Caso a baiana Ivete Sangalo fosse de Parauapebas, talvez uma de suas mais famosas composições poderia ser: “Quando a chuva passar / quando o tempo abrir / abra a janela e veja… não tem asfalto”.
Bastou mais um inverno amazônico para que buracos e mais buracos aparecessem nas vias da Capital do Minério aparecessem, revoltando os moradores de um dos municípios mais ricos do país.
Em registro feito nos bairros Tropical I e II, nesta quinta-feira (3), foram identificados vários furos deste grande queijo suíço que é Parauapebas chuvoso. Um dos bairros mais atingidos pelo descaso da gestão Darci Lermen, o Tropical, já pode até ser renomeado para Sonrisal, em alusão à péssima qualidade do asfalto no local.
Leia mais:No Tropical II, José Vitorino Barbosa, de 77 anos, diz que os reparos feitos pela Prefeitura de Parauapebas perto de sua casa, na esquina entre as Avenidas B e C, duram seis meses. “É uma vergonha, nem a van que tem esse ‘treco’ no roteiro passa mais por aqui”, diz o idoso, que está no Tropical desde a fundação do bairro, há nove anos.
Já na esquina da Rua A30 com a Avenida C, o entregador Alex Sousa Santos vê seu trabalho sendo constantemente prejudicado pela qualidade questionável das vias. “Quem é entregador, como eu, já pegou muito prejuízo por conta desses buracos; quebra minha moto, quebra o material transportado… Dia de chuva não dá nem pra passar aqui”, diz Alex, que usa uma caçamba triciclo para o transporte, ainda mais suscetível a danos estruturais.
Dalva Barros, de 61 anos, foi categórica ao qualificar as Avenidas B e C, duas das principais vias do bairro: “estamos sendo desprezados; as linhas de van que passam pelas avenidas estão interditadas. O trabalhador tem que acordar mais cedo pra correr pra outro ponto porque elas não passam onde deveriam”.
Ela ainda adiciona que moradores “entopem” os buracos na via com o que podem para tentar mitigar as falhas nas avenidas, e que a administração pública coloca “bloquetes” com essa mesma intenção – “mas só pra dizer que fizeram alguma coisa”, disse Dalva, indignada com a falta de cuidado da Prefeitura de Parauapebas com o bairro.
A dona de casa Maria Martim, de 72 anos, diz já ter presenciado muitas situações de risco na Avenida C: “É um acidente atrás do outro. Os moradores só faltam morrer, só não morrem porque freiam em cima do buraco”, diz a idosa. Ela diz que a lama que invade as calçadas ainda deixa o local perigoso para pessoas como ela, que sofrem o risco de cair no chão ao escorregar na sujeira que fica por ali, e que a via também é um ponto sensível em questão de segurança.
Um morador gravou um vídeo na Avenida B que circulou as redes sociais. Na gravação, diz que o trecho passou por reparo há menos de 60 dias, mas é como se nunca tivesse sido arrumado. “Já tá esse bagaço aqui, acho que não deu nem isso, uns 30 dias”, disse, questionando ainda a cassação do vereador Aurélio Goiano, único que fazia oposição ao governo atual na Câmara de Parauapebas.
O Correio de Carajás encaminhou pedido de posicionamento à assessoria de comunicação da Prefeitura de Parauapebas, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem. (Luciana Marschall com informações de Ronaldo Modesto)