Correio de Carajás

Associação de vítimas da Boate Kiss discorda de processo e se diz representada em série da Netflix

"Estávamos cientes e nos sentimos representados", afirmou comunicado; grupo de famílias contratou advogada para processar plataforma de streaming por produção de “Todo Dia a Mesma Noite"

Cenas da série Todo Dia a Mesma Noite, sobre a tragédia da Boate Kiss. Guilherme Leporace/Netflix

A Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) afirmou que não concorda com o grupo de familiares de vítimas do incêndio na Boate Kiss que pretende processar a Netflix pela série “Todo Dia a Mesma Noite”.

Neste domingo (29), a advogada Juliane Muller Korbm relatou à CNN que um grupo de cerca de 40 famílias a contratou para representá-las em caso contra a plataforma de streaming por conta do que chamam de “exploração comercial da tragédia”.

Em comunicado divulgado pelo Instagram, o presidente da AVTSM, Gabriel Rovadoschi Barros, esclareceu que a associação estava ciente da produção e “sente-se representada” tanto pela série quanto pelo livro homônimo que a serviu de base, da jornalista Daniela Arbex.

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“A produção não retrata de forma individual os 242 jovens assassinados, mas sim um recorte das quatro famílias de pais que foram processados. Todos familiares de vítimas e sobreviventes retratados por personagens da obra estavam cientes e em concordância”, afirma a nota.

A AVTSM informou que não está movendo nenhum processo contra as produções e nem existe tal pretensão, “por acreditarmos na potência das produções na luta por justiça e a luta por memória”.

Acreditamos, acima de tudo, que tragédias como a que vivenciamos precisam ser contadas através de todas as formas. Recontar essa história significa denunciar as inúmeras negligências e tentativas de silenciamento que encontramos pelo caminho, além de auxiliar na prevenção para que esse tipo de tragédia não aconteça com mais nenhuma família, algo que temos como propósito desde o 1º dia de nossa fundação. Mostrar o que aconteceu na Kiss faz com que a morte de nossos filhos e filhas, irmãos e irmãs, pais e mães, amigos e amigas não tenha sido em vão. Mostrar a morosidade, a burocracia e como é o sistema judiciário brasileiro serve como denúncia e como protesto. É preciso falar, debate, produzir materiais sobre o que aconteceu naquela trágica noite de 27 de janeiro de 2013, pois só assim conseguiremos que as pessoas entendam o que a ganância, a negligência e a omissão são capazes de fazer. Em Santa Maria, esses fatores mataram 242 jovens e deixaram 636 com marcas físicas e psicológicas.

Gabriel Rovadoschi Barros, presidente da AVTSM

O presidente da associação ainda esclareceu que não há nenhum repasse financeiro da Netflix à AVTSM por conta da produção: “O que ganhamos é a crença no fortalecimento na luta por justiça e pela memória. Para que não se repita.”

CNN procurou a assessoria da Netflix para comentar o caso, mas não houve retorno.

A AVTSM informou que não está movendo nenhum processo contra as produções e nem existe tal pretensão, “por acreditarmos na potência das produções na luta por justiça e a luta por memória”.

 

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(Fonte: Léo Lopes/CNN Brasil)