulo Gustavo, assim como para Markus e ngela, não foi isento de desafios. Yukari aponta a necessidade de um apoio mais presencial para os artistas menos experientes e uma maior acessibilidade às novas tecnologias como fatores que podem alavancar o potencial criativo de tantos outros artistas locais.
Além de ser uma expressão artística, o projeto do jovem visa beneficiar toda a comunidade de Marabá. A contratação de uma equipe diversificada, que inclui atores, maquiadores, artesãos, diretores e iluminadores locais, promove não apenas o desenvolvimento do setor audiovisual, mas também fortalece a economia local, proporcionando oportunidades para novos talentos emergentes.
Embora não seja a primeira vez que Yukari é contemplado por editais de incentivo à cultura, a Lei Paulo Gustavo marca sua estreia nesse contexto. Yukari soma conquistas anteriores, como o edital Transamazônica, a Lei de Incentivo SEMEAR e o Aldir Blanc, se destacando em prêmios de fotografia e outras realizações.
“A Lei Paulo Gustavo representa uma nova etapa em minha jornada artística. É uma oportunidade de explorar novos horizontes, de contar histórias que ecoam nas entranhas da floresta, e de inspirar aqueles que compartilham meu amor pela cultura, pela natureza e pela arte”, conclui. (Thays Araujo)