O Dia do Orgulho LGBTQIAPN+, comemorado nesta sexta-feira, 28, revela as profundas fissuras que persistem na inclusão e proteção da comunidade. Marabá ainda enfrenta uma batalha árdua contra políticas públicas ineficazes, segurança precária e acesso limitado a cuidados de saúde adequados para mulheres lésbicas e pessoas trans. À medida que a cidade se engaja na celebração do orgulho, o chamado por uma mudança substantiva repercute com urgência: a inclusão não pode mais ser uma promessa vazia, mas sim um compromisso essencial para o futuro justo e igualitário de Marabá.
A recente fundação da ONG Viver LGBT em Marabá, sob a presidência da jornalista Tay Marquioro, representa um marco importante. A organização não apenas visa preencher lacunas de representação, mas também promover um diálogo inclusivo e participativo. “Para nós, é essencial não apenas existir, mas também sermos visíveis e influenciar as decisões que afetam diretamente nossas vidas”, enfatiza.
Segundo ela, esse modelo de liderança plural e transparente reflete um movimento em evolução, agora com maior protagonismo de mulheres lésbicas e pessoas trans, desafiando as normas estabelecidas no ativismo LGBTQIAPN+ local.
Leia mais:No entanto, apesar desses avanços, Marabá continua enfrentando sérios obstáculos. A ineficácia das políticas públicas destinadas à comunidade LGBT é uma realidade amarga. O arquivamento do Conselho Municipal da Diversidade Sexual é um exemplo flagrante dessa negligência institucional. Tay critica a tendência de relegar questões LGBTQIAPN+ a debates enviesados por considerações religiosas, enquanto as necessidades urgentes de políticas inclusivas são sistematicamente ignoradas.
Tay Marquioro é jornalista por formação, mas a ativista LGBT e de direitos humanos em Marabá há 7 anos, integrante do Coletivo Empodere-se de lésbicas e mulheres bissexuais de Marabá e presidente da ONG viver LGBT de Marabá
A segurança da população LGBTQIAPN+ em Marabá é uma preocupação constante, segundo ela. A falta de registros oficiais de crimes motivados por homofobia sublinha uma alarmante subnotificação, revelando não apenas uma falha burocrática, mas uma falta de suporte e proteção institucional. Tay conta que essa ausência de dados reflete uma realidade onde a vulnerabilidade da comunidade é exacerbada pela invisibilidade estatística e pela falta de ação governamental eficaz.
A saúde pública também falha em atender as necessidades específicas da comunidade LGBT em Marabá. “Mulheres lésbicas e pessoas trans frequentemente enfrentam discriminação nos serviços de saúde, encontrando barreiras significativas no acesso a cuidados médicos adequados e sensíveis às suas realidades”, aponta. Esta marginalização dentro do sistema de saúde pública não apenas negligencia suas necessidades médicas básicas, mas também perpetua ciclos de desigualdade e exclusão.
À medida que Marabá se prepara para celebrar o Dia do Orgulho LGBTQIA+, o apelo de Tay é claro e incisivo: é hora de uma mudança substancial na abordagem governamental e social para com a comunidade LGBT. Uma abordagem que não apenas reconheça sua existência, mas que também se comprometa genuinamente com sua inclusão plena na vida pública e privada da cidade.
A inclusão não deve ser vista como um ideal distante, mas como um imperativo moral e social para o avanço de Marabá como uma comunidade justa e diversa.
Em um estado como o Pará, onde a LGBTfobia ainda é prevalente e mal documentada, a responsabilidade de implementar políticas inclusivas e de proteção é urgente e inadiável. Somente por meio de um compromisso sério com a igualdade e a justiça social, Marabá poderá verdadeiramente afirmar seu orgulho na diversidade de seus cidadãos, assegurando que todos vivam com dignidade, respeito e segurança. (Thays Araujo)