O governador do Pará, Helder Barbalho e o prefeito Toni Cunha se manifestaram no último final de semana sobre a proposta do ICMBio para transformação de dezenas de lagos do chamado Paleocanal do Rio Tocantins em Unidade de Conservação de Uso Sustentável, denominada popularmente de Área de Proteção Ambiental (ICMBio).
A manifestação dos dois gestores ocorreu logo após uma audiência pública realizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ocorrida no último sábado (16), na Câmara Municipal de Marabá para criação das Áreas de Proteção Ambiental do Paleocanal do Rio Tocantins e do Bico do Papagaio, além do Monumento Natural do Bico do Papagaio.

Os dois disseram que são contrários à proposta e o prefeito foi o primeiro a se manifestar, ainda no sábado por meio de uma rede social. Toni criticou o governo federal, avaliando dizendo que “quando de esquerda, sempre tenta usar o Estado do Pará como palco para suas falsas experiências e pautas ideológicas, inclusive na questão ambiental, quando na verdade nunca tiveram nenhuma preocupação com o meio ambiente. Sempre perseguindo e massacrando homens e mulheres que há décadas produzem em nosso território e são expulsos sob o argumento de absurdo reconhecimento de terras indígenas ou criação de áreas de proteção ambiental.
Leia mais:Agora, surge a história do Paleocanal que, supostamente, pode atrapalhar o derrocamento do Pedral do Lourenço e, por conseguinte, a hidrovia Araguaia Tocantins. O governo de Marabá, sob meu comando, é totalmente contra esse movimento. Advirto que secretários do governo de Marabá que apoiarem este movimento do governo federal serão sumariamente exonerados”.
Sem usar o tom ameaçador de Toni Cunha, Helder Barbalho também criticou, por meio de um vídeo nas redes sociais, o projeto de criação da Área de Proteção Ambiental do Paleocanal do Rio Tocantins. Assim como Toni, o governador também acredita que se trata de algo novo, criado recentemente para inviabilizar o derrocamento do Pedral do Lourenção, em Itupiranga.

“O derrocamento do Pedral do Lourenço é uma intervenção importante que vai gerar emprego, renda e desenvolvimento pro Pará, possibilitando uma nova hidrovia na área. Neste sentido, somos contra a audiência pública proposta pelo ICMBio para discutir a criação da área de proteção ambiental do Rio Tocantins. Esta criação inviabilizaria a hidrovia e seus ganhos para economia da região”, argumentou Helder.
A Reportagem do CORREIO levantou que o Pedral do Lourenção não está dentro do projeto da APA do Paleocanal, proposta pelo ICMBio, mas da APA do Lago de Tucuruí, sob a gestão do governo do Estado. Ou seja, não haveria nenhum impacto para o Projeto do derrocamento nem mesmo para a criação da Hidrovia do Rio Tocantins/Araguaia.
Mas os dois parecem desconhecer o projeto original da APA do Paleocanal e quando ele surgiu.
Em 1974, o projeto Radam, do governo federal, sugeriu proteger a área do Paleocanal, que é formado por dezenas de lago ao lado do Rio Tocantins, entre Marabá, Nova Ipixuna e Itupiranga. Em 1982 o Grupo Gema, ligado à Fundação Casa da Cultura de Marabá, começou a estudar a região dos lagos. Foi em 1984, com a visita de Aziz Ab Saber, deu o nome do Paleocanal do Rio Tocantins.
Posteriormente, a Fundação Casa da Cultura assumiu os estudos que eram do Gema e levou sozinha até 2022. Em 2023, ganhou o suporte de estudiosos da Unifesspa e do ICMBio, e em 2024 foi consolidado o projeto de criação de duas APAs, sendo uma do Paleocanal do Rio Tocantins e outra do Bico do Papagaio.

SAIBA MAIS
No total, 304 lagos estão localizados nas regiões, que somadas, possuem expressivos 128.461,82 hectares – o que corresponde à área total do município de São João do Araguaia.
Mais especificamente, a APA Paleocanal do Rio Tocantins abrange regiões dos municípios de Marabá, Itupiranga e Nova Ipixuna, onde se concentram 56 lagos em uma área de 31.736,9 hectares. Nesses locais também existem cinco Projetos de Assentamento (PA), que são unidades agrícolas instaladas pelo Incra em um imóvel rural.
A APA Bico do Papagaio é três vezes maior, com 96.724,92 hectares e sua ocupação se estende pelos estados do Pará, Tocantins e Maranhão. Ela inclui os municípios de Bom Jesus do Tocantins, São João do Araguaia, Marabá, Esperantina, São Sebastião do Tocantins, Buriti do Tocantins, São Pedro da Água Branca e Vila Nova dos Martírios. Essa região ostenta 248 lagos e reúne 22 PAs.
Criar as áreas de preservação em regiões antropizadas não é um problema, contudo, pode ser desafiador uma vez que, por conta disso, as APAs devem ser unidades de uso sustentável. Não há intenção de retirar desses territórios as pessoas que já moram neles.
Além de tudo isso, o Paleocanal do Rio Tocantins possui uma imensurável importância geológica, biológica e arqueológica que ainda precisa ser catalogada.
SILÊNCIO
Procurado pela Reportagem do CORREIO DE CARAJÁS, o chefe do ICMBio na região, André Macêdo, manteve-se em silêncio sobre o posicionamento de Helder Barbalho e Toni Cunha e, segundo pessoas próximas, a manifestação deverá ocorrer por meio de nota do governo federal.