Correio de Carajás

Atriz admite que foi dela a ideia de marcar integrantes de seita sexual

Allison Mack admitiu que marcar suas “escravas sexuais” com o símbolo da Nxivm foi ideia dela, em uma entrevista que ela deu meses antes de ser presa por suspeita de tráfico sexual. A declaração da atriz de ‘Smallville’ foi divulgada na quarta-feira em uma reportagem do New York Times, que também inclui comentários do líder do culto, Keith Raniere.

As entrevistas aconteceram no começo do ano, antes que os dois fossem presos, mas durante a investigação do FBI sobre o suposto tratamento das “escravas” – mulheres que se juntaram ao “culto” depois de serem recrutadas por Mack ou por outras mulheres, supostamente com o propósito de fazer sexo com Raniere como uma forma de melhorarem a si mesmas.

Como parte de sua pesquisa, a repórter do New York Times, Vanessa Grigoriadis, visitou Mack em seu apartamento no Brooklyn, onde a atriz disse a ela com franqueza: “Eu estava tipo: ‘vocês querem tatuagens?’ As pessoas ficam bêbadas e se tatuam ‘BFF’ no tornozelo, ou um selo de vagabunda. Eu tenho duas tatuagens e elas não significam nada”. Ela estava se referindo às marcas na pele dadas às mulheres “escravas” depois que elas se juntam ao culto, o que muitos dizem incluir as letras KR, as iniciais do líder do culto.

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Keith Raniere e Allison Mack (Foto: Getty Images/Reprodução YouTube)

Em seu artigo, Grigoriadis disse que a admissão de Mack “a surpreendeu”. Durante a entrevista, Allison Mack também revelou que se juntou ao grupo porque estava frustrada com sua carreira de atriz. Aos 35 anos, ela está atualmente em prisão domiciliar na casa de seus pais na Califórnia. Ela foi presa em abril. Mack só tem permissão para viajar para as audiências em Nova York e, como foi revelado na quarta-feira, ela deve usar um monitor no tornozelo durante os vôos para garantir que ela não tente fugir.

A atriz é acusada de recrutar mulheres para fazer sexo com Raniere. Entre as alegações é que ela enviaria “garantias” fornecidas pelas mulheres para provar sua lealdade ao grupo a Raniere. Os promotores alegam que Mack e outros “senhores” privaram as mulheres de alimentos porque, segundo eles, Raniere tem uma preferência sexual por mulheres magras. Outra alegação é de que em uma mulher teria sido levada por ele para o que ela achava ser um barracão e ela ficou vendada e amarrada a uma mesa onde, alegaram os promotores, outra pessoa fazia sexo oral nela. Não está claro se tudo ocorria realmente em Clifton Park, o QG da organização perto de Albany, Nova York, onde Raniere supostamente mantinha um covil sexual e Mack teria abrigado as “escravas”.

Raniere negou veementemente as alegações de que qualquer interação sexual não fosse consensual. Ele prometeu lutar contra todas as acusações contra ele, as quais, se ele for condenado, o colocarão na prisão por toda a vida. Allison Mack tem sido menos vocal em relação à situação. Como condição de sua fiança de US$ 5 milhões, Mack concordou em cortar todos os laços com Raniere. Em sua entrevista, ela explicou a hierarquia da organização e deu uma explicação alternativa para a alegação de deixar as escravas com fome.

“A mulher que te convidou para o grupo é a sua mestre ou a representação da sua consciência, o seu eu superior, o seu eu ideal. Os mestres ajudavam as escravas a contar calorias para salvá-las da armadilha do ‘comer emocional’. Eles ditavam um ato de autonegação e obrigavam as mulheres a tomar banho frio, ou as acordavam às 4 da manhã para ficarem paradas. As escravas eram instruídas a cuidar dos mestres e trazer café ou se abster de orgasmos”, escreveu Grigoriadis, citando a atriz.

A atriz Allison Mack, na companhia de seu advogado, deixa o tribunal em Nova York no qual seu caso está sendo julgado (Foto: Getty Images)

Mack disse que sua participação no culto a ajudou a “encontrar sua essência”. “Eu encontrei minha essência, eu apenas continuava solidificando minha essência toda vez que eu fazia algo difícil. O culto era sobre as mulheres se unindo e comprometendo-se mutuamente com algo em tempo integral para se tornarem mais poderosas, destruindo nossos maiores medos, expondo nossas maiores vulnerabilidades, sabendo que ficaríamos umas com os outros, não importa o que, segurando ou exprimindo, vencendo a dor”, disse ela.

Ela ainda não revelou se vai se declarar culpada ou não das acusações contra ela. Raniere concordou em ser entrevistado, mas somente depois de ser “apresentado” pelas mulheres do culto. Raniere alegou que se tornou o único cuidador de sua mãe com câncer, aos 8 anos, quando seus pais se divorciaram e revelou que ela morreu quando ele tinha 18 anos. Antes do culto chamado Nxivm, ele estava no comando de um serviço de assinatura de supermercado para descontos que foi encerrado em 1997 em meio a acusações de ser um esquema de pirâmide. Ele negou essas alegações.

Explicando sua atração pelo culto, que ele via como um “esquema” para as mulheres se tornarem independentes e se fortalecerem, ele disse: “Eu sou como um nerd que leu demais, só que eu pensei demais”. Ao longo de sua entrevista, ele começou a chorar várias vezes e disse: “É um ponto importante na vida para mim. Eu questiono meus valores, como eu me conduzo, todas essas coisas. Eu não acho que sou visto como a pessoa que acho que sou”.

Outros entrevistados para o artigo publicado na quarta-feira incluem India Oxenberg, a filha da estrela de ‘Dynasty’, Catherine Oxygen, que fez numerosos apelos públicos para que ela voltasse para casa e deixasse o grupo que ela acredita ter feito uma “lavagem cerebral” em sua filha. Clare e Sara Bronfman, filhas do bilionário filantropo Edgar Bronfman Sr, também foram entrevistadas.

Allison Mack e Tom Welling em Smallville: As Aventuras do Superboy (Foto: Getty Images)

(Monet)